1915-2015 | CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
Pedro Soares
Destacado dirigente do
Partido Comunista Português
Resistente antifascista
- Pedro Soares | Centenário do Nascismento (1915-2015)
- Dados Biográficos
- Tarrafal: Campo da
Morte Lenta - Actividade Internacional
- As fugas
- Intelectual Comunista
- Filho do Alentejo
- Na revolução de Abril
- O último Adeus
- VIDAS DOS REVOLUCIONÁRIOS VALEM COMO SEMENTES
Iniciativa de Comemoração
15 Jan.
Casa do Alentejo, Lisboa
Alguns dados biográficos
Tarrafal:
Campo da Morte Lenta
19
ANOS DE EXISTÊNCIA
+2000
ANOS DE PRISÃO
380
PRESOS
32
PRESOS ASSASSINADOS
O Campo de Concentração do Tarrafal, permanece como o maior símbolo da repressão fascista - pela sua localização, o modo como foi construído, pelo regime prisional estabelecido visava a liquidação física e psicológica dos presos- pelo trágico balanço dos 19 anos de existência (1936-1954): 32 presos assassinados, mais de dois mil anos de prisão sofrida pelos 380 presos para lá enviados, centenas de anos de prisão sofridos por presos que nem sequer chegaram a ser julgados, que lá permaneceram para além da pena cumprida, ou como no caso de Pedro Soares que embarca para o Tarrafal no dia 17 de Outubro de 1936, quando no dia anterior tinha terminado a pena a que tinha sido condenado pelo Tribunal Militar Especial.
Pedro Soares foi enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal por duas vezes (1936-1940) e (1943-1946).
Foi um dos 152 presos, que em 29 de Outubro de 1936 inauguraram o Campo da Morte Lenta, e que sofreram as duras condições prisionais existentes no Tarrafal, bem como a brutalidade dos carcereiros. Castigado com vinte dias de “frigideira” em finais de 1938, espancado e novamente colocado na “frigideira” em Maio de 1939, Pedro Soares teve de permanecer quarenta dias na enfermaria do campo para recuperar destes maus tratos.
um dos tarrafalista que melhor compreendeu o que representava o Campo de Concentração do Tarrafal
Foi autor do primeiro folheto sobre o Tarrafal editado clandestinamente pelo PCP em 1947.
Da sua primeira experiência no Tarrafal surgiria o livro «Tarrafal: Campo da Morte Lenta», que escreveu após a sua libertação, e em cuja revisão e aprofundamento se encontrava a trabalhar na altura em que morreu. Dedicou o livro aos companheiros.
Pedro Soares foi um dos tarrafalista que melhor compreendeu o que representava o Campo de Concentração do Tarrafal, que designou por Campo da Morte Lenta e da necessidade de levar ao povo e às forças democráticas a luta pelo seu encerramento.
Actividade Internacional
Pedro Soares realizou inúmeras tarefas no estrangeiro. Entre 1947 e 1950, em Moçambique impulsiona a organização do Partido, estabelece relações com patriotas moçambicanos, organiza reuniões com democratas, elabora panfletos sobre a independência de Moçambique.
Depois da fuga de Peniche em 1960, desenvolveu inúmeras tarefas do PCP no estrangeiro. Teve papel determinante na criação e funcionamento da rádio clandestina do PCP - Rádio Portugal Livre em 1962, tendo sido seu primeiro director cargo que ocupou até meados de 1963.
lutou incansavelmente pela unidade do movimento antifascista
Saber Mais
Foi representante e delegado do PCP na Frente Patriótica de Libertação Nacional em Argel, lutou incansavelmente pela unidade do movimento antifascista e pela sua ligação ao movimento popular de massas, contribuiu para o estreitamento das relações entre os antifascistas portugueses e os movimentos de libertação nacional. Desempenhou também importantes tarefas em diversos países europeus, nomeadamente Itália. Intervém na Conferência Internacional de Solidariedade aos Povos das Colónias Portuguesas e da África Austral em Khartum – Sudão, em nome da Frente Patriótica de Libertação Nacional, na Conferência de Roma em 1970 de apoio internacional aos povos de Angola, Guiné e Moçambique e na Conferência dos Partidos Comunistas dos Países Capitalistas da Europa, em Bruxelas, em Janeiro de 1974.
No 25 de Abril, encontrava-se em Itália, com importantes tarefas a nível de direcção do Partido. No âmbito dessas actividades, preparou a ida a Roma de uma delegação de sindicalistas e militantes católicos.
As fugas
Pedro Soares depois de uma tentativa de fuga fracassada, da cadeia de Caxias em 1943, conseguiu por duas vezes evadir-se das prisões fascistas, sempre com o mesmo objectivo de voltar à luta.
1954
PIDE do Porto
Preso em Abril de 1954, e após passar pelo Aljube e por Caxias, é transferido para as celas da PIDE no Porto em Agosto de 1954, nestas instalações Pedro Soares e Joaquim Gomes empreenderam uma audaciosa fuga em 3 de Outubro de 1954, abrindo um buraco no tecto da sala, e conseguindo chegar ao telhado, através de uma clarabóia, percorreram os telhados, saltaram para um quintal e daí escaparam por um cemitério.
De novo em liberdade, a sua primeira preocupação é retomar a luta: Em carta ao Comité Central afirmava “É com profunda alegria e com emoção que vos saúdo, ao ter conquistado de novo a liberdade e ao encontrar-me em condições de comunicar convosco. Aqui estou para servir de novo o Partido, com tudo o que de melhor possuo, para servir a classe operária e o povo...” .
1960
Fuga de Peniche
Regressando à clandestinidade, desempenha várias tarefas até ser preso em Dezembro de 1958 na região do Porto. Transferido para o Forte de Peniche em Janeiro de 1959.
Em 3 de Janeiro de 1960, é um dos 10 militantes comunistas que participam na heróica fuga de Peniche, durante a descida dos muros sofreu uma contusão no joelho que o afectaria pelos anos fora.
O intelectual comunista
Pedro Soares colocou sempre a sua cultura, o seu saber ao serviço do partido da luta revolucionária pela emancipação dos trabalhadores.
Estudioso, apaixonado por filosofia e história, interessado por diversas questões teóricas, sobre as quais gostaria de escrever, mas que não foi possível a Pedro Soares pelas exigências das tarefas partidárias.
Estudioso, apaixonado por filosofia e história, interessado por diversas questões teóricas
Na sequência do trabalho em Moçambique interessou-se pelos problemas do colonialismo, tendo apresentado à IV Reunião Ampliada do CC (1952), um trabalho «O panorama colonial Português e as tarefas imediatas do Partido».
Foi autor de vários trabalhos dos quais se destacam: «A conquista de Ceuta e as forças que a determinaram» (1951); »Notas filosóficas sobre o valor objectivo das ideias» (1952)); «Tarrafal: Campo da Morte Lenta»; «Bento Gonçalves – Organizador do Partido»; «Herdeiros e Continuadores do Anarquismo»; e «Os percursores do Partido da classe operária» (1970). Foi também colaborador da Seara Nova após o 25 de Abril.
Em 1943, pouco antes de ser enviado novamente para o Tarrafal, escreve uma carta ao Comité Central do PCP, que é um exemplo da sua enorme dedicação e confiança no Partido, da certeza na justeza da causa comunista.
Queridos camaradas: Dentro de algumas horas irei abandonar de novo o nosso país, a caminho do degredo, do campo de concentração de Cabo Verde. Sinto-me calmo, corajoso,modestamente digno do espírito revolucionário do nosso Partido. Parto convencido de que nada impossibilitará que o fim do caminho para a vitória será alcançado, argamassado com o sangue dos que morrem com coragem e pelo sacrifício e energia dos que não param de lutar. A certeza do triunfo, mesmo que não tenha a felicidade de o viver, dá-me coragem para não vacilar e combater com coerência até ao fim.
(…)
De tudo isto só lamento não ter podido «dar mais» ao nosso Partido um esforço mais decisivo, não valer mais para melhor servir a revolução e o nosso país.(…)»
Camarada dedicado
Pedro Soares
Pedro Soares
Filho do alentejo
Nascido em Trigaches, Beja, no seio de uma família de sentimentos democráticos – o pai foi preso e deportado em 1931 – Pedro Soares desde muito jovem conheceu a brutal exploração a que eram submetidos os trabalhadores pelos agrários – trabalho de Sol a Sol, jornas de fome, longos períodos sem trabalho -, mas conheceu igualmente a corajosa luta dos trabalhadores agrícolas contra a miséria, pelo pão e o trabalho.A brutalidade com que as forças policiais ao serviço dos agrários, reprimiam as justas reivindicações dos trabalhadores e as suas lutas radicaram nele a determinação de lutar contra o fascismo., luta que iniciou ainda no liceu de Beja.
As opções ideológicas com a sua adesão à Federação das Juventudes Comunistas e ao Partido Comunista Português, ainda muito jovem, foram marcadas por esta realidade.
Pedro Soares, foi um dos camaradas que ajudou a criar o aparelho clandestino do PCP, nos anos 30 do século passado. Nos finais de 1934 é preso em Beja acusado de criar uma organização do PCP na região. Nos anos 40/41 é de novo destacado para a reorganização do Partido na região de Beja.
Pela vida fora Pedro Soares interessou-se pela vida, a organização e a luta dos trabalhadores agrícolas.
Depois do 25 de Abril Pedro Soares participou em várias iniciativas no Alentejo em defesa da Revolução de Abril, e da Reforma Agrária e pela devolução das terras roubadas aos camponeses.
O povo de Trigaches perpetuou a memória de Pedro Soares e da camarada Maria Luísa, com a inauguração de um memorial, no qual se pode ler:
“As vidas dos revolucionários são como as sementes nas lutas dos povos.”
Pedro Soares, foi um dos camaradas que ajudou a criar o aparelho clandestino do PCP, nos anos 30 do século passado
Na Revolução de Abril
Regressou a Portugal pouco depois da Revolução de 25 de Abril. No decurso de pouco mais de um ano, viveu intensamente o período revolucionário, estando presente em momentos cruciais da vida do PCP e da sociedade portuguesa:
- Integrou a redacção do «Avante!» e foi colaborador da «Seara Nova».
- Participou em inúmeros comícios, sessões de esclarecimento, desenvolveu uma intensa actividade pela unidade dos democratas.
- Esteve na mesa do VII Congresso do PCP (Extraordinário), Outubro 1974.
- Integrou a delegação do PCP que entregou no Supremo Tribunal de Justiça o processo de legalização do PCP.
- Foi cabeça de lista e eleito deputado pelo distrito de Santarém à Assembleia Constituinte em 25 de Abril de 1975.
- Foi representante do PCP na Comissão Redactora do Projecto de Lei de Imprensa, Portugal Democrático.
Pedro Soares desempenhou importantes tarefas de carácter unitário, nomeadamente nas relações entre comunistas e católicos.
Por ocasião da homenagem ao Padre Abel Varzim em Agosto de 1974 com quem aliás manteve estreitas relações, Pedro Soares declarou:
“Estamos hoje aqui reunidos para prestar homenagem ao Padre Abel Varzim, a um sacerdote exemplar, a um lutador que não se rendeu às prepotências do poder fascista, às perseguições que lhe moveram. Estamos aqui, para evocar a sua memória, a sua difícil batalha pelos trabalhadores, pelo povo, pelos oprimidos, o seu elevado exemplo de conduta moral e de tolerância, de fidelidade aos princípios do cristianismo.”
“O Padre Abel Varzim empenhou-se sinceramente em estabelecer novos contactos entre o Partido Comunista e os Católicos. E trabalhou por essa justa e necessária colaboração.”
In Discurso de Pedro Soaresna Homenagem ao Padre Abel Varzim, 25 de Agosto de 1974
O último adeus
a Pedro Soares e Luísa Costa Dias
Pedro Soares morreu juntamente com a sua companheira de sempre - Maria Luísa da Costa Dias – a 10 de Maio de 1975 num trágico acidente de automóvel após um dia de intensa actividade política no Distrito de Santarém.
O funeral dos dois destacados militantes comunistas constituiu uma impressionante manifestação popular e de solidariedade política com o PCP e a Revolução Portuguesa e de reconhecimento pelo papel do Partido e dos dois camaradas na luta contra o fascismo e na construção do Portugal democrático.
A sua morte constitui uma enorme perda para o PCP, mas as suas vidas permanecem como um exemplo, que como afirmou o camarada Álvaro Cunhal, no funeral dos dois camaradas a 13 de Maio de 1975.
«Feliz o Partido que ao fazer o balanço da vida dos seus militantes mortos, pode dizer de um, de Pedro, que em 60 anos de vida, consagrou mais de 40 à luta revolucionária, que foi preso e torturado numerosas vezes e sempre superou estoicamente a prova, que passou 12 anos nas prisões, que duas vezes se evadiu para voltar à luta, que passou longos anos de vida clandestina e que sempre esteve pronto a executar as tarefas que lhe foram confiadas e a executá--las com a dedicação, com a coragem, com a firmeza, com a alegria daqueles que na luta nada pretendem para si próprios, pois apenas servir o povo e o país».
O funeral dos dois destacados militantes comunistas constituiu uma impressionante manifestação popular
Maria Luísa Costa Dias, nasceu em Coimbra. Médica, antifascista, católica e comunista, viveu 22 anos na clandestinidade.
Foi abnegada defensora na defesa dos direitos das mulheres.
Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática. Em 1947, partiu em trabalho partidário com, Pedro Soares, para Moçambique, de onde regressou em 1950. Presa em 1953, foi enviada para o Forte de Caxias e foi libertada no final de 1954. Novamente presa com o marido em 1958, foi torturada, saindo da prisão em 1962, depois duma campanha nacional e internacional a favor da sua libertação, por se encontrar muito doente.
Pesava então pouco mais de 30 quilos.
Depois de libertada esteve em Argel ligada à FPLP participou em reuniões do Conselho Mundial da Paz.
Desenvolveu uma intensa actividade, em vários países, na denuncia do regime fascista e de apelo à luta pela libertação dos presos políticos em Portugal. Foi representante do Movimento Democrático de Mulheres na Federação Democrática Internacional de Mulheres e nessa qualidade, no Congresso Internacional de Mulheres (organizado pela FDIM) em Helsínquia em 1969. Integrou, depois do 25 de Abril de 1974, a delegação portuguesa à Assembleia Geral da ONU.
As vidas dos revolucionários valem como sementes na vida dos povos
Álvaro Cunhal exprimiu este seu pensamento a propósito do percurso de vida de Pedro Soares como revolucionário e comunista. Um pensamento alicerçado no conhecimento do percurso revolucionário de muitos outros militantes comunistas – homens, mulheres e jovens – que com a sua entrega abnegada ao Partido, à luta pelos ideais comunistas, deram contribuição determinada para o derrube do fascismo, conquista da liberdade e para as grandes transformações democráticas do nosso País.
Pedro Soares fez parte de uma geração de comunistas que em condições extremamente difíceis, quando os horizontes eram bastante sombrios e os destinos de suas vidas, por serem comunistas, incertos, com enorme abnegação participou na construção do PCP, vanguarda da resistência ao fascismo e da Revolução de Abril.
Pedro Soares é um exemplo de abnegação militante que importa revelar e projectar às novas gerações de comunistas.