Os lucros da Galp deste primeiro semestre têm causado justa indignação. São 420 milhões de euros num único semestre, um número impressionante, um aumento de 153% face aos números já extraordinários do primeiro semestre de 2021. Mais impressionante seria o número se a Comunicação Social tivesse optado por destacar a quantificação desses lucros de acordo com as regras internacionais de contabilidade (IFRS), pois os valores aumentam para os 713 milhões de euros de lucros, mais 207% que em igual período de 2021.
A própria Galp atribui esses resultados extraordinários ao «ambiente internacional favorável» (do relatório entregue na CMVM), ou seja às guerras, às sanções e à inflação galopante, situação esta que está a ser aproveitada pelo grande capital, conforme o PCP tem denunciado. Não deixa de ser chocante, ainda que reveladora da natureza desumana do capitalismo, justificar estes lucros com o «ambiente internacional favorável», seja pelas vítimas directas causadas pelos conflitos em curso na Ucrânia, na Somália, no Iémen, na Síria e em tantos outros países, seja pelas consequências deles decorrentes para os trabalhadores e os povos do mundo resultantes da inflação e das restrições energéticas.
As contas da Galp também revelam dois outros números que têm sido menos difundidos: que do primeiro semestre de 2021 para o primeiro semestre de 2022 a sua margem de refinação aumentou 604% e o preço de venda da energia solar gerada aumentou 170%. Ou seja, a demonstração de que aquilo que está a acontecer é um inaceitável movimento especulativo em torno dos preços, e que a política do Governo tem sido completamente errada. A redução parcial de impostos que se verificou está na prática a alimentar os lucros destas empresas e os apoios atribuídos a alguns sectores ficam muito aquém da escalada de preços verificada.
É também particularmente significativo que a Galp obtenha estes resultados num momento em que o encerramento da Refinaria de Matosinhos se repercute negativamente nas suas contas para lá dos prejuízos profundos que causa à economia nacional, ao aumentar a dependência externa de um conjunto de produtos refinados. Mais uma vez fica demonstrado que o interesse do grande capital não é o interesse nacional.
Tal como o PCP tem reivindicado, o que se exige são medidas que podem de facto travar a especulação com o preço dos combustíveis e devolver ao País o controlo sobre um sector estratégico para a sua economia:
- Fixação de preços máximos para os combustíveis;
- Taxação extraordinária dos lucros extraordinários que as petrolíferas estão a realizar com a especulação, a guerra e as sanções;
- Fim da dupla tributação do IVA sobre o ISP;
- Recuperação do controlo público da Galp.
São medidas de ruptura com a liberalização do sector, e de ruptura com a subserviência nacional face às imposições da União Europeia e do grande capital. Mas estes resultados da Galp, que contrastam com as dificuldades que estão a ser impostas ao povo português, mostram que é mesmo preciso romper com a política de direita, como o PCP vem alertando de há muito.