I Pacifismo, s.m. amor à paz; sistema doutrinário dos que pugnam pela paz universal e pelo desarmamento geral instituindo-se um tribunal que procure regularizar as relações entre os povos e apaziguar as suas divergências. (in Dicionário Universal, Língua Portuguesa, Texto Editora, 2002)
É esta a “grave” acusação feita por alguns opinantes da nossa praça aos que participam por todo o país (e por todo o mundo) em acções de protesto contra a guerra e pela paz. É uma reacção incomodada com a abrangência e multiplicidade dos que contestam a lógica desta guerra, mesmo com sensibilidades diversas em relação às questões internacionais, óbvias dissonâncias políticas noutras matérias e as mais diversas experiências de vida e de intervenção na sociedade. Em Portugal isso está bem demonstrado pelas centenas organizações que se associaram às acções pela paz e pela inédita apresentação, por todos os partidos da oposição, de quatro moções de censura na Assembleia da República.
A definição de pacifismo acima descrita não anda aliás longe do que impõe a Constituição Portuguesa em matéria de política externa que diz que Portugal se rege nas relações internacionais pelos princípios “da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos de outros Estados”, entre outros. Teremos portanto para alguns uma Constituição pacifista.
O que não condiz com estes princípios, nem com a vontade maioritária do povo português é a actuação do governo, atrelando o país na cena internacional ao comboio da guerra de Bush e seus aliados.
II Entretanto a situação da população iraquiana agrava-se, como aliás vinham a alertar as agências internacionais e diversas ONG’s. Lembre-se que 60% da população iraquiana depende do cabaz alimentar garantindo pelo programa “Oil for food”, a funcionar desde 1996, e agora interrompido. Na cidade de Bassorá está iminente uma catástrofe humana, conforme aliás já alertou o Secretário-Geral das Nações Unidas, devido à falta de alimentos, água potável e assistência médica.
Assim se prova, infelizmente, que estavam certos os que diziam que, tal como na anterior Guerra do Golfo, é o povo iraquiano que sofre com a guerra.
Entretanto as verdadeiras razões da guerra vêm cada vez mais à tona. Já todos perceberam que a investida da administração Bush visa o controle dos importantes recursos petrolíferos da região, cujo domínio se torna crescentemente importante à medida que vão diminuindo em todo o mundo. É também evidente que pretendem ocupar uma importantíssima posição estratégica naquela região do globo.
Mas mais. O exército norte-americano já atribuiu a mais de uma dezena de empresas dos EUA o exclusivo do negócio da reconstrução do Iraque, o que provocou já incomodadas reacções da Inglaterra, ao ver discriminadas as suas empresas. Claro que, à semelhança do que aconteceu na primeira Guerra do Golfo, enquanto se centralizam os lucros, o financiamento da reconstrução será repartido, sendo certo que desta vez Bush e seus aliados não deixarão de considerar indispensável a participação das Nações Unidas e das suas agências internacionais…