Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Funeral de Ruben de Carvalho

Ruben de Carvalho honrou, pela sua intervenção e entrega à luta, as melhores tradições da classe operária, dos trabalhadores e do povo português

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Aqui estamos para prestar a justa e devida homenagem ao camarada Ruben de Carvalho. Para a sua família e, em particular, para a camarada Madalena Santos, sua companheira de vida e de luta, a mais sentida palavra de pesar, as mais profundas condolências do PCP, mas também a este imenso colectivo de camaradas e amigos, muitos dos quais sem filiação partidária ou com outras opções político-partidárias, cidadãos e entidades particularmente das áreas da política, da cultura, do jornalismo, da música e dos espectáculos, que o Ruben habituou à sua singular presença, numa vida preenchida a intervir e a lutar, com o seu Partido, o Partido Comunista Português.

Aqui viemos hoje não para nos despedirmos de um camarada, mas para afirmar que, embora partindo do convívio com os seus camaradas, os seus amigos e com a sua família, o Ruben estará presente em todos e em cada um dos muitos momentos que nos reunirão para continuar os combates e a luta a que ele dedicou a vida.

Deixou de estar connosco um homem da cultura, um combatente antifascista, um construtor de Abril, do Avante! e da Festa do Avante!, um comunista. Mas o seu percurso de vida, de militante e dirigente do PCP perdurará para prosseguirmos a luta que Ruben de Carvalho abraçou pela emancipação dos trabalhadores e do povo português.

Intelectual comunista, assumiu uma intervenção destacada na actividade do Partido, tendo desempenhado importantes tarefas, cargos e responsabilidades. Ruben de Carvalho teve uma vida de intervenção no movimento estudantil e de luta na resistência antifascista, abraçou com intensidade a Revolução de Abril e defendeu os seus valores e conquistas. Deixou à sociedade portuguesa um contributo de grande relevo no conhecimento da música, na sua dimensão artística, cultural e social, no plano nacional e internacional, das suas raízes populares à sua dimensão erudita.

Ruben de Carvalho nasceu em Lisboa, em 21 Julho de 1944. Aderiu ao Partido Comunista Português em 1970. Foi funcionário do Partido entre 1974 e 1997. Era membro do Comité Central desde 1979. Foi membro da Comissão Executiva Nacional e do Conselho Nacional. Foi Chefe de Redacção do Avante!, órgão central do PCP, entre 1974 e 1995. Era membro do Executivo da Comissão Nacional da Festa do Avante! desde a primeira edição, em 1976, tendo assumido uma intervenção destacada na sua programação cultural, em particular na concepção e organização dos seus espectáculos musicais.

Desde muito jovem teve intervenção activa na luta antifascista. Enquanto estudante teve uma dedicada intervenção no movimento associativo dos liceus e também do ensino superior. Esta activa intervenção no movimento estudantil levou a perseguições constantes, por parte da polícia do regime fascista – PIDE – e às prisões fascistas de Caxias e do Aljube. Foi preso diversas vezes, a última das quais em 7 de Abril de 1974.

Ruben de Carvalho foi membro das «comissões juvenis de apoio» à candidatura do General Humberto Delgado . Foi activista da Oposição Democrática tendo em 1973 integrado a Comissão Central da CDE (Comissão Democrática Eleitoral). Após o 25 de Abril de 1974, foi da Direcção Nacional do Movimento Democrático Português – Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE), e chefe de gabinete do Ministro Sem Pasta, Prof. Francisco Pereira de Moura, no I Governo Provisório.

Foi repórter, redactor, coordenador, editor-paginador, chefe de redacção em diversos órgãos da comunicação social. Teve colaborações em numerosas publicações. Foi produtor, realizador e comentador de diversos programas na rádio e na televisão. Foi membro do Conselho de Opinião da RTP em 2002. Produzia, desde 2009, o programa «Cronicas da Idade Mídia» e participava no programa «Os Radicais Livres» na Antena1.

Assumiu diversas responsabilidades na área da cultura, nas Festas de Lisboa e na LISBOA 94 - Capital Europeia da Cultura era membro do Conselho Directivo do Centro Cultural de Belém. Foi autor de diversas obras e de prefácios, particularmente nos domínios da política e da música. De igual modo, produziu diversos discos e espectáculos.

Foi deputado do PCP na Assembleia da República, eleito pelo círculo de Setúbal, nas eleições de 1995, vereador da Câmara Municipal de Setúbal, eleito pela CDU, em Dezembro de 1997 e vereador na Câmara Municipal de Lisboa, eleito pela CDU, entre 2005 e 2013. Foi membro da Comissão Executiva das comemorações do 25.º Aniversário do 25 de Abril nomeado pelo Presidente da República.

Ruben de Carvalho honrou, pelo seu exemplo, e dedicação, pelo seu espírito de militância e capacidade político-cultural, pela sua intervenção e entrega à luta, as melhores tradições da classe operária, dos trabalhadores e do povo português. Uma opção que assumiu para a sua vida e que ganha redobrada importância em tempos difíceis como os que vivemos, em que o capitalismo, confrontado com o aprofundamento da sua crise estrutural, revela com mais crueza a sua verdadeira natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora.

Não estamos aqui para dizer «adeus» ao Ruben mas um «até sempre, camarada», porque bem sabemos que a melhor forma de honrar a sua memória é prosseguir a luta pelas causas a que dedicou a vida, pela liberdade, a democracia, o socialismo e o comunismo; prosseguir a luta que hoje travamos pela ruptura com a política de direita, por uma política alternativa patriótica e de esquerda com soluções para o País, uma política inspirada nos valores de Abril.

Uma luta que foi decisiva para garantir a defesa, reposição e conquista de direitos dos últimos três anos e meio e é agora de novo decisiva para fazer Portugal avançar e não andar para trás. Uma luta que implica o alargamento da unidade e convergência dos democratas e patriotas empenhados na construção de um Portugal com futuro, um Portugal desenvolvido e soberano, de justiça e progresso social.

Uma luta que implica o fortalecimento do partido Comunista Português enfrentando campanhas como fez ao longo dos seus 98 anos, reafirmando a sua identidade comunista como partido necessário, indispensável e insubstituível aos trabalhadores e ao povo português.

Com a profunda convicção de que a sua morte não apagará um percurso de vida marcado pela dedicação à luta que travou, com o seu Partido de sempre, continuaremos a intervir e a lutar pelos valores de Abril, pelo ideal e o projecto comunista, de que a Festa do Avante!, de que foi destacado construtor, continuará a ser sublime e elevada expressão.

Até sempre, camarada Ruben!

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