Camaradas,
Se afirmamos não parar para Congresso, tampouco o realizamos por mera formalidade. O conteúdo, a dimensão e envolvimento colectivos na sua preparação seriam prova bastante, mas são as orientações apuradas que apontam os caminhos que precisamos fazer e que a organização do Sector Intelectual do Porto tem procurado seguir.
E estas teses aprofundam a reflexão sobre as condições em que actuamos. Não dispomos dos poderosos meios de influência e formação de opinião, mas não nos iludamos. Não basta fazer-nos ouvir, é ainda preciso criar a disponibilidade, a confiança que eleve o ideal de transformação e solidariedade colectivas sobre a individualização dominante.
E porque somos um Partido que não fica à espera, se há precisamente um ano atrás, ao abrigo do agendamento potestativo, centrámos a discussão nos direitos de quem trabalha, foi com a organização que os levámos para a rua. Que do documento a distribuir, armámos um comício no intermodal de transportes do Hospital São João. Que ligámos a realidade do que entra ao serviço com a da médica que sofre os riscos e as consequências do trabalho nocturno e das horas extra. De quem apanha o metro a fazer contas à vida, com a arquitecta que sabe que o garrote que a faz receber 1000 euros por mês é o colocado à contratação colectiva com a sua caducidade.
Quando confrontamos posições na realidade concreta e criamos o espaço que não nos é dado, não raramente desfazemos preconceitos e narrativas que muitas vezes interiorizamos. Quando fomos à porta de Serralves denunciar que os 6,4 milhões públicos ali investidos fazem de 3h de acesso gratuito por mês àquele local, não um favor mas uma afronta, levámos em três manhãs quase 2 milhares a subscreverem a necessidade de alargar esse acesso, mas também da gestão pública da instituição. Que à subscrição somaram dezenas de aplausos às intervenções de comunistas e democratas que ali demonstraram que não discutem nem lutam sozinhos.
Aplausos e disponibilidade porque ali colocámos o dedo na ferida e tomámos o lado da paciência que se esgota numa interminável fila para fruir de uma conquista de Abril. Do morador que não sente sua esta casa da cidade. Das colectividades e ensino cada vez mais afastados dos espaços culturais. Do trabalhador com a vida a prazo ou dos artistas que se confrontam com o financiamento público a instituições privadas, que nunca sobra para o espaço que precisam para a criação. Do lado de todos quantos se opõem à cultura enquanto instrumento de elitização e que vêm nela factor de identidade e realização.
Iniciativas possíveis porque somos um Partido que não fica à espera que a dispersão de quadros técnicos e intelectuais se inverta para intervir. Porque, com cada vez maior centralidade no trabalho, enfrentamos as dificuldades através da organização e levámos à prática a responsabilização de 39 novos quadros desde a Conferência Nacional. Assim, triplicámos assinaturas do Avante! e d'O Militante, duplicámos vendas de EPs, produzimos murais e boletins. Criámos rotinas descentralizadas e com elas garantimos, desde o último ano, bancas públicas semanais de venda do Avante! – e com o que significa de difusão, mas muito para lá disso, de agitação e afirmação na rua, no esclarecimento, na recolha de mais de uma dezena de contactos e até recrutando. Mais preparados para intervir, é com ânimo que se integra nessa dinâmica a nossa acção nacional e todo o estímulo à intervenção inserida no trabalho colectivo.
Se apontamos caminho, é porque sabemos o que há para avançar. Porque somos um Partido que não fica à espera, encontremos pela organização e pela iniciativa a energia nas massas e na vida para transformar o mais belo ideal e projecto em força material e em realidade.
Viva o XXII Congresso, viva a JCP e viva o PCP!