1914-2014 | CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
Sérgio Vilarigues
Destacado dirigente do
Partido Comunista Português
Resistente antifascista
- Sérigo Vilarigues | Centenário do Nascismento (1914-2014)
- Dados Biográficos
- Preso
254 - Arbitrariedade fascista
- Promessa cumprida
- Da resistência à Revolução
- «Avante!» Clandestino
- 1945 – O PCP reclama
- Até sempre camarada
- "Aquilo que sou devo-o ao Partido"
- Eles caminham ao nosso lado
Iniciativa de Comemoração
3 Dez.
Casa do Alentejo, Lisboa
Alguns dados biográficos
Nasce a 23 de Dezembro em Torredeita, Concelho de Viseu.
Marçano aos 12 anos e mais tarde operário salsicheiro. Liga-se ao Sindicato dos Trabalhadores em Carnes Verdes.
Com 18 anos adere à Federação da Juventudes Comunistas Portuguesas. Faz parte do Socorro Vermelho em 1933/1934.
Participa na jornada do 18 de Janeiro contra a fascização dos sindicatos.
É preso em Setembro desse ano. Passou por várias esquadras da polícia, seguindo-se Aljube, Peniche, Angra do Heroísmo e Tarrafal.
Quando se encontrava preso em Peniche, adere ao PCP.
Em Outubro quando se encontrava na cadeia de Angra do Heroísmo é deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal.
Libertado em Julho, integra o núcleo de 8 camaradas que no verão desse ano dão início à reorganização do Partido.
Torna-se funcionário do Partido, passando à clandestinidade, situação em que se encontrava em 25 de Abril de 1974.
Foi o último dirigente do Partido a regressar à legalidade.
Integrou o Comité dirigente das grandes greves de 8 e 9 Maio.
Foi responsável pelo «Avante!», por várias vezes no total de 16 anos.
Foi membro do Comité Central do PCP.
Integrou continuadamente o Secretariado do Comité Central.
Integrou simultaneamente a Comissão Executiva e o Secretariado do Comité Central.
Foi membro da Comissão Política entre 1974 e 1988.
Foi membro da Comissão Central de Controlo de 1988 a 1996.
Faleceu a 8 de Fevereiro.
Sérgio Vilarigues em comício do PCP, Março de 1976
O Preso 254
Dois anos depois de ter ingressado na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, Sérgio Vilarigues foi preso com outros jovens na noite de 23 de Setembro de 1934, junto à Rocha de Conde de Óbidos, quando realizavam uma acção de colagem de propaganda clandestina, a reclamar a libertação de um jovem condenado a vários anos de prisão. A PVDE fichou-o com o nº 254.
Retrato Robot
No conjunto do vasto e diversificado arsenal de medidas usadas pela PIDE com vista à localização e prisão de quadros clandestinos, contava-se a distribuição pelos seus agentes, bufos, legionários, forças policiais, e também autoridades administrativas locais, de fotografias dos clandestinos tiradas quando presos ou antes, o que obrigava os quadros clandestinos a recorrer ao disfarce das características fisionómicas.
Contrariamente ao que acontecia com a generalidade dos dirigentes do PCP a viverem na clandestinidade, a PIDE apenas dispunha de uma fotografia de Sérgio Vilarigues, com a idade de 20 anos, tirada em 1934 quando da sua primeira e única prisão, pelo que recorreu à produção deste «retrato robot» com vista à sua localização.
A Prisão
O Disfarce
A arbitrariedade fascista
A Poterna
Saber Mais
A polícia política e o sistema de justiça fascista aplicado aos casos políticos, eram uma e a mesma coisa. A PIDE prendia, elaborava os processos, redigia as sentenças – o relatório – e tinha igualmente o poder de decisão quanto à libertação dos presos, podendo mantê-los na cadeia durante longos anos já com penas terminadas ou mesmo sem terem sido julgados. Casos houve de presos que morreram nas cadeias sem nunca terem sido julgados.
Sérgio Vilarigues preso em Setembro de 1934 foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 20 de Março de 1935, tendo sido condenados a 23 meses de prisão correccional. Depois de ter sido enviado para o Forte de Peniche, é deportado para a cadeia do Forte de São João Baptista em Angra do Heroísmo – Açores – onde passou 16 meses e onde foi sujeito a vários castigos incluindo o envio para a Poterna. Em 29 de Outubro de 1936, quando já tinha terminado a pena, Sérgio Vilarigues, na altura com 22 anos, constituiu com outros 151 antifascistas a primeira leva de presos enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou 4 anos, e foi sujeito a violentos castigos incluindo o envio para a “frigideira”.
Uma das originalidades da justiça fascista reside no facto, de Sérgio Vilarigues bem como outros presos em 1940, terem sido amnistiados quando já tinha cumprido a pena há mais de 4 anos.
foi sujeito a violentos castigos incluindo o envio para a “frigideira”
Homenagem do povo, na transladação dos tarrafalistas mortos no campo do Tarrafal, Lisboa 18 Fevereiro 1978
Promessa cumprida
O Campo de Concentração do Tarrafal foi concebido e organizado para arruinar a saúde dos presos e a sua liquidação física. No Tarrafal os presos eram sujeitos a um regime prisional brutal e arbitrário: péssima alimentação, ausência de cuidados de saúde, castigos constantes e prolongados, trabalhos forçados, privação de jornais e isolamento completo das famílias. O tempo de prisão dos 340 presos enviados para o Tarrafal, no seu conjunto atingiram mais de dois mil anos de cadeia. Lá foram assassinados e enterrados no Cemitério do Campo, 32 antifascistas, entre eles o Secretário-Geral do PCP, Bento Gonçalves.
Só depois do 25 de Abril com a conquista da liberdade em Portugal e a Independência de Cabo Verde, foi possível organizar a transladação dos restos mortais dos 32 antifascistas, para solo português, cumprindo-se a promessa feita pelos tarrafalistas junto dos camaradas cujas mortes se iam sucedendo, de que os que vivessem na altura do derrubamento do fascismo, tudo fariam para que os restos mortais dos seus companheiros fossem sepultados em Portugal.
No dia 28 de Fevereiro de 1978 – dia do funeral da transladação para o Mausoléu expressamente construído para os mártires do Tarrafal no Cemitério do Alto de São João – o povo português, numa das mais impressionantes manifestações realizadas depois do 25 de Abril, prestou a justa homenagem aos mártires do Tarrafal.
O Tarrafal
Da resistência
à Revolução
Como militante e destacado dirigente do Partido, ao qual durante mais de 70 anos dedicou o melhor da sua vida, Sérgio Vilarigues foi um revolucionário comunista empenhado e confiante na luta contra o fascismo, pela liberdade, a construção de um Portugal democrático, pelo Socialismo e pelo Comunismo. A prisão, a deportação, a clandestinidade, os sacrifícios e privações que a entrega à luta revolucionária lhe acarretaram não abalaram as suas convicções no papel do Partido e na justeza e triunfo da causa que abraçou.
Regressado do Campo de Concentração do Tarrafal (Julho de 1940) de imediato retoma a actividade partidária e a luta contra o fascismo. Integra o grupo de 8 camaradas – tal como ele regressados do Tarrafal ou saídos das cadeias em Portugal – que no verão daquele ano iniciaram a reorganização do Partido, que nos seus desenvolvimentos iriam transformar o PCP num grande Partido nacional, vanguarda da luta dos trabalhadores e da resistência antifascista e grande obreiro da Revolução de Abril.
Em 1942 torna-se funcionário do PCP situação em que se encontra em Abril de 1974. Sérgio Vilarigues foi o militante comunista que mais tempo seguido viveu na clandestinidade – 32 anos dos quais 27 no interior do país sem ser preso.
Em 1943, no III Congresso, ingressa no Comité Central ao qual vai pertencer – sempre em actividade continuada – durante 53 anos. Integra durante longos anos todos os organismos executivos do Comité Central.
Sérgio Vilarigues, quando foi libertado do Tarrafal em 1940
foi o militante comunista que mais tempo seguido viveu na clandestinidade
Cadeia de Peniche, 1935, grupo de presos, Sérgio Vilarigues é o terceiro a contar da esquerda, atrás junto à parede
Cadeia de Peniche, 1935, grupo de presos com Sérgio Vilarigues deitado à frente no chão lado direito
Encontro do núcleo de comunistas da reorganização do PCP, nos anos 40, em que Sérgio Vilarigues participou, vendo-se na foto, Álvaro Cunhal e António Dias Lourenço
A realização em Novembro de 1943 do III Congresso do PCP, realizado na mais rigorosa clandestinidade a que o Partido estava sujeito no seguimento do golpe fascista de 1926, foi a primeira grande vitória política e organizativa do resultado da reorganização de 1940/41.
O III Congresso ocupa um lugar particular no conjunto dos congressos do PCP. As suas decisões e orientações essenciais, depois aprofundadas no IV Congresso (1946) marcaram decisivamente as características fundamentais do PCP como o conhecemos hoje: um partido profundamente ligado às massas, fiel aos princípios de emancipação da classe operária, à luta pela soberania e independência nacional, pelo socialismo.
Foi no III Congresso, no qual interveio sobre a juventude sob o lema «Pela Liberdade e pela Democracia, pela Salvação da Jovem Geração da Miséria Económica e Cultural”, que Sérgio Vilarigues («Amílcar») foi eleito pela primeira vez para o Comité Central, ao qual pertenceu durante 53 anos.
Chamado ao Secretariado em 1949 – organismo que vai ter a tarefa de defender o Partido e de fazer frente à ofensiva policial contra o PCP que resulta do golpe do Luso com a prisão de Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira – Sérgio Vilarigues foi o dirigente do Partido que durante mais tempo seguido – 39 anos, integrou o Secretariado do Comité Central.
O camarada «Amílcar»
Sérgio Vilarigues usou durante os longos 32 anos de clandestinidade vários pseudónimos – Jorge, Guilherme, Victor – nos contactos com as diferentes organizações pelas quais foi responsável. Mas foi com o pseudónimo de «Amílcar» que exerceu as suas funções como membro da Direcção do Partido até ao 25 de Abril, pseudónimo que se tornou lendário pela longa clandestinidade sem cair nas garras da PIDE.
Casa clandestina onde viveu, em 1953/1954, Sérgio Vilarigues, na Travessa D. Vasco, 2 - 3º Esq, Ajuda, Lisboa
Obra de Rogério Ribeiro sobre a actividade clandestina do Partido, para o livro «Até Amanhã Camarada» de Manuel Tiago
Casa clandestina onde viveu entre 1956/1958, Sérgio Vilarigues, na Rua Joaquim Moreira Rato, 31-A, Paço de Arcos
Casa “Vila Arriaga” no Monte Estoril, onde se realizou o III Congresso (ilegal) do PCP, 1943
Delegação do PCP em Moscovo, junto ao Mausoléu de Lenine, Álvaro Cunhal, Sérgio Vilarigues, Blanqui Teixeira e António Dias Lourenço, início década de 60
Documento de indentificação falso, de Sérgio Vilarigues na clandestinidade, com identidade e origem do mesmo no Brasil
VII Congresso (Extraordinário) do PCP em Outubro 1974, Sérgio Vilarigues na mesa da presidência à direita da foto
Sérgio Vilarigues na abertura da Festa do «Avante!» no Alto da Ajuda em Lisboa, com Álvaro Cunhal, Octávio Pato e Jaime Serra entre outros
Inauguração em Berlin, na RDA da exposição dos 60 anos do PCP, em 1981 com dirigente do PSUA discursando com a presença de delegação do PCP
Delegação do PCP com Sérgio Vilarigues, Álvaro Cunhal, Carlos Aboim Inglez, numa Conferência Internacional dos Partidos Comunistas e Operários da Europa
Comício de Solidariedade do PCP com os povos da América Latina no Campo Pequeno em Lisboa, 15 Maio 1976. Samuel Riquelin do PC Chile, Sérgio Vilarigues, Luís Carlos Prestes do PC Brasileiro, Álvaro Cunhal e Rodney Arismendi do PC Uruguai
Sérgio Vilarigues com o Ministro sem pasta, Álvaro Cunhal e Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, na recepção a uma delegação governamental da Hungria, chefiada por Gierek, aeroporto de Lisboa, 1975
Encontro do PCP com Vice-Primeiro Ministro Cubano, na sede do PCP em Lisboa, Maio 1975
Sérgio Vilarigues discursando em Congresso do MPLA, Angola
Sérgio Vilarigues com Albano Nunes, num encontro em Lisboa com delegação da FDL da Palestina, Novembro 1979
Sérgio Vilarigues a discursar em comício do PCP no Alentejo, 1975
A actividade de Sérgio Vilarigues como militante e dirigente do Partido está indissociavelmente ligado à construção e defesa do aparelho clandestino do Partido e à intervenção política do PCP na luta contra o fascismo e na construção do Portugal democrático. Foi responsável por quase todas as organizações regionais do Partido, do Norte ao Sul do país, pela publicação do «Avante!». Esteve ligado a importantes lutas de massas, tendo pertencido ao Comité Dirigente, das grandes greves de 8 e 9 de Maio de 1944. Derrubado o fascismo, objectivo que com milhares de outros comunistas prosseguiu incansavelmente, interveio nas batalhas políticas travadas pelo PCP no decurso da Revolução de Abril. Embora já antes do 25 de Abril Sérgio Vilarigues tivesse desempenhado importantes tarefas na área internacional, no período crucial da Revolução, quando se intensificaram as relações do PCP com Partidos Comunistas e outras forças progressistas e anti-imperialistas, Sérgio Vilarigues assume no Secretariado a responsabilidade pelas relações internacionais e pela secção Internacional do PCP, tendo participado em vários Encontros, Congressos e outras iniciativas em representação do Partido. Assistiu à Proclamação da Independência de Angola em representação do PCP, a única força política portuguesa presente nesse acontecimento histórico. Sérgio Vilarigues foi um militante comunista do qual se pode dizer justamente, ter sido um dos construtores do Partido.
Assistiu à Proclamação da Independência de Angola em representação do PCP, a única força política portuguesa presente nesse acontecimento histórico
Gravura «Tipografia clandestina» de José Dias Coelho
Organizador e responsável pelo «Avante!» Clandestino
O nome e acção de Sérgio Vilarigues (...) ficaram ligados indissoluvelmente à grande vitória política e organizativa do PCP que é a publicação do «Avante!» Clandestino.
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O «Avante!», órgão central do PCP, publicado clandestinamente desde 1931, e regularmente e sem interrupções desde 1941 até 1974, sempre impresso no interior do país por meios próprios do Partido, tornou-se caso único no mundo. A criação de um aparelho de propaganda, e em particular a publicação de o «Avante!», que assegurasse a intervenção político-ideológica do PCP sujeito à mais rigorosa clandestinidade foi um dos principais objectivos defendidos por Bento Gonçalves para a reorganização do Partido de 1929, objectivo alcançado num muito curto espaço de tempo, constituindo uma grande vitória do PCP e uma derrota do aparelho repressivo do fascismo que não dedicou poucos esforços e meios para impedir a publicação de o «Avante!» e outros materiais clandestinos.
O «Avante!» desempenhou papel de grande relevo no desenvolvimento da organização partidária, como elo de coesão das organizações espalhadas pelo país, na organização de lutas dos trabalhadores e das massas populares, como meio de formação ideológica e de informação política.
«Avante!» clandestino
Sem a dedicação e a abnegação de milhares de militantes – «correspondentes», redactores, tipógrafos, distribuidores – e a estabilidade da organização clandestina não teria sido possível publicar regularmente o «Avante!».
O nome e acção de Sérgio Vilarigues, que por vários períodos, somando 16 anos, foi responsável pelo «Avante!», ficaram ligados indissoluvelmente à grande vitória política e organizativa do PCP que é a publicação do «Avante!» Clandestino.