Não será com um golpe de mágica ou uma operação de propaganda que a degradação sob vários aspectos da situação nos Anjos e Intendente se irá resolver. A degradação vem de longe. Nem o anterior executivo nem Santana Lopes conseguiram inverter o processo. Decisões limitadas ainda por cima embrulhadas em “rupturas” com executivos anteriores podem fingir que algo de substancial se está a passar para depois deixar ficar o sabor amargo de promessas que não se cumprem após entradas de leão como a do Parque Mayer.Em primeiro lugar importa reconhecer que estamos perante uma questão que exigirá uma conjugação dos esforços de todos e o decidido afastamento da perspectiva de que esta é uma questão de que um partido possa beneficiar de louros contra outros. Que quem vem hoje possa desmantelar o que foi feito antes. É com esse espírito que um projecto de resolução do PCP aguarda agendamento, discussão e votação na Assembleia da República. Em segundo lugar terá que se ter em conta que na área em questão a população envelheceu, a construção está degradada, a marginalidade e prostituição se instalaram ao longo de muitos anos, prolongando-se no narcotráfico e consumo exposto, a segurança foi-se agravando, faltam equipamentos sociais que lhe dêem nova vida, a população foi-se amedrontando. Em terceiro lugar há que transcender a limitação das decisões pontuais sobre um ou outro aspecto da situação, como o reforço de certo tipo de segurança segurança, o trabalho de rua sem participação efectiva do respectivo departamento municipal ou as limitações ao estacionamento. Cada uma destas medidas é positiva mas não terá durabilidade se não for integrada num plano mais vasto com outras. E se não fizer entrelaçar esforços e fazer saber de meios municipais, do Estado e de IPSS’s. Em quarto lugar não pode deixar de se ter em conta que existem aspectos desta intervenção que têm constituído valências da administração central e que a ausência de uma acção coordenada com ela impede objectivos como a prevenção e tratamento de toxicodependentes e um policiamento de proximidade. Em quinto lugar, importa ter em conta também, por exemplo, a avaliação não sectária que deverá ser feita do importante trabalho de reconversão do Casal Ventoso, incluindo a reconversão urbanística e os ganhos de habitação, o trabalho social que contribuiu para a recuperação de laços de sociabilidade, para o recuo dos apoios do narcotráfico, o apoio aos toxicodependentes que incluiu alojamento, alimentação, apoio médico, psiquiátrico, psicológico, de enfermagem, de reinserção social. Mas incluindo também aspectos menos positivos que se verificaram na fase final do anterior mandato e que se prolongaram em recuos provocados pela actual maioria que se traduziram na dispersão do narcotráfico e consumo em vários pontos da cidade, subaproveitando valências instaladas nomeadamente no Centro de AbrigoÉ assim desejável que nesta situação seja criado um gabinete multidisciplinar de intervenção que desenvolva a capacidade de resposta a diversos desafios de estruturas municipais já existentes e com trabalho feito ou projectado. Um deles é o da reabilitação de habitação e de edifícios de particular valor arquitectónico. Outro o desenvolvimento de um projecto de urbanismo comercial multi-étnico. Outro o de requalificar o espaço público. Outro é a necessidade de instalar um centro de saúde que poderia resultar da reconversão das instalações da antiga escola secundária dos Anjos. Outro é o trabalho de acolhimento, abrigo e alimentação, apoio médico, encaminhamento para outras instituições de toxicodependentes, a ser realizado num outro local com mais condições. Outro é a instalação de uma esquadra. Outro a dinamização, em coordenação com as juntas de freguesia, colectividades de um programa participado,. na sua definição e execução, de dinamização de actividades desportivas, sociais, culturais, juvenis. Não pretendemos esgotar aqui um modelo mas contribuir com uma reflexão e uma proposta, que esperamos vir a ter acolhimento da Assembleia da República, para a requalificação dos Anjos e do Intendente.