Intervenção de Bernardino Soares na Assembleia de República

Falecimento de Lino de Carvalho

Falecimento de Lino de Carvalho

Sr. Presidente, em primeiro lugar, quero agradecer ao Governo, a todos os Deputados, pessoas e instituições que durante estes dias manifestaram o seu pesar pela morte do Lino de Carvalho e nos enviaram a sua solidariedade. Penso que todos imaginarão como é difícil a esta bancada intervir neste voto de pesar.

A consternação geral que se verificou com a morte de Lino de Carvalho é bem o testemunho do valor e da dimensão do homem que perdemos na semana passada. Não serão, pois, necessárias muitas palavras para deixar clara a dimensão da perda que constitui o seu desaparecimento, mas as palavras, por outro lado, não serão suficientes para expressar de forma completa o valor que teve o Lino de Carvalho como comunista, como Deputado, como cidadão e como camarada e amigo.

Pode dizer-se que Lino de Carvalho foi um homem com uma vida plena e de plena dedicação às suas causas, ao seu partido, à democracia, à liberdade, ao progresso social. Corajosamente, lutou contra o fascismo antes do 25 de Abril, com os seus camaradas comunistas e com muitos outros democratas.

Empenhou-se, com entusiasmo, na conquista de mais e melhores condições de vida para o seu povo e de mais desenvolvimento para o seu País, em especial no seu Alentejo. Deu ao PCP, ao longo de 35 anos, o melhor das suas capacidades e do seu trabalho.

Foi um parlamentar brilhante que muito contribuiu para a intervenção do Grupo Parlamentar do PCP, mas que também muito prestigiou a Assembleia da República.

A sua frontalidade, a firmeza das suas convicções, a qualidade que emprestava aos debates, mas ao mesmo tempo aquela simpatia e afectividade com que se relacionava com todos, a jovialidade e o humor saudavelmente provocante com que tantas vezes nos desarmava fez com que tantos nesta Casa e até especialmente, como aqui já foi dito, aqueles que com ele travavam duras batalhas políticas se considerassem seus amigos.

Por isso, não estranhámos que na última despedida, estando representadas muitas instituições e presente muito povo anónimo que lhe quis prestar uma última homenagem, a maior parte estava presente por razões de amizade. Foi, fundamentalmente, uma despedida de amigos.

Para nós, seus camaradas, será muito difícil conviver com a sua ausência e aceitar o desaparecimento prematuro de quem tinha ainda muito para dar ao partido, ao Parlamento e ao País. Com o desaparecimento do Lino de Carvalho, o Parlamento perde um magnífico Deputado e Vice-Presidente, o PCP perde um valioso militante e dirigente e nós perdemos um amigo e um camarada inesquecível.

Ao Lino de Carvalho, construtor da liberdade, construtor da democracia, lutador contra as injustiças e as opressões, devemos todos um profundo reconhecimento e nós, seus camaradas e amigos, teremos de, neste momento difícil, ser capazes de levar adiante o contributo da sua intervenção e luta e continuar a lutar por um País e um mundo melhores.

Termino, reafirmando a nossa solidariedade a toda a família, em especial à Ana, sua companheira, e aos seus filhos, Vasco e Carlos. A eles e a todos nós o Lino fará muita falta.

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