Intervenção, XVII Congresso do PCP

Intervenção sobre o «Avante!»


Gustavo Carneiro, do Colectivo do Avante!

Com os órgãos de comunicação social cada
vez mais controlados por um cada vez menor número de grandes grupos
económicos, a leitura da imprensa do Partido assume hoje uma importância
particular.

Como muito justamente afirma o Projecto de Resolução Política,
a imprensa partidária constitui um instrumento insubstituível
na informação com verdade e na batalha das ideias. Podemos
mesmo afirmar que quem não ler o Avante! não está
informado sobre aspectos essenciais das grandes questões nacionais
e internacionais.

Alguns exemplos:

- Quem saberia da dimensão da ofensiva do Pacote Laboral se não
tivesse seguido, atentamente, os vários números que dedicámos
a isso no Avante!?

- Quem conheceria, com profundidade, o real alcance dos ataques às
funções sociais do Estado, como a Educação,
a Saúde ou a Segurança Social, com vista à sua privatização,
se não fosse pelas páginas que o Avante! consagra a estes
problemas semana atrás de semana?

- Por onde, sem ser pelo Avante!, se poderia saber das muitas lutas travadas
pelos trabalhadores, no país e no mundo, contra o desemprego e
contra o ataque a direitos fundamentais?

- Como saber da real dimensão da heróica resistência
dos povos ao imperialismo sem ser através da leitura do nosso órgão
central? E como saber dos crimes cometidos pelos agressores imperialistas,
no Iraque, na Palestina, ou em Cuba, através de um bloqueio imoral
e criminoso, que priva todo um povo de bens essenciais?

Por tudo isto, e muito mais, as nossas responsabilidades são actualmente
imensas. Somos, infelizmente, o único jornal de esquerda de expansão
nacional existente no País.

Voltámos, por razões diferentes, a ser o que fomos durante
os 43 anos de existência clandestina: a voz do que não têm
voz! É nas nossas páginas que trabalhadores, estudantes,
reformados, utentes dos serviços públicos, mulheres, povos
oprimidos e combatentes têm espaço para, na primeira pessoa,
dizerem de suas causas, de suas razões, que são as nossas,
dos comunistas.

Sim, tomamos Partido, não o escondemos. Mas não é
por esta razão que somos diferentes dos outros. A diferença
reside no partido que tomamos. Os restantes estão do outro lado:
Do lado dos defensores e executores da política de direita, da
política da guerra, da ocupação, da destruição
do emprego, da concentração da riqueza e da globalização
da pobreza.

Quando muito se fala de condicionamentos e pressões sobre a comunicação
social, é bom não esquecer que, por muito que lutem por
mais audiências ou tiragens, numa coisa concordam: no silenciamento
ou deturpação das posições, projectos ou ideais
dos comunistas e do seu Partido, bem como do movimento dos trabalhadores,
das suas lutas, reivindicações e propostas.

O contrário é que seria de estranhar. Propriedade de grandes
grupos económicos, eles são a voz dos seus patrões.
Tal como nós, do outro lado do “risco na areia” de
que fala o camarada Álvaro Cunhal, somos a voz do Partido –
do único partido que lhes dá firme e constante combate,
o Partido Comunista Português!

Como atrás se disse, as nossas responsabilidades são enormes.
Há que fazer chegar mais longe a nossa voz. Por muito difícil
que por vezes pareça ser, e é, “passar a nossa mensagem”.

Mas a prática mostra que quando há um esforço real
para vender o Avante! ele é bem aceite. E porquê? Por dizer
o que mais ninguém diz. As provas estão no aumento das vendas
nas edições especiais sobre o Pacote Laboral, sobre os ataques
ao Serviço Nacional de Saúde ou, mais recentemente, sobre
a nova lei das rendas.

Nos últimos anos procurámos dar, e acreditamos ter dado,
importantes passos para a melhoria do nosso trabalho. Renovámos
e rejuvenescemos a Redacção, aumentámos a capacidade
de enviar jornalistas em reportagem, introduzimos alterações
gráficas na primeira e na última página.

Mas isto de pouco ou nada vale se o Avante! não sair para a rua,
para junto dos trabalhadores e das populações, onde é
o seu lugar!

Os tempos são diferentes. Mas é com o pensamento nos construtores
do heróico Avante! clandestino, que deram o melhor das suas vidas
– e mesmo as suas próprias vidas – para fazer deste
jornal exemplo ímpar na imprensa clandestina, que prosseguimos,
com empenho, a nossa luta pela nova sociedade pela qual todos lutamos,
a sociedade socialista e comunista.

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