(excerto)
Por estes dias, a direita mais reaccionária – com a conivência daqueles que sempre com ela andaram de braço dado – vai querer comemorar o golpe militar do 25 de Novembro.
Não serão as comemorações do povo, porque essas são e só as de Abril.
E é com o povo que o PCP está, o povo que este ano em Abril encheu a Avenida da Liberdade e tantas praças e avenidas deste País a comemorar os 50 anos da Revolução Portuguesa.
Esse povo que aliado ao Movimento das Forças Armadas teve a força de socializar, de nacionalizar o essencial dos sectores estratégicos da economia portuguesa, de rasgar para si próprio horizontes de esperança que as classes dominantes há séculos juravam ser impossível.
Não desvalorizando a necessidade de combater a reescrita e falsificação da História, o essencial não é nesta ocasião de demonstrar o que o 25 de Novembro foi ao contrário do que dizem ter sido (um golpe contra-revolucionário e não um contra-golpe); o que o 25 de Novembro não foi mas que alguns (não todos, faça-se justiça) ambicionavam que tivesse sido - um golpe que travasse a dinâmica revolucionária e o processo de transformações e conquistas que a Constituição da República Portuguesa veio a consagrar, reprimisse e ilegalizasse o PCP, liquidasse o regime democrático -, neste momento o que importa é destapar e expor a operação que está por detrás das chamadas comemorações do 25 de Novembro que a direita mais reaccionária há muito enseja e que decidiu tentar impor.
Uma operação que é uma provocação, no ano em se comemora o quinquagésimo aniversário da Revolução de Abril.
Uma operação movida por um recalcado e antidemocrático inconformismo com a Revolução de 25 de Abril, que procura desvalorizar e afrontar os seus valores e conquistas.
Uma operação que se explica pela crescente presença e promoção de concepções reaccionárias na sociedade portuguesa, por uma cada vez mais clara afirmação de forças e partidos movidos por um ideário retrógrado, antidemocrático e fascizante, e pelo propósito dos seus promotores de levar mais longe a sua sanha destruidora contra a realidade de Abril, ainda presente no País.
O que está por detrás da iniciativa dos que suportam o Governo da PSD/CDS, com o apoio dos seus sucedâneos da IL e do Chega e a cumplicidade e anuência de outras forças políticas, é relançar a ofensiva contra-revolucionária contra Abril e legitimar as suas próprias opções e política destruidora.
O que querem é esconder que os actuais e graves problemas e dificuldades do País, são o resultado das suas opções políticas de anos e anos contra Abril, as suas conquistas e valores.
As forças da revanche querem rescrever a História, e apresentar o 25 de Novembro, não pelo que foi, mas pelo que desejariam que tivesse sido de regresso ao passado de meio século de ditadura fascista.
O que querem é tentar equivaler um golpe contra-revolucionário, apesar de sustido no que de mais sombrio continha no propósito de alguns, com a Revolução libertadora do 25 de Abril.
A Revolução que devolveu a democracia, a liberdade e a paz ao povo português e que abriu caminho a um futuro de progresso, desenvolvimento e emancipação social que décadas de política de direita tem procurado cercear.
Procuram assinalar, com um indisfarçável saudosismo, um revés reaccionário não consumado nos objectivos que ambicionavam, e querem, os promotores desta iniciativa, reintroduzir os factores de divisão na sociedade portuguesa que marcaram o 25 de Novembro em detrimento daquilo que une o povo português sobre o que representa Abril, as suas conquistas e valores incluindo como projecto e perspectiva para o futuro de Portugal.
O PCP rejeita a operação em curso e os seus objectivos antidemocráticos de desvalorização e apagamento do 25 de Abril, de promoção de concepções e projectos reaccionários.
Uma ampla operação em que se insere a sessão prevista na Assembleia da República invocando o 25 de Novembro, na qual os deputados comunistas, marcando a sua inequívoca oposição e protesto, não estarão presentes.
É Abril e os seus valores que os democratas e os patriotas, os trabalhadores e o povo em geral devem afirmar e exigir que se cumpra na sua dimensão de transformação, igualdade e justiça.
É Abril com o acervo imenso de conquistas e direitos alcançados – políticos, sociais económicos e culturais - que vive e está presente enquanto referência de futuro como a imensa comemoração dos 50 anos da Revolução de Abril comprovou.
É Abril que deve ser comemorado enquanto o momento mais marcante da nossa história e não o que contra ele se arquitectou de conspirações, golpes e práticas que o negam e pretendem desvalorizar.
É essa luta para afirmar os valores de Abril que vamos prosseguir.