Saúdo a luta dos trabalhadores que lá fora justamente reivindicam as medidas que deviam estar num Orçamento do Estado que devia responder aos que criam a riqueza e põem o País e a economia a funcionar, que devia garantir dignidade a quem trabalhou uma vida inteira, mas que está ao serviço dos lucros dos grupos económicos e das multinacionais.
Faltam médicos, enfermeiros, técnicos, faltam professores, auxiliares, falta pessoal nas forças de segurança, funcionários na justiça e em tantos outros serviços públicos. Falta valorizar os bombeiros, falta investimento, faltam apoios à ciência, à cultura e ao desporto.
Falta investimento em escolas, hospitais, centros de saúde, transportes, faltam casas, lares e creches, faltam apoios à produção nacional, às pequenas empresas, à protecção ambiental, à ciência e à cultura.
E com tanto que falta, o Governo e os deputados que apoiam esta política e que viabilizam este Orçamento, seguem, sem questionar as ordens de Bruxelas, aplaudem o excedente orçamental e garantem contas certas com o capital.
E é tudo isto que o PS viabiliza, colocando-se ao lado do PSD e CDS e permitindo que Chega e IL votem contra um Orçamento com o qual estão de acordo.
Todos e, para lá de fabricadas discordâncias, são ou se tornam cúmplices do caminho em curso.
Chumbaram o aumento das pensões em 5%, no mínimo de 70 euros para mais de 2 milhões de reformados e pensionistas alegando que não há dinheiro, mas aprovaram a entrega de 1800 milhões de euros em benefícios fiscais a um punhado de empresas.
Chumbaram o acesso à reforma sem penalizações ao fim de 40 anos de trabalho e descontos, mas nem pestanejam no avanço das criminosas privatizações e na entrega de empresas estratégicas ao capital estrangeiro.
Chumbaram a redução do IVA para 6% na electricidade, telecomunicações e no gás, a fixação em 20 euros da bilha do gás, com o que isso significaria na vida da maioria da população, mas lá estiveram juntos para mais uma escandalosa redução do IRC que vai direitinha para as grandes empresas.
E vale a pena recordar que há 10 anos atrás, e pelas mãos de PSD, CDS e PS, o IRC também desceu.
Uma descida de 4% que não alterou o modelo dos baixos salários nem alavancou a economia, como agora nos voltam a prometer, mas foi determinante para os 32 milhões de euros de lucros por dia das grandes empresas.
Chumbaram a dedicação exclusiva de profissionais mas aprovaram o desvio de cerca de metade do orçamento do SNS para os grupos económicos privados que fazem da doença o seu principal negócio.
Chumbaram a redução das rendas e prestações ao banco e o reforço da oferta pública de habitação mas aprovaram 1700 milhões de euros de benefícios para os residentes não habituais.
Chumbaram a vinculação de trabalhadores precários na Administração Pública, e o aumento do subsídio de refeição, e consagraram a regra de nem mais um trabalhador para reforçar os serviços públicos.
Chumbaram a criação da rede pública de creches, o aumento e a universalidade do abono de família, mas entregaram 1500 milhões aos concessionários das parcerias público-privadas.
Aprovaram mais benesses ao grande patronato, mais isenções, mais ataques à Segurança Social e travaram a valorização dos salários, essa que é a grande emergência nacional.
E quando falamos de salários, falamos do País, de desenvolvimento, da vida, de combate às injustiças, às desigualdades, à pobreza.
Como é que se fixam os trabalhadores necessários?
Como podem os jovens cá ficar, trabalhar e viver?
Como é que se responde às necessidades do SNS e se contratam profissionais de saúde ou se responde às necessidades da Escola Pública e de mais professores e auxiliares?
Como se previnem situações como a que se vive no INEM?
Como é que se aposta no desenvolvimento do País sem a valorização dos cientistas e investigadores?
Sem o aumento dos salários, sem respeito por quem trabalha e a valorização das carreiras e profissões, sem o combate à precariedade, nem o País, nem a vida de cada um anda para a frente.
Os accionistas dos bancos e das empresas do PSI-20, aqueles que ganham com a especulação imobiliária e com o assalto ao SNS, os que têm milhões em paraísos fiscais ou vivem à custa de fundos comunitários, esses que se acham donos disto tudo, estão hoje satisfeitos, não só o seu Orçamento vai ser aprovado como contam, com o seu Governo, com a IL e o Chega, mas também com o PS para acumular privilégios, regalias e património.
Mas os trabalhadores e o Povo, cuja vida amanhã ficará ainda mais difícil, também sabem com o que podem contar.
Contam com Abril e com uma Constituição da República que nenhuma operação reaccionária pode apagar.
Contam com a intervenção, a coragem e a determinação do Partido Comunista Português para o que der e vier.
Para enfrentar ao seu lado os projectos que querem pôr o País a andar para trás.
Para lutar por uma vida justa, por um Portugal com futuro.