Intervenção de António Filipe no debate agendado pelo PCP sobre o Projecto de renegociação da dívida, preparação do país para a saída do euro e o retomar do controlo público da banca.
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(projeto de resolução n.º 1120/XII/4.ª)
Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Carlos Costa Neves,
Quando me inscrevi para pedir esclarecimentos, no início da sua intervenção, tive a esperança de estarmos perante uma intervenção séria, que valorizasse este debate.
Enganei-me rotundamente! A sua intervenção foi uma catilinária grotesca, Sr. Deputado, sem qualquer argumento sério, sem qualquer contribuição construtiva para este debate.
Para si, Sr. Deputado, e para o PSD, a zona euro é um dogma, não se discute — não se discute!
O cenário que o Sr. Deputado nos traçou é o de que nós vivemos no paraíso, e não sabemos.
E, mais, insultou gravemente todos os Estados-membros da União Europeia que não querem estar no euro: todos eles são contra os direitos humanos, são contra os direitos fundamentais, são contra o Estado de direito, não têm Internet, não têm água nas torneiras!…
Mas quem? A Grã-Bretanha, a Dinamarca, a Suécia?!… Estão orgulhosamente sós?!
Sr. Deputado, quem está orgulhosamente só são os países da zona euro, porque todos os outros países do mundo têm unidades monetárias próprias e soberanas!
O Sr. Deputado traçou, como já tinha feito o Sr. Deputado Pedro Pimpão, um cenário de terror — o Sr. Deputado, então, até chegou à Internet! — que resultaria das propostas do PCP. Sabe, Sr. Deputado, que, ao traçar aquele cenário de terror, parecia que estava a descrever a situação atual do País?
De facto, quando o Sr. Deputado fala do aumento do desemprego, da redução do poder de compra dos portugueses, de cortes nos rendimentos da maioria dos portugueses, da emigração, enfim, quando fala de tudo isso, parece que está a descrever a situação atual do País!
Sr. Deputado, os senhores têm de fazer um balanço sério! Essa é a situação do País!
E o que é que nos conduziu a ela? Quais são as responsabilidades das vossas opções, a saber o vosso euro-entusiasmo e a vossa aceitação irresponsável e acéfala de tudo o que venha da União Europeia, e a submissão ao euro, sem quererem consultar a vontade soberana do povo português?
Era tempo de os Srs. Deputados fazerem um balanço sério sobre as vossas responsabilidades e as responsabilidades das vossas opções, na situação real com que o País está confrontado, e sobre o facto de, desde a adesão ao euro, a economia portuguesa nunca mais ter crescido e de os portugueses terem visto as suas condições de vida degradar-se constantemente.
Era este o balanço e o balanço das medidas necessárias para responder seriamente a isso que esperávamos da sua intervenção. O que tivemos foi uma absurda catilinária.