Estamos hoje aqui a comemorar o aniversário de um jornal que desde a já distante data de 1931 esteve sempre estreitamente ligado à corajosa, determinada e abnegada luta do PCP, às lutas dos trabalhadores e do povo, à luta pelo pão, pela liberdade, pela democracia e o socialismo. A voz que na ditadura fascista foi esperança, impulso e informação sobre a luta, a resistência, sobre a vida e a realidade que nos era ocultada.
A voz dos explorados, dos injustiçados, dos ofendidos, a voz dos que ontem como hoje lutam pela transformação social e por uma sociedade em que "o homem deixe de ser o lobo do próprio homem".
E estamos aqui hoje também a apresentar a remodelação do «Avante!», remodelação escolhida por nós, com a nossa reflexão, com o nosso debate crítico, com os nossos critérios e não ditada de fora.
E remodelação para quê?
Para deixar de ser o órgão oficial do nosso Partido, para deixar de ser um jornal para o povo, para os trabalhadores, para os democratas, para deixar de ser um jornal de esquerda, um jornal comunista?
Evidentemente que não.
Remodelação sim, porque o «Avante!» quer ser mais atraente, porque quer ser mais difundido, pois como já foi afirmado "um jornal só o é quando é lido - não quando é escrito".
Remodelação para estarmos mais presentes e com mais eficácia na batalha das ideias, para combater a expressão do chamado "pensamento único", para dar a conhecer a realidade do mundo do trabalho, para combater a pedagogia da renúncia e do compromisso e os que procuram sepultar o comunismo, ou erradicá-lo da consciência, das aspirações e do horizonte da acção dos homens.
Remodelação para que o «Avante!» seja um melhor veículo na intensa e imaginosa intervenção do Partido, para vencer as ideias feitas e bloqueamentos à compreensão da nossa mensagem.
Remodelação para elevar a consciência critica e política das massas, contra o culto da superficialidade, do efémero, da perda de memória e para desempenhar um mais intenso e reforçado papel na luta contra as políticas de direita e os mecanismos de exploração e dominação na luta pelo progresso e a justiça social.
Queremos um melhor «Avante!» e um «Avante!» mais lido, pois conhecemos bem "a contradição entre a realidade do País, as aspirações e os problemas dos trabalhadores, da juventude, das populações e o modo como essa realidade é representada, seleccionada e fragmentada nos media".
Queremos um melhor veículo para comunicar para que cada vez mais trabalhadoras e trabalhadores, mais portuguesas e portugueses conheçam com verdade, o que somos, o que defendemos, o que criticamos e combatemos, o que desejamos para o nosso povo e país. E isto porque, há infelizmente, quem se paute não por critérios de rigor, comprovados na fonte e considere como verdade o que lhe chega por qualquer informação não verificada ou o que simplesmente é repetido nos vários meios de comunicação social.
Vivemos na chamada sociedade de informação global, com meios colossais.
Num quadro de gigantismo dos grupos dominantes da comunicação social, pertencentes às classes dominantes em que se multiplicam as fusões e absorções e os esforços para o controlo por cada grupo de toda a cadeia informativa, onde o que conta é a conquista de audiências a qualquer preço, a rentabilidade e o lucro, levando ao triunfo mesmo na imprensa escrita, da superficialidade e do simplismo em contradição com novas complexidades da vida e de vida política.
Num quadro em que a informação deixou de ser para muitos uma disciplina cívica, mas que, por isso mesmo, mais justifica o nosso sincero apresso por todos os profissionais de informação que, com criatividade e sentido ético, nos dão importantes contribuições para a vida democrática do país.
É neste contexto, com realismo, tendo em conta as nossas possibilidades, que o «Avante!» de cabeça erguida continua a trabalhar para ser um melhor jornal. E o «Avante!» tem naturalmente de continuar a reflectir a intervenção do Partido, a sua riqueza, a valia do nosso projecto, as nossas convicções comunistas, mas não serviria a luta dos trabalhadores e do povo e a luta ideológica se este se transformasse num boletim interno do Partido, com o registo de todas as iniciativas partidárias.
Por tudo isto, esta busca, esta procura, terá de ser uma procura de sempre em renovar o «Avante!».
Precisamos de vencer muitas dificuldades. Os nossos recursos financeiros são escassos. Mas trabalharemos, reafirmo, para que o «Avante!» esteja cada vez mais ligado à vida, aos problemas dos trabalhadores, à sociedade e para que a sua difusão, circulação leitura, critica e debate seja tarefa assumida pelo colectivo partidário.
Por último duas breves palavras para dizer que falar do «Avante!» implica naturalmente falar da nossa Festa, da Festa do «Avante!». Ela faz parte das grandes tarefas que se perfilam no nosso horizonte de trabalho partidário, na confiante certeza do seu êxito de sempre, como grande iniciativa política e cultural de massas.
Há, contudo, neste dia, mais uma razão para falar da Festa. Ela tem sido construída ao longo de mais de duas décadas pelo esforço militante das organizações do Partido e dos seus militantes, mas também, e determinantemente, pelo trabalho, pela criação de beleza de centenas de artistas. Pintores, músicos, escritores, homens e mulheres do teatro e do cinema, escultores, arquitectos e tantos, tantos mais.
Sucede que hoje, neste dia em que falamos da remodelação do jornal que dá o nome à Festa, completa 75 anos um homem que a ela muito deu, tanto quanto é uma referência incontornável da cultura e da música portuguesa contemporâneas: o nosso querido camarada Carlos Paredes.
Para ele, neste dia, vai também a nossa palavra de agradecimento pelo seu contributo para uma democracia enriquecida pela beleza da arte e para uma arte identificada com a democracia e o povo.
A segunda para deixar aqui uma singela saudação, que exprime, estou certo, o sentimento de todos os presentes, ao Dias Lourenço, ao Ruben de Carvalho, ao Fernando Correia, ao Carlos Brito, ao Leandro Martins, ao José Casanova e a todos e a todas, que em cada semana dão corpo e asseguram a difusão ao Órgão Central do insubmisso e sempre com os trabalhadores e com o povo, Partido Comunista Português.