Intervenção

Intervenção de Jerónimo de Sousa Apresentação Pública do Tomo III das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal

Intervenção de Jerónimo de Sousa Apresentação Pública do Tomo III das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal

Áudio

Estamos aqui - não por acaso no dia em que passa mais um aniversário do nascimento do camarada Álvaro Cunhal – procedendo ao lançamento do III Tomo das suas Obras Escolhidas.

Com este acto, prestamos uma homenagem e assumimos um compromisso. Prestamos homenagem ao militante comunista cuja vida e obra constituíram o mais significativo e expressivo de todos os contributos individuais para a construção do PCP e para a sua afirmação, ao longo dos tempos, como partido comunista, marxista-leninista; partido da classe operária e de todos os trabalhadores; partido da resistência e da unidade antifascistas; partido da Revolução e da Democracia de Abril; partido da resistência à contra-revolução – partido que foi e é tudo isso, sempre tendo presente, como referência maior, o objectivo da construção em Portugal de uma sociedade liberta de todas as formas de opressão e de exploração: a sociedade socialista e comunista.

Assumimos o compromisso de, inspirados nessa vida e nessa obra, e tendo como referência esse exemplo de dedicação e entrega totais ao Partido e à luta, dedicarmos toda a nossa capacidade, toda a nossa inteligência, todo o nosso empenhamento, todos os nossos esforços no sentido de tornar o PCP um partido cada dia mais forte e em melhores condições para, honrando a sua identidade comunista e a sua história, cumprir o papel que lhe compete, sejam quais forem as condições e circunstâncias em que tenha que actuar.

Mostram os factos que o valioso e singular contributo prático de Álvaro Cunhal, em todo o processo de construção e desenvolvimento do PCP, foi sempre acompanhado por uma também singular produção teórica – produção teórica nascida dessa prática e, simultaneamente, fortalecendo-a e conferindo-lhe consistência ideológica e política, portanto uma e outra ligadas indissociavelmente entre si e com uma particularidade assinalável: a de serem construídas sempre na base da integração plena de Álvaro Cunhal no trabalho colectivo, que ele considerava ser uma raiz de força determinante do Partido.

Na verdade, a unidade entre a teoria e prática e a sua inserção no trabalho colectivo constitui uma marca indelével na actividade de Álvaro Cunhal. Acresce que a adesão de Álvaro Cunhal ao comunismo, ao ideal comunista, foi, para além da adesão a um ideal libertador e transformador, uma opção de vida que viria a concretizar-se com a sua entrega total ao seu Partido, ao nosso Partido: o Partido Comunista Português.

É tudo isso que explica o papel marcante, profundamente impressivo, desempenhado pelo camarada Álvaro Cunhal durante 75 anos de uma militância revolucionária exemplar: desde o início da década de 30 – quando o processo de fascização do estado avançava de forma imparável e o anticomunismo assumia as suas expressões mais brutais – até aos primeiros anos deste século XXI – em que a política de direita, enquanto instrumento da contra-revolução, prossegue a sua acção destruidora de aspectos essenciais e estruturantes da democracia de Abril.

Por tudo isso, esse todo que é a vida, a militância e a obra teórica e política de Álvaro Cunhal constitui para nós, militantes comunistas, uma fonte de ensinamentos inestimável e que, para além de uma lição e um exemplo de dignidade e coerência, de coragem e disponibilidade revolucionária, é uma fonte de aquisição de consciência política, ideológica, partidária, de classe.

Daí a importância da publicação destas Obras Escolhidas que as Edições Avante estão a levar a cabo e de que nos apresentam, agora, o Tomo III. Daí a importância da leitura e do estudo da obra de Álvaro Cunhal, da reflexão individual e colectiva em torno de cada um e do conjunto de trabalhos que, sendo expressão de profundas análises concretas às situações concretas do Partido, do País e do mundo, proporcionam ensinamentos imprescindíveis à nossa actividade militante.

Na verdade, o estudo da obra de Álvaro Cunhal é uma vertente estruturante fundamental da formação política, ideológica, partidária, dos militantes comunistas – de todos os militantes comunistas, desde os que há mais tempo aderiram ao Partido, até aos recém-chegados, àqueles que todos os dias vão engrossando as fileiras do nosso colectivo partidário. Para todos, o conhecimento da história e da vida do Partido constitui um elemento fundamental para a compreensão do que ele é hoje e do que ele deverá ser no futuro e do papel que lhe cabe enquanto partido comunista.

O reforço do Partido tem sido – e é, e continuará a ser – preocupação constante do nosso colectivo partidário. Mais ainda em situações como a que actualmente vivemos, em que o actual governo leva por diante aquela que é, porventura, a mais grave de todas as ofensivas do pós 25 de Abril contra os interesses dos trabalhadores, do povo e do País, a par de uma poderosa e amplamente difundida ofensiva ideológica anticomunista.
 
«Avante! Por um PCP mais forte!», dizemos nós; «Avante! Por um PCP mais forte!», afirma com determinação, confiança e convicção o nosso grande colectivo partidário, erguendo a pulso um vasto conjunto de iniciativas com as quais concretiza, colectivamente e de forma integrada, o conjunto de direcções de trabalho e medidas colectivamente definidas visando o fortalecimento do Partido. Medidas em que avultam: o reforço da ligação às massas, a partir, em primeiro lugar, do indispensável e decisivo reforço da presença organizada e activa do Partido nas empresas e locais de trabalho – estendendo esse reforço aos locais de residência; o reforço do número de militantes e a sua integração nas organizações partidárias; o reforço da militância e da formação ideológica dos quadros e dos militantes – enfim, o reforço orgânico, interventivo e ideológico do Partido, afirmando-o com a sua identidade comunista e preparando-o para os desafios e as batalhas que a situação impõe.

Para alcançar estes objectivos, a leitura, o estudo, a reflexão individual e colectiva da obra de Álvaro Cunhal são de fundamental importância – e destas Obras Escolhidas podemos dizer que são parte integrante da acção em curso visando o reforço do Partido.

No primeiro Tomo, tivemos oportunidade de tomar contacto com os primeiros escritos de Álvaro Cunhal e com um conjunto de trabalhos cuja leitura e estudo são indispensáveis a quem queira conhecer a realidade portuguesa entre 1935 e 1947 e, de forma muito particular, toda a caminhada que foi a construção do Partido no decorrer da reorganização de 40-41 e dos III e IV Congressos, momentos maiores da edificação do Partido com a sua identidade comunista e do processo que, a partir da consideração do trabalho colectivo como princípio básico, iniciou a construção do conceito de colectivo partidário. Isto sem esquecer outros textos de incontestável relevância, como são, por exemplo, os escritos sobre a Arte, a criação literária, a pintura, o desenho, temáticas que, aliás, integrariam a reflexão do autor durante toda a vida.

O segundo Tomo inclui textos produzidos de 1947 a 1964 e que podem dividir-se em três fases distintas.

A primeira relacionada com o papel determinante desempenhado por Álvaro Cunhal no reatamento da ligação do nosso Partido ao movimento comunista internacional, designadamente ao PCUS, que havia sido interrompida em 1938.
A segunda, respeitante aos anos de prisão na Cadeia Penitenciária de Lisboa e no Forte de Peniche – que nos deixa alguns dos mais impressionantes textos sobre os comunistas e a prisão, sobre o comportamento dos militantes do partido face à polícia fascista, textos em que o camarada Álvaro Cunhal teoriza o que ele próprio já aplicou ou virá a aplicar na prática.

A terceira, vai da fuga de Peniche ao combate travado na crítica e correcção do desvio de direita e no retomar da via do levantamento nacional para o derrubamento do fascismo – combate do qual Álvaro Cunhal é um protagonista principal, já que é a partir de textos por ele elaborados que se processa o amplo debate partidário então realizado.

Este Tomo III agora publicado proporciona-nos o contacto com textos produzidos na  década de 60, e dos quais, como já referiu o camarada Francisco Melo, que coordenou e prefaciou o volume, emerge o Rumo à Vitória obra que é um marco do pensamento político marxista-leninista no nosso País.

Neste tempo que vivemos, em que o domínio do grande capital lhe permite definir políticas e escolher os seus executantes, elevando brutalmente a exploração e a opressão; em que a desinformação organizada manipula conhecimentos e consciências; em que a ofensiva ideológica à solta instala hesitações, conformismos, medos  – e em que, por isso mesmo, à intervenção dos comunistas e à luta dos trabalhadores são colocados novos e maiores obstáculos - a leitura e o estudo da obra de Álvaro Cunhal constitui uma necessidade imperiosa para os militantes comunistas.
Um dos ensinamentos que o camarada Álvaro Cunhal nos legou é o de que, sejam quais forem as circunstâncias existentes em cada momento, a luta é sempre necessária – e vale sempre a pena.

Luta de massas, luta ideológica, luta política que com clareza e determinação é no actual momento assumida com a nossa candidatura presidencial assumida pelo camarada Francisco Lopes que, de forma singular se afirma como o candidato dos trabalhadores, identificado com os seus direitos, com as suas aspirações e a sua luta. E é nessa perspectiva que olhamos para a situação actual e para o papel crucial da luta como resposta à política de direita e à ofensiva do capitalismo que pela sua dimensão e profundidade constitui uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores e aos seus direitos. Direitos que integram avanços e conquistas democráticas e civilizacionais hoje postas em causa. Então, cada luta é uma batalha das muitas batalhas que é preciso travar neste agudo confronto de classes.

Quando os ideólogos, defensores e seguidores do capitalismo apelam à resignação das massas trabalhadores em nome das inevitabilidades e do não vale a pena, mais do que resignação o que estão a pensar e a exigir é a rendição sem condições.

Valorizando cada uma e todas as lutas, incluindo (como afirmava Álvaro Cunhal) as lutas mais modestas com objectivos concretos, consideramos que a decisão da CGTP-IN de convocar os trabalhadores para realizar uma Greve Geral no dia 24 de Novembro, com a consciência da relação de forças existente constitui um acto de audácia que há-de ser transformado em decisão corajosa e insubmissa de centenas de milhar de trabalhadores que a vão realizar. E como Álvaro Cunhal reflecte e expressa na sua obra, sendo a luta o alicerce do processo de transformação social, temos sempre de ver mais além da conjuntura, animados e confiantes no nosso ideal e projecto para encetar e edificar a verdadeira alternativa ao capitalismo – o socialismo.

 

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