Intervenção, 10.º Congresso da Juventude Comunista Portuguesa

Intervenção de Abertura do 10.º Congresso da JCP

Camaradas,

Em nome da direcção nacional da JCP, damos–vos mais uma vez as boas vindas desejando desde já, votos de bom trabalho a todos durante os dois dias do nosso congresso.

Saudamos todos os delegados e convidados presentes. Saudamos todos aqueles que por motivos profissionais ou pessoais, não podem estar presentes. São todos estes camaradas e amigos que construíram e preparam o nosso congresso e todos os que aqui estão hoje, que confirmam a JCP como a força de vanguarda com papel insubstituível na defesa dos direitos da juventude e na luta pela concretização das suas aspirações.

Permitam-nos uma referência em particular aos camaradas e amigos que nos últimos dias implantaram os vários espaços do nosso congresso, em particular os camaradas da Organização Regional de Lisboa.

Um agradecimento especial a todas as organizações do Partido, em especial à Organização regional de Lisboa e Setúbal e à Festa do Avante!, pelo contributo fundamental que deram para a construção e sucesso do nosso Congresso!

Uma palavra de agradecimento também para as várias instituições que contribuíram para a realização do Congresso:

- Faculdade de Medicina Dentária da UL;
- Juntas de Freguesia da Charneca da Caparica, a União de Freguesias do Barreiro e Lavradio, União de Freguesias do Alto Seixalinho, Santo André e Verderena, Arroios e Carnide, Bucelas e Loures;
- Câmaras Municipais de Almada, Barreiro, Lisboa, Loures, Moita, Palmela e Seixal.

Saudamos os representantes das associações juvenis, do movimento da paz, do movimento sindical e das juventudes partidárias que responderam ao convite da JCP e que muito nos honram com a sua presença.

Com alegria e fraternidade, damos as boas vindas aos camaradas das diversas delegações das juventudes comunistas e progressistas do mundo que nos honram com a sua presença e mostram que a solidariedade internacionalista está viva! Saudamos:

- Juventude do MPLA
- Juventude Comunista da Áustria
- COMAC da Bélgica
- Liga de juventude Comunista do Canadá
- EDON do Chipre
- Colectivo de Jovens Comunistas da Catalunha
- Colectivo de Jovens Comunistas de Espanha
- União de Juventudes Comunistas de Espanha
- Movimento de Jovens Comunistas de França
- Federação de Juventude Comunistas de Itália
- Juventude Comunista da Grécia
- UJSARIO – Sahara Ocidental
- União de Juventude Socialista do Sri Lanka
- Juventude Comunista da Venezuela
E a Federação Mundial da Juventude Democrática.

Saudamos fraternalmente a delegação do Partido Comunista Português, partido que pela sua juventude e pela sua acção, se confirma diariamente como o Partido da Juventude! É com alegria que afirmamos que é um orgulho sermos a juventude deste partido com um património incomparável de gerações e gerações de jovens lutadores. Um partido que foi sempre a força motriz da luta da nossa juventude e do nosso povo, construtor de um dos dias mais bonitos da história de Portugal, o 25 de Abril, cujo 40º aniversário assinalamos este ano.

Camaradas,
chegamos hoje ao culminar de um amplo processo de preparação. Processo que é ímpar nas organizações de juventude: a discussão colectiva dos documentos e da composição da DN a ser eleita, a definição de medidas de reforço da organização e da intervenção, a formação ideológica. Tudo isto, ao mesmo tempo que discutimos e trabalhamos para o reforço do movimento associativo estudantil e juvenil, do movimento sindical, que assumimos a vanguarda e dinamizamos a luta em cada escola, nos locais de trabalho e nas ruas! O nosso congresso não começou hoje e as suas decisões e conclusões não terminam amanha, nem podem ficar nesta sala. É por isso, que estes dois dias que aqui passaremos são simultaneamente um ponto de chegada, mas também um pontapé de saída.

Ponto de chegada, em que desde de Agosto do ano passado, foram centenas de iniciativas, discussões da Resolução Política, distribuições, colagens de cartazes, pintura de murais, a concretização da campanha de fundos e sobretudo, milhares de conversas e contactos feitos nas escolas e nos locais de trabalho. Levar o congresso a mais e mais pessoas, esclarecer, consciencializar mais e mais para a necessidade da luta organizada para a derrota do governo e desta política de estrangulamento das nossas vidas.

Foram mais de 700 novos recrutamentos. 700 jovens que, mesmo contra todas as dificuldades, recusaram aceitar as inevitabilidades propagandeadas, deram o passo, decidiram lutar pelo seu futuro e pelo seu país, decidiram tomar Partido!

Realizámos durante a preparação do Congresso encontros e plenários regionais em Beja, Évora, Setúbal, Lisboa, Santarém, Leiria, Coimbra, Aveiro e Porto. Estes espaços e o seu próprio processo preparatório, constituíram momentos fundamentais para o aprofundar o conhecimento das diversas realidades de cada região e dessa forma, definir as linhas específicas de intervenção e acção no seio da juventude.

O Projecto de Resolução Política chegou a centenas de camaradas e amigos, foram realizadas centenas de reuniões e debates e foram muitos os contributos para o seu enriquecimento. Como referimos na sua introdução, na Resolução Política retrata-se “a realidade juvenil no país e no mundo, analisa-se o que temos feito e, mais importante do que tudo, projecta-se como queremos desenvolver a actividade da organização e como queremos desenvolver a luta em face da situação descrita. Este documento é, simultaneamente, uma fonte de aprendizagem – pois parte do património de discussão passado e presente da organização – e um elemento inacabado, já que a realidade é dinâmica, se altera e reconfigura e assim também a análise e linhas de intervenção sobre a realidade evoluem.

Camaradas,
Realizamos este Congresso num contexto de degradação profunda dos direitos e das condições de vida da juventude, do povo português e dos trabalhadores por todo o mundo.

Os últimos quatro anos são de aprofundamento das contradições sistémicas do capitalismo que há muito se vinham manifestando, de agravamento da sua crise estrutural e explosão de uma das suas mais agudas crises cíclicas, e que deitam por terra todas as previsões sobre a sua superação.

Passados 40 anos da Revolução de Abril e à medida que os sucessivos governos avançam com a destruição das suas conquistas, nós jovens sentimos na pele este ajuste de contas, com o crescente roubo de direitos e as cada vez mais fortes tentativas de estrangulamento das nossas vidas. Dois anos e meio passados da assinatura do Pacto de Agressão, entre PS, PSD e CDS com a Troika estrangeira, a situação em que a juventude portuguesa se encontra é dramática.

Com os cortes brutais no orçamento para a Educação, em mais de 1 400 milhões de euros desde 2011, o que sentimos hoje nas escolas seja do ensino profissional, secundário ou superior é comum: as dificuldades económicas estão no centro das preocupações.

Assistimos a um generalizar da precariedade, com situações entre a juventude, que roçam a escravatura. São milhares e milhares de jovens trabalhadores que entregam a sua força de trabalho, são milhões e milhões de lucros que dão a ganhar aos seus patrões, em troca de quase nada.
Hoje, em Portugal, são cerca de 40% os jovens até aos 35 anos que estão desempregados. Quase meio milhão de jovens não estuda, não trabalha, nada faz, nem sequer perspectiva tem. E os números podem bem ser superiores, com a emigração como única solução que se apresenta e que cresce e atinge números que nos levam à década de 60.

Vivemos num país cada vez mais dependente e subordinado aos interesses do imperialismo, num país de novo dominado por monopólios e sujeitos à ditadura dos mercados e dos grupos económicos e financeiros. Um país em que os sucessivos governos submissos à UE, a uma Troika estrangeira e aos interesses do grande capital internacional, conduzem os jovens para o obscurantismo, para a fome e miséria, nos destroem o direito a uma vida digna.

A política de ataque e destruição dos valores de Abril, que este governo conduz, é também acompanhada de uma fortíssima repressão às liberdades e à democracia e de uma forte ofensiva ideológica, em que se procura fazer-nos uma geração usada e desusada, desinformada, cansada, controlada.

Mas, contra a política e governos de traição nacional em favor das classes dominantes, a juventude e o povo levantam-se e são quem realmente luta e defende os interesses do país!

Assim foi nos últimos 4 anos, em que a juventude resistiu e se levantou conta os ataques aos seus direitos e em que foram os jovens a estar muitas vezes, na linha da frente das lutas dos mais variados sectores.

Foram milhares e milhares os estudantes que lutaram nas suas escolas e faculdades, que saíram à rua como assistimos já no passado mês de Março em que os estudantes do ensino básico e secundário a saírem à rua em massa por todo o país pelos seus problemas concretos e mais gerais; a manifestação nacional dos estudantes do ensino superior no dia 2 de Abril, com milhares de estudantes nas ruas de Lisboa. Daqui saudamos a sua coragem e determinação, saudamos todos os estudantes que contra todas as adversidades, perseguições e repressões não abandonam a luta pela Escola de Abril!

Saudamos os jovens trabalhadores que se ergueram contra a exploração, a precariedade e o desemprego, bateram-se pelo aumento dos salários, por melhores condições de trabalho. Foram milhares os jovens que participaram nas lutas concretas nas suas empresas, nas acções e enormes manifestações da CGTP, nas greves gerais.

A manifestação do passado dia 28 de Março, Dia Nacional da Juventude, é exemplo da força e combatividade dos jovens trabalhadores portugueses que não desistem e exigem o direito a ser felizes no seu país! Saudamos e destacamos o papel da CGTP-IN, a central sindical de classe dos trabalhadores portugueses!

Saudamos todas as lutas desenvolvidas! As grandes e pequenas, as mais gerais e as mais concretas, pelo direito à cultura, ao desporto, à habitação e à saúde! Foram quatro anos de centenas e centenas de pequenas e grandes lutas!

Todas estas lutas reforçam o caudal de contestação e todas assumem o objectivo fundamental: GOVERNO RUA!

Camaradas,

Como dizia, o nosso congresso é também um pontapé de saída. As responsabilidades e as tarefas que nos estão colocadas são imensas e as exigências gigantescas! Consciencializar e organizar os jovens em torno dos seus problemas, seja nas escolas ou nos locais de trabalho, reforçar e criar colectivo, assumir nas nossas mãos o papel dinamizador de transformação em luta organizada o descontentamento que existe.

Reafirmamos o papel insubstituível da JCP e dos jovens comunistas para a transformação da sociedade. Neste caminho que percorremos para a transformação da sociedade é imprescindível o respeito e valorização da capacidade criativa e produtiva da juventude, dos seus gostos e interesses. É imprescindível compreender e reconhecer a disponibilidade e vontade de agir, responder, discutir, potenciar a capacidade mobilizadora e de envolvimento na resposta organizada e transformadora.

Confirmámos, durante a preparação do nosso congresso, a justeza do lema decidido: Avante por Abril! Organizar, Lutar, Transformar! Reafirmamos a justeza das propostas que a JCP e o partido tem colocado: a renegociação da divida, o reforço da produção nacional, a reposição do que foi roubado e o aumento dos salários, a taxação dos grandes grupos económicos. Uma política patriótica e de esquerda que rompa com o rumo dos últimos 38 anos e que reafirme a necessidade e a actualidade Constituição da República e dos valores de Abril do futuro de Portugal.

É para esta luta difícil, mas apaixonante e necessária que reafirmamos a confiança na juventude portuguesa e apelamos à sua participação! Com determinação, coragem, dedicação e alegria, cumpriremos o desafio que Álvaro Cunhal nos deixou e tantos afirmámos no ano do seu Centenário, construiremos pelas nossas próprias mãos o futuro a que temos direito, um futuro de concretização das aspirações e direitos da juventude, um amanhecer com uma sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados: o Socialismo, rumo ao Comunismo!

  • Álvaro Cunhal