Projecto de Resolução N.º 1515/XII/4ª

Recomenda ao Governo medidas urgentes de valorização da Escola Pública, enquanto pilar do regime democrático

Recomenda ao Governo medidas urgentes de valorização da Escola Pública, enquanto pilar do regime democrático

Exposição de motivos

Pela mão de sucessivos governos PS, PSD e CDS, a Escola Pública tem vindo a ser atingida por profundos golpes normativos, financeiros e políticos que têm conduzido à degradação do seu papel de eliminação das assimetrias sociais, de emancipação individual e coletiva dos cidadãos de formação integral dos indivíduos.

A política de subfinanciamento, escolha consciente e deliberada dos partidos que se têm alternado no Governo há quase 39 anos, tem tido consequências significativas, resultando no despedimento de docentes, não docentes e outros técnicos; na redução do número de profissionais da Educação Especial e de psicólogos; na profunda escassez de assistentes operacionais (que o atual e anteriores governos tentam “disfarçar” recorrendo ilegalmente à precariedade para responder a necessidades permanentes das escolas); na degradação dos edifícios e no agravamento da falta de meios materiais.

O atual Governo PSD/CDS, aprofundando medidas de anteriores governos, está a destruir um direito constitucional, cuja garantia do seu cumprimento é responsabilidade inequívoca do Estado.

Ao invés de trabalhar para a atenuação e eliminação das assimetrias regionais e permitir um maior e melhor desenvolvimento das diferentes regiões, o Governo PSD/CDS encerra escolas públicas e financia escolas privadas, assim como promove a escola dual estimulando uma maior elitização do ensino público.

Desde as negativas alterações introduzidas na estrutura da carreira docente, à imposição da PACC (uma prova de acesso à carreira), passando pelo agravamento da precariedade dos profissionais da Educação, pela destruição do regime de gestão democrático das escolas, pelo encerramento de escolas e criação de mega-agrupamentos, pelo aumento do número de alunos por turma e pela desvalorização dos currículos, são muitas as medidas desenvolvidas pelo anterior Governo PS, agravadas pelo atual Governo PSD/CDS, que têm feito caminho no desmantelamento da Escola Pública, gratuita, de qualidade e inclusiva.

Desde 2011 até 2015 mais de 1 milhão e trezentos mil euros foram cortados no financiamento público ao Ensino Básico e Secundário. Tais cortes, têm implicações concretas na qualidade do ensino e nas condições materiais e humanas das escolas que, paulatinamente são estranguladas e limitadas no cumprimento do seu papel.

Para que a Escola Pública consagrada na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo seja uma realidade, é indispensável assegurar os meios materiais e humanos adequados ao cumprimento do seu papel.

Num contexto de alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos é indesmentível a necessidade de mais meios, mas, pelo contrário, a aposta do atual Governo tem sido na sua redução.

O Partido Comunista Português entende a Escola Pública como um pilar do regime democrático, conquista da revolução de Abril e imprescindível para o desenvolvimento económico e social do país.

A degradação da Escola Pública representa a degradação do próprio regime democrático. A degradação da Escola Pública significa a negação da igualdade de oportunidades e contribui para o agravamento das desigualdades económicas e sociais.

Para retomar os valores de Abril e para concretizar o projeto constitucional e os objetivos estabelecidos na Lei de Bases do Sistema Educativo, é urgente romper com o caminho de desmantelamento da Escola Pública e inverter um vasto conjunto de políticas, rompendo.

A valorização laboral e social dos educadores, professores, funcionários, psicólogos e técnicos; a dignificação do estudante; o fim dos exames nacionais e de outras barreiras de classe introduzidas ao longo dos percursos escolares; a reconstrução da gestão democrática das escolas; a gratuitidade do ensino; o recrutamento de mais professores, funcionários e outros profissionais da Educação; o enriquecimento dos currículos e a modernização do parque escolar, com plena assunção das responsabilidades pelo Estado, são condições basilares e incontornáveis para uma efetiva rutura com a política de direita e para o cumprimento daquele que é um direito constitucional: o direito de todos e de cada um a uma Escola Pública, gratuita, de qualidade e inclusiva, fator fundamental para a emancipação individual e coletiva, para a eliminação das desigualdades económicas e sociais, para o desenvolvimento económico e progresso social do país.

Nestes termos, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, os Deputados abaixo assinados do Grupo Parlamentar do PCP apresentam o seguinte

Projeto de Resolução

A Assembleia da República recomenda ao Governo, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição da República, que:

1. Adote as medidas orçamentais necessárias para assegurar o investimento na Escola Pública como prioridade nacional, em respeito pelos princípios constitucionais, nomeadamente a progressiva gratuitidade do ensino para todos, a igualdade de oportunidades no acesso e frequência escolar, o acesso de todos aos mais elevados níveis de ensino, a gestão democrática das escolas e que assegure a formação integral do indivíduo.
2. Para concretizar o estabelecido no número anterior, o Governo deve proceder ao levantamento das necessidades e avançar com os procedimentos orçamentais que assegurem:
2.1. A gratuitidade dos manuais escolares a todos os alunos da escolaridade obrigatória;
2.2. A reposição do passe escolar, garantindo a gratuitidade para os estudantes do escalão A e B e desconto de 50% aos restantes;
2.3. O reforço da Ação Social Escolar, assegurando, entre outros, a gratuitidade no acesso a visitas de estudo e atividades extra-curriculares;
2.4. A reversão dos Mega-Agrupamentos e a garantia de uma gestão de proximidade, no respeito pelos projetos pedagógicos específicos;
2.5. A diminuição do número de alunos por turma;
2.6. A identificação de necessidades de modernização do parque escolar, identificando prioridades e faseamentos e reiniciando de imediato todas as obras interrompidas mas já iniciadas no âmbito da intervenção da Empresa Parque Escolar E.P.E, devendo este plano prever a extinção da Parque Escolar E.P.E. e o retorno do respetivo património escolar à gestão e propriedade do Ministério da Educação e Ciência;
2.7. A concretização de concursos nacionais, que atribuam o vínculo público efetivo, aos docentes e profissionais não docentes, de professores e técnicos de educação Especial, de psicólogos e profissionais das ciências da educação, de modo a que as necessidades permanentes sejam supridas.

Assembleia da República, em 5 de junho de 2015

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