Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
Não foram só as famílias que foram prejudicadas pela dita lei das rendas, que mais não foi do que a «lei dos despejos», criada por PSD e CDS, também as coletividades de desporto, cultura e recreio sofreram os efeitos deste nefasto mecanismo que o anterior Governo criou para facilitar o despejo. Este prejuízo causado às coletividades e associações não teve impacto somente nestas entidades — e, entretanto, muitas viram-se obrigadas a sair das suas sedes —, teve também consequências, e muito negativas, para as populações e as comunidades locais, que perderam um espaço de participação cívica e de usufruto de um conjunto de atividades de desporto, de lazer e de cultura. Sr. Presidente, Srs. Deputados: No universo destas coletividades e associações há as que têm instalações próprias, que foram adquiridas com o esforço significativo por parte dos seus dirigentes e com o contributo das comunidades locais, e que, assim, não se viram confrontadas com o problema do arrendamento; há as que, embora num número pouco significativo, se encontram em espaços cedidos pelas autarquias e pelos quais pagam rendas simbólicas, ou não há lugar a esse pagamento; e há, depois, as que se encontram em espaços alugados e que foram gravemente afetados pelo brutal e inaceitável aumento de rendas imposto pelo anterior Governo, do PSD/CDS. Por exemplo, na Área Metropolitana de Lisboa, considerando os distritos de Lisboa e de Setúbal, estamos a falar de uma média de aumentos da ordem dos 400%, sendo que há casos com aumentos de mais de 2500% no valor das rendas das coletividades e das associações. A este propósito, Srs. Deputados, importa ainda referir que muitas das benfeitorias realizadas ao longo dos anos nos espaços alugados pelas coletividades foram da responsabilidade das coletividades, que preservaram e valorizaram o património do senhorio, o que agrava ainda mais a injustiça desta lei. Para muitas coletividades esta foi a machadada final. Depois do aumento dos custos, por exemplo, com a eletricidade e com o gás, que o PSD e CDS impuseram, depois de muitas coletividades e associações se debaterem com dificuldades para continuar a sua atividade, associando também a perda de receita, que não está desligada daquela que foi a política de empobrecimento que PSD e CDS impuseram às famílias, depois de tudo isto, e em paralelo, vem a dita lei das rendas com os seus aumentos brutais, significando o golpe final para muitas coletividades. Esta lei significou, para muitas delas, a mudança de instalações, deixando para trás anos e anos da sua história e de relação próxima com as populações locais, e, para outras, longos processos de negociação, que conduziram, em muitos casos, à suspensão ou ao encerramento da atividade, com os inerentes prejuízos para a comunidade. Sr. Presidente, Srs. Deputados: As mais de 30 000 coletividades e associações que se prevê existam no País e que se dedicam ao desporto, ao recreio, à cultura e mesmo à área social, a esmagadora maioria delas com largas dezenas e mesmo com mais de 100 anos de existência, desempenham um papel inestimável junto das populações devido ao seu caráter de proximidade, continuando a ser, em muitos casos, o garante da democratização do acesso à criação e fruição cultural e à prática desportiva, direitos constitucionais dos quais o Estado se tem desresponsabilizado ao longo dos anos. Sem prejuízo da necessidade de uma intervenção que ponha fim às injustiças e desigualdades resultantes do arrendamento urbano, o que o PCP aqui traz hoje é um contributo que responde aos problemas sentidos pelas coletividades de desporto, cultura e recreio, designadamente no que se refere a espaços de arrendamento, propondo o alargamento do período transitório de 5 para 10 anos no caso do arrendamento para fim não habitacional. A valorização das coletividades de desporto, de cultura e de recreio, pela importante função social que desempenham, pelo que significam de participação popular, passa também por soluções como as que aqui apresentamos.
Intervenção de Diana Ferreira na Assembleia de República
"Para muitas colectividades, a lei das rendas foi a machadada final"
PCP propõe alterações ao Regime de Arrendamento Urbano
20 Outubro 2016
- "Com a lei das rendas, milhares de pessoas perderam a sua habitação"
- "Contribuir para uma resposta urgente aos graves problemas criados pela Lei dos Despejos"
- "Para muitas colectividades, a lei das rendas foi a machadada final"
- "PSD e CDS ignoram propositadamente as dificuldades das famílias"
- Prorroga por 10 anos o prazo de aplicação do Novo Regime de Arrendamento Urbano...