Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Sessão Evocativa do Centenário da Revolução de Outubro

É no socialismo que os trabalhadores e os povos encontrarão resposta para as suas aspirações

Encerramos aqui, na cidade do Porto, as Comemorações do Centenário da Revolução Socialista de Outubro - a primeira revolução vitoriosa que assume o objectivo da construção de uma sociedade nova, liberta da exploração do homem pelo homem - que, por iniciativa do PCP, se têm vindo a realizar em todo este ano de 2017.

Essa Revolução, esse heróico empreendimento que inaugurou uma nova época histórica - a da passagem do capitalismo ao socialismo – e que iria não só alterar profundamente a vida dos trabalhadores e do povo do País dos sovietes, mas promover e influenciar alterações profundas no mundo a favor dos trabalhadores e dos povos.

Essa Revolução que tomou nas mãos a tarefa de rasgar novos caminhos, nunca antes experimentados, materializando o milenar sonho de emancipação e de libertação de gerações de explorados e oprimidos.

Essa Revolução em que, pela primeira vez, a classe operária e os seus aliados conquistaram o poder, e com esse novo poder proletário e camponês conquistado encetaram um extraordinário processo de transformação e realização, onde milhões de seres humanos outrora excluídos e espoliados de qualquer intervenção política e social se tornaram protagonistas e obreiros do seu próprio futuro.

Esse feito notável realizado sob a direcção do Partido Bolchevique e de Lenine, confirmando a perspectiva política e ideológica apontada pela obra teórica de Marx e Engels.

Chegámos ao fim das comemorações concretizando um amplo programa de iniciativas que, com sucesso, desenvolvemos por todo o País. Realizámos centenas de debates, sessões político-culturais, exposições, sessões de cinema, produzimos vídeos, edições de obras significativas.

Promovemos um importante Seminário com aprofundadas reflexões e comunicações, abordando o amplo e variado leque de temas e que são um instrumento de trabalho para aqueles, que como nós, não desistiram de lutar e procuram na experiência passada, própria e alheia, positivas e negativas, os ensinamentos para os combates que temos pela frente.

Assinalámos o dia 7 de Novembro – o dia da Revolução - num ambiente de entusiasmo e grande confiança no futuro, confirmando e reafirmando a validade do socialismo e do comunismo como solução para dar resposta aos grandes problemas dos povos e da humanidade.

Chegámos ao fim das comemorações, mas não do combate pela afirmação dos nobres ideais e valores da Revolução de Outubro e das suas realizações. Um combate que vai inevitavelmente prosseguir, porque este património da luta dos trabalhadores e dos povos, esta primeira experiência de construção de um mundo novo e diferente, liberto da exploração, continua no centro da luta ideológica nas sociedades capitalistas contemporâneas e independentemente das adversidades que enfrentou, dos erros cometidos ou do retrocesso verificado continua a indicar a possibilidade de uma saída alternativa ao capitalismo. Uma saída, percorrendo certamente novos e diferentes caminhos, com novas e diferentes soluções, porque não há um modelo único de construção de socialismo. E é isso que os defensores do sistema de exploração – o grande capital e o imperialismo - temem.

Isso ficou particularmente patente no decorrer deste período comemorativo, também aqui no nosso País com a feroz campanha de mentiras e mistificações que desenvolveram e desenvolvem contra a Revolução de Outubro.

Assim procedem porque sabem quão justa e verdadeira é a consigna da Comemoração do Centenário da Revolução - “Socialismo, exigência da actualidade e do futuro”.

Sim, nós comemorámos a Revolução de Outubro mais do que virados para o passado, mas olhando essencialmente para o presente e para o futuro.

Comemorámos pelo que significou de realizações inéditas a favor dos trabalhadores e dos povos – as mais avançadas no processo de libertação da humanidade de todas as formas de exploração e opressão -, mas também e, particularmente, para afirmar que outro mundo é possível e que o capitalismo não é o sistema terminal da história da humanidade.

E não é porque simplesmente o afirmemos, mas porque o capitalismo não tem soluções para os problemas do mundo contemporâneo. Pelo contrário, a sua acção aprofunda todos os problemas e, por toda a parte, está permanentemente em confronto com as necessidades, os interesses, as aspirações dos trabalhadores e dos povos.

Corroído por uma profunda crise é a sua natureza exploradora, opressora, predadora e agressiva que vem cada vez mais ao de cima, com dramáticas e brutais consequências para a vida dos povos e para o futuro da humanidade.

Após a desintegração da URSS o imperialismo lançou-se numa violenta ofensiva ideológica, apresentando o capitalismo como um sistema superior e inultrapassável, ao mesmo tempo que anunciava uma nova ordem mundial, onde reinaria a democracia, a paz e o desenvolvimento harmonioso em todo o planeta.

Era o reino da abundância para todos os povos que se anunciava e proclamava com o capitalismo globalizado, agora em roda livre e sem condicionantes.

Nessa altura o PCP bem dizia quanto enganadores eram tais anúncios e proclamações, porque o capitalismo não iria mudar a sua natureza, como sistema de exploração. Ele continuaria marcado pelas injustiças, pelas desigualdades e pelos flagelos sociais. E a vida confirma-o.

Na verdade, o primeiro Estado socialista deixou de existir, mas não desapareceu nem a exploração, nem a luta de classes, e muito menos as contradições do capitalismo inerentes à sua natureza de classe, com o mundo exposto mais perigosamente à lógica exploradora e agressiva do grande capital.

E as consequências estão hoje à vista, mais de duas décadas e meia depois desses acontecimentos.

O proclamado reino da democracia e da abundância do capitalismo globalizado, está aí no aprofundamento das desigualdades sociais e entre países, no aumento da concentração da riqueza a favor do capital transnacional, no agravamento da exploração, do desemprego, da precariedade, no aumento das injustiças sociais, com brutais custos para os trabalhadores e para os povos.

O anunciado caminho do desenvolvimento, deu lugar à grande regressão que há muito está em marcha, em permanente agravamento com a ofensiva do grande capital contra os direitos laborais e sociais, os serviços públicos, a soberania dos povos.

O paraíso da abundância, do progresso e da paz foi imediatamente desmentido nos ex-países socialistas onde a restauração capitalista se saldou num enorme desastre económico e social. Mais de 100 milhões de pessoas atiradas para a pobreza em meia dúzia de anos; uma diminuição drástica da esperança média de vida; e uma gigantesca recessão com contracções do PIB e da produção industrial na ordem dos 50%.

No plano mundial os grandes números da situação social falam por si. Entre 1988 e 2011 os rendimentos do 1% da população mais rica do mundo (que detém hoje 99% da riqueza mundial) cresceu a um ritmo 182 vezes superior aos rendimentos dos 10% mais pobres. Sete em cada dez países do Mundo viram nos últimos 30 anos aumentar a sua desigualdade de rendimentos. Esta desigualdade disparou nos últimos cinco anos, conduzindo-nos a esse dado que tanto revela da natureza do capitalismo: 8 pessoas detêm a mesma riqueza que três mil e seiscentos milhões de pessoas, metade da Humanidade.

É essa natureza do sistema capitalista que faz com que, existindo recursos para garantir a alimentação, a saúde, o emprego e rendimentos à totalidade da população mundial, mais de 800 milhões de pessoas passem fome e um em cada três seres humanos viva oficialmente abaixo do limiar da pobreza definido pela ONU.

Mas enquanto assim é, o grande capital multinacional, as grandes corporações, fogem descaradamente aos impostos como o mostram os sucessivos relatórios que se vão conhecendo dos offshores, concentrando cada vez mais riqueza, ao mesmo tempo que impõem vergonhosas políticas fiscais a favor dos mais poderosos e mais ricos , como a que acaba de ser aprovada nos Estados Unidos da América de Trump, com o mesmo falso pretexto de incentivar o investimento que por aqui vimos nestes anos da troika e pela mão do PSD e CDS.

Hoje temos o mundo marcado por uma grande instabilidade e incerteza em consequência da violenta ofensiva exploradora e agressiva do imperialismo, contra todos aqueles que considera serem um obstáculo ao seus intentos.

O grande capital incrementa o ataque aos direitos sociais e económicos, às liberdades e direitos democráticos, à soberania nacional, promove valores retrógrados, reaccionários e anticomunistas, e promove e instrumentaliza forças de extrema-direita e de cariz fascista.

A escalada agressiva do imperialismo assume uma particular gravidade, particularmente do imperialismo norte-americano, que – no quadro dum imenso e contraditório processo de rearrumação de forças à escala mundial – procura contrariar seu declínio relativo e impor o seu domínio hegemónico, promovendo uma escalada de tensão e provocação, operações de ingerência e guerras de agressão por todo o mundo – numa espiral de violência que, se não for travada, conduzirá a Humanidade à catástrofe.

Toda uma evolução que confirma que o capitalismo está por toda a parte em permanente confronto com as necessidades, os interesses, as aspirações dos trabalhadores e dos povos. Que não é reformável, humanizável ou regulável!

São muitos os problemas e as dificuldades a vencer, mas é no socialismo e não no capitalismo que os trabalhadores e os povos encontrarão resposta para as suas aspirações de liberdade, igualdade, justiça, progresso social e paz.

Sim, o mundo precisa do socialismo! Ele é uma necessidade que emerge com redobrada actualidade na solução dos problemas da humanidade. Uma necessidade que exige ter em conta uma grande diversidade de soluções, etapas e fases da luta revolucionária, certos de que não há “modelos” de revoluções, nem “modelos” de socialismo, como sempre o PCP defendeu, mas sim, leis gerais de edificação socialista: poder dos trabalhadores, socialização dos principais meios de produção, planeamento - e, sobretudo, como elemento decisivo, a edificação de um Estado democrático que promova e assegure a participação empenhada e criadora das massas na edificação da nova sociedade.

E não é o facto de o empreendimento da construção da nova sociedade socialista se ter revelado mais difícil, mais complexa e mais acidentada do que nós, comunistas prevíamos, que se podem pôr em causa as suas realizações, a sua justeza e a sua necessidade.

Nas condições de Portugal, a sociedade socialista que o PCP aponta ao nosso povo, passa pela etapa que caracterizámos de uma Democracia Avançada, uma etapa que sendo parte integrante da luta pelo socialismo, a sua realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e pela materialização de uma política patriótica e de esquerda que dá corpo a essa construção, num processo que não separa, antes integra de forma coerente o conjunto de objectivos de luta.

Também em Portugal a alteração da correlação de forças na situação mundial resultante do desaparecimento do socialismo como sistema mundial teve impactos profundamente negativos num País que tinha realizado uma Revolução com profundas transformações na vida dos portugueses.

A agenda do capitalismo dominante de liberalização, privatização e financeirização da economia, assumida de forma reforçada e ampliada pela política de direita de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, conduziu à destruição das conquistas de Abril e em consequência ao agravamento de todos os problemas nacionais, com a liquidação que promoveu dos sectores estratégicos da economia, dos principais sectores produtivos nacionais e dos direitos laborais e sociais dos trabalhadores e do povo.

Uma política que haveria de acabar por entregar os destinos do País à intervenção estrangeira do FMI, União Europeia e Banco Central Eeuropeu com resultados ruinosos para o País e para a vida dos portugueses.

As consequências estão hoje patentes e perduram na sociedade portuguesa: regressão acentuada da capacidade produtiva do País; uma dívida pública sufocante; regressão drástica das condições de vida dos trabalhadores e do povo e dos seus direitos; agravadas vulnerabilidades estruturais que se expressam no plano produtivo, alimentar, energético, demográfico, de ordenamento de território, de infraestruturas e serviços públicos, que tornam Portugal numa nação extraordinariamente exposta a alterações adversas do quadro internacional.

Vulnerabilidades às quais se junta um conjunto de fortes constrangimentos, resultantes nomeadamente do Euro, que condicionam seriamente o desenvolvimento do País.

Agudos problemas, cuja solução reclama para sua superação uma política patriótica e de esquerda, como a que o PCP defende para o País.

Uma política que não está refém das imposições externas e dos interesses do grande capital como a que assume o actual governo minoritário do PS.

Uma política que tem como elementos decisivos, entre outros: a libertação do País da submissão ao Euro e à União Europeia; a renegociação da dívida pública para libertar recursos; a defesa e promoção da produção nacional e dos sectores produtivos, articulada com a valorização do trabalho e dos trabalhadores, como objecto e condição do desenvolvimento; a recuperação para o sector público dos sectores básicos estratégicos da economia; uma administração e serviços públicos ao serviço do povo e do País.

A Revolução de Outubro foi sempre, desde o seu primeiro momento, objecto das mais insidiosas e odiosas campanhas difamatórias. Cem anos passados e apesar do enorme esforço e empenhamento dos centros ideológicos do capitalismo internacional e da historiografia burguesa para diminuir a sua importância e apresentá-la aos olhos das actuais gerações como uma efeméride sem importância, a verdade é que, desmentindo-se a si próprios, vimo-los, neste tempo de passagem do Centenário, superando-se em meios e recursos, afadigados numa desmesurada cruzada anticomunista e contra a Revolução de Outubro.

Eles bem repetem que Outubro morreu, que nada já representa, mas para quem assim quer fazer que pensa, bem podia dispensar os quilos de papel e prosa que gastam a repisar mentiras e mistificações, o tempo gasto a construir fantasiosas histórias sobre a Revolução de Outubro.

Nós sabemos o que verdadeiramente os inquieta e os move. E o que os inquieta e os move, é saberem que a Revolução de Outubro é um acontecimento maior da história e que mesmo derrotado o socialismo na URSS, tal como antes a Comuna de Paris, permanece como semente de futuro que a luta dos povos há-de fazer germinar.

De facto, este tempo de passagem do Centenário tem sido pretexto para a difusão em grande escala do mais baixo e odioso anticomunismo. Por cá, assistimos, particularmente nos dias em volta da data do aniversário da Revolução de Outubro, ao avolumar do coro dos arautos da militância anticomunista com presença assídua no comentário e no editorial na comunicação social, martelando, à vez, os lugares comuns há muito fabricados nos laboratórios do anti-sovietismo, numa tarefa que contou com o concurso de “afamados” historiadores estrangeiros, escolhidos a dedo, como o senhor Orlando Figes, cuja neutralidade científica da sua obra se pode deduzir na parcialidade das opiniões que emitiram nas entrevistas que deram e nas estapafúrdias relações que estabelecem entre a Revolução e a realidade da vida internacional dos nossos dias.

Vimo-los a uns e a outros, a difundirem as mais torpes e estafadas mentiras não apenas para denegrir e diabolizar a Revolução de Outubro, mas os comunistas e o seu projecto, e até a deturpar deliberadamente o que de viva voz o PCP hoje afirma sobre o significado de tão marcante acontecimento.

Lá vieram as coçadas e estafadas teses do “golpe” de conspiradores, a Revolução produto de “aventureiros”, “um acaso” e não uma necessidade histórica, um acidente e não obra dos próprios trabalhadores e de um povo que com a sua luta abria as portas da sua própria libertação. Lá veio a tese mil vezes repetida do carácter particular e local da Revolução não repetível.

Mas o que assume um particular destaque, na campanha destes últimos dias é a concentração da invectiva contra Lenine e os primeiros anos da Revolução, numa tentativa de matar o ideal comunista no próprio berço.

Falam de uma violência brutal, uns de centenas de milhares mortos, outros de dezenas de milhões, responsabilizando Lenine e a Revolução, incluindo por uma guerra civil (1918-21) desencadeada pelo estrangeiro e pela contra-revolução interna. Falam de violência, condenando o agredido e absolvendo o agressor, omitindo descaradamente a contínua invasão militar estrangeira poucos meses após o nascimento da República dos Sovietes, de apoio e incitamento da contra-revolução interna à luta e liquidando em várias partes do território o poder soviético.

Na verdade, podia o novo poder revolucionário, alcançado praticamente sem que se desse um tiro, tomar como primeira decisão, propor a todos os beligerantes envolvidos na I Guerra Mundial negociações para se obter a paz, de uma forma justa e democrática, mas o que se difundia e difunde é uma vontade indómita de violência desse novo poder.

Podia o poder soviético aspirar e Lenine teorizar sobre a possibilidade do desenvolvimento pacífico da Revolução, mas o que a propaganda imperialista e a reacção internacional difundiam e hoje continuam a difundir, é a ideia de que a Revolução era intrinsecamente portadora do caos e da violência, porque o tinha inscrito no seu ADN.

Sim, houve muitas vítimas e o País dos sovietes atravessou dias difíceis, mas a responsabilidade não foi de Lenine, nem da Revolução, mas dos governos das principais potências capitalistas que organizaram a intervenção militar, em articulação com as forças da reacção interna.

A Rússia foi martirizada não por iniciativa do poder soviético, mas pela invasão de 14 países, pelas ofensivas, pelas revoltas subvencionadas, pelo bloqueio impiedoso do imperialismo.

A dimensão das campanhas contra a Revolução de Outubro tem uma primeira explicação: ela mostrou, pela primeira vez, a possibilidade de arrebatar o poder económico e político ao Capital e reorganizar a sociedade sem ser na base da exploração de classe. E, tão grande audácia não podia passar sem uma violenta resistência da classe dominante. São inúmeros os exemplos na história que mostram que as classes exploradoras nunca recuaram perante nenhum crime para defender o seu poder.

Bastaria apenas pôr os olhos no último balanço dado à estampa, pelo norueguês Jonh Galtung, fundador da disciplina dos Estudos da Paz, sobre a acção do imperialismo americano nos dois últimos séculos: lá estão mais de duas mil intervenções militares, por sua conta e exclusiva iniciativa. Contando apenas desde 1945, os EUA mataram mais de 20 milhões de pessoas em mais de 47 países.

Mas, nesta matéria de invectivar a Revolução e Lenine, o senhor Figes, o “aclamado autor britânico” assim classificado pelo anticomunismo caseiro e por ele erigido em expoente máximo do conhecimento sobre a Revolução de Outubro, é bem o protótipo da investigação preconceituosa e especulativa, assente em juízos fundamentalmente ideológicos e capaz das mais extravagantes extrapolações. Não se trata apenas da enviesada tese que afirma que a Guerra Civil foi um acto deliberado dos bolcheviques e um mecanismo que se tornou crucial nas Revoluções em todo o mundo. É o que dela deliberadamente se projecta como leitura da realidade de hoje.

A sua delirante conclusão de que nos nossos dias também o "Daesh (o Estado Islâmico) é bolchevique" não é apenas opinião de um “artífice” da manipulação, tem como propósito deliberado promover a criminalização do comunismo e a sua identificação com terrorismo.

Mas a parcialidade deste e de outros refinados manipuladores da memória são as suas afirmações de que não há nada na Revolução que se possa reclamar como positivo.

Só a cegueira ideológica pode justificar não reconhecerem o vasto conjunto de grandes conquistas e realizações políticas, económicas, sociais, culturais, científicas e civilizacionais do socialismo na União Soviética.

Só uma deliberada opção ideológica pode escamotear o facto indesmentível da Revolução Socialista ter transformado a atrasada Rússia dos czares, um País com atrasos colossais, onde persistiam relações feudais, num País altamente desenvolvido, mais industrializado e socialmente mais avançado provocando efeitos extraordinários à escala planetária.

Só num processo de intenções ideológico se pode omitir o facto da Revolução e o poder soviético terem conseguido num curto período de tempo histórico, ter alcançado um significativo desenvolvimento industrial e agrícola, ter eliminado o desemprego, confirmando a superioridade da propriedade social e da planificação económica. Ter erradicado o analfabetismo e generalizado a escolarização e o desporto, garantiu e promoveu os direitos das mulheres, das crianças, dos jovens e dos idosos.

Tudo feito, apesar da intervenção de potências imperialistas, da guerra civil, do bloqueio económico e da sabotagem, de duas grandes guerras devastadoras.

Tanta abundante e profunda análise e conseguem escamotear que foi a pátria dos «sovietes», o primeiro País do mundo a pôr em prática ou a desenvolver como nenhum outro, direitos sociais fundamentais, como o direito ao trabalho, a jornada máxima de 8 horas de trabalho, as férias pagas, a igualdade de direitos de homens e mulheres na família, na vida e no trabalho, os direitos e protecção da maternidade, o direito à habitação, a assistência médica gratuita, o sistema de segurança social universal e gratuito e a educação gratuita.

A historiografia burguesa e os média dominantes omitem deliberadamente o que a propaganda imperialista a todo o custo esconde: o imenso contributo da URSS e do povo soviético para o avanço da luta emancipadora dos trabalhadores e dos povos, incluindo no apoio à conquista da independência de numerosas nações secularmente submetidas ao jugo colonial e o seu inquestionável papel de força mundial do progresso e da paz.

Victor Sebestyien, outra sumidade empenhada na reescrita da história que recorreu também ao anticomunismo doméstico, veio na mesma linha de criminalização da Revolução, proclamar do alto da sua cátedra que “a existência de Hitler e a II Guerra Mundial se devem à Revolução Russa”.

Nem mais, nem menos! E assim se lava e branqueia o criminoso papel do grande capital alemão e do próprio nazismo, a mais brutal expressão do fascismo e se reconstrói a história à imagem dos interesses dominantes. Assim se apaga a cumplicidade e apoio do grande capital alemão na ascensão do nazismo ao poder e do seu projecto que via no anti-comunismo e nacionalismo xenófobo nazi e no seu programa – de liquidação de liberdades e direitos democráticos, de militarismo e de expansão e domínio mundial –, o instrumento para concretizar a sua agenda de exploração, opressão e agressão.

Esta insultuosa e caluniosa ligação entre a Revolução e o fascismo, entre comunismo e fascismo tem outro objectivo - mostrar também que o projecto comunista é intrinsecamente perverso e anti-democrático.

Desde logo, transformando aquela que foi a mais democrática das formas de poder até então existentes – o poder dos trabalhadores, os sovietes, o voto universal, a participação directa, activa e criadora das massas no processo de construção da própria vida - num “totalitarismo” semelhante ao nazi-fascismo.

Isso, num tempo em que praticamente em nenhum país capitalista europeu ou americano, as grandes massas tinham direito a voto, apenas os proprietários e alguns estratos minoritários da população.

Neste afã de deturpação do projecto comunista que junta e equipara fascismo e comunismo, tentam a todo custo demonstrar uma incompatibilidade entre a Revolução de Outubro e a democracia, entre o socialismo e democracia, utilizando-a como uma arma de arremesso contra os partidos comunistas e revolucionários. Culpam a Revolução de Outubro de ser a portadora e conter em si os germes das desfigurações, erros e desvios por nós assinalados em congressos e não escondidos que conduziram à trágica derrota da URSS.

Mas como temos afirmado não é na Revolução de Outubro – a mais libertadora das revoluções contemporâneas – que se pode encontrar a origem do desaire que representou a destruição do socialismo na URSS, mas num “modelo” de construção do socialismo que, como temos afirmado, acabou por se afastar e contrariar o ideal e o projecto comunistas em questões fundamentais.

Não! O socialismo não é incompatível com a democracia. O socialismo precisa da democracia, da participação consciente dos trabalhadores e do povo para se afirmar e desenvolver. Não há socialismo sem a participação dos trabalhadores e do povo, o seu contributo, o seu empenhamento, a sua decisão, sem uma organização da sociedade com um funcionamento profundamente democrático.

É por isso que no centro do projecto político do PCP e para todas as fases e etapas do processo de desenvolvimento da sociedade portuguesa está a concretização da democracia nas suas vertentes política, económica, social e cultural, no quadro de um sistema político assente num Estado democrático representativo e participado.

Um projecto garantido e alicerçado na história quase centenária deste Partido Comunista Português em defesa da liberdade e da democracia e ao serviço dos trabalhadores e do nosso povo.

A campanha e o ataque sistemático ao ideal e ao projecto comunistas conduzido pelos centros de produção e reprodução da ideologia dominante só se coloca na dimensão que temos visto, por que a sociedade que a Revolução de Outubro projectava e construía é uma necessidade histórica.

E por muito que os defensores do sistema de exploração o apregoem, o século XX, como afirmava Álvaro Cunhal, “ não foi o século do ’fim do comunismo’, mas sim o século do ‘princípio do comunismo’ como concretização e edificação de uma nova sociedade para o bem do ser humano”.

Estamos a chegar ao fim das comemorações do Centenário da Revolução Socialista de Outubro, dessa Revolução que rasgou os caminhos para a construção de uma sociedade nova nunca antes conhecida pela humanidade.

Essa Revolução de memórias de lutas e de sonhos, de emancipação dos explorados e oprimidos, portadora de um vivo desejo de futuro e que hoje nos continua a dizer que outro mundo mais justo é possível!

Essa Revolução que permanece como fonte de inspiração para as lutas que hoje travamos fazendo frente à ofensiva do grande capital, do imperialismo, do lado dos trabalhadores e dos povos pela conquista da sua emancipação social e nacional.

Comemorámos Outubro, honrando e homenageando os seus obreiros e o seu imenso contributo para o avanço da luta emancipadora dos trabalhadores e dos povos, e reafirmando o seu carácter universal.

Comemorámos Outubro apresentando o acervo de realizações, conquistas e transformações progressistas que pela acção dos comunistas marcaram o último século, envolvendo todo o planeta.

Comemorámos Outubro reafirmando não apenas a validade do socialismo como solução para dar resposta aos grandes problemas dos povos e da humanidade, mas demonstrando a necessidade e possibilidade da superação revolucionária do capitalismo pelo socialismo e o comunismo.
Comemorámos Outubro e a sociedade que dela emergiu e se afirmou como uma força mundial da paz e da amizade entre os povos.

Comemorámos Outubro afirmando e valorizando o papel da classe operária, dos trabalhadores e dos povos, da sua unidade, organização e luta no processo de transformação social e, particularmente, o papel histórico da classe operária e dos seus aliados nessa realização pioneira e no porvir da sociedade nova, sem classes sociais antagónicas e liberta da exploração do homem por outro homem.

Comemorámos Outubro tendo presentes os seus êxitos e derrotas, reflectindo, colhendo e utilizando os ensinamentos dos complexos processos de edificação da nova sociedade que se desenvolveram pisando terreno desconhecido e novo.

Comemorámos Outubro reafirmando a determinação inabalável do PCP de lutar para que o socialismo se torne uma realidade do amanhã do povo português.

Saímos destas Comemorações mais fortalecidos, mais conhecedores e mais convictos da justeza da nossa luta.

É municiados com a avaliação que fazemos da Revolução de Outubro e com as experiências de cem anos de luta dos comunistas e revolucionários de todo o mundo que em Portugal continuaremos a luta pela afirmação do ideal e o projecto comunistas.

É munidos com a experiência acumulada pelo movimento comunista ao longo de cem anos de luta que afirmamos com orgulho a independência e a identidade de classe do nosso Partido, a sua ideologia marxista-leninista, a sua natureza patriótica e internacionalista.

Um Partido Comunista que não abdica de o ser, determinado, combativo, consciente do seu papel, firme no seu ideal e na afirmação do seu projecto transformador e revolucionário, e que tem sempre presente no horizonte da sua acção e intervenção a construção da sociedade nova – o socialismo, condição de futuro inseparável da plena libertação e realização humanas.

É com a profunda convicção de que o socialismo e o comunismo são o futuro da humanidade que continuamos a nossa luta, firmemente conscientes que o futuro se constrói e conquista com a luta dos trabalhadores e do povo!

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