Intervenção de Alfredo Maia na Assembleia de República, Reunião Plenária

Está na ordem do dia a urgência de enfrentar a degradação das condições de vida

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Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro,
Senhores membros do Governo,

O Conselho Europeu dos próximos dois dias vai replicar, no essencial, o roteiro dos anteriores, marcado pela agenda de guerra e pela pretensa inevitabilidade dos sacrifícios impostos aos mesmos de sempre – aos trabalhadores, aos reformados e pensionistas.

O que se antecipa quanto às questões económicas é muito pouco, quando se esperava que a União Europeia não se limitasse a circunscrevê-las à chamada "crise energética".

Tal como em Portugal, onde cresce um forte movimento de protesto e exigência, como o demonstraram as poderosas manifestações da CGTP de sábado, também em países como a França está na ordem do dia a urgência de enfrentar a degradação das condições de vida.

Não é aceitável que continue a ser quem trabalha ou já trabalhou a pagar a fatura da situação económica, com o aprofundamento das transferências do trabalho para o capital. 

Enquanto os trabalhadores perdem cada vez mais poder de compra, os grandes grupos económicos acumulam cada vez mais riqueza na base da atividade especulativa e dos favores dos governos.

O que se exige é o aumento dos salários e das reformas e pensões, em vez de manterem os trabalhadores reféns de uma situação que não causaram.

Em relação à energia, pouco se espera além da recorrente discussão sobre a segurança do aprovisionamento e da transferência de importantes recursos públicos para as grandes empresas, mas não para as muito pequenas e médias empresas nem para as famílias, assegurando os lucros especulativos às intocáveis companhias energéticas.
 
Veja-se o caso de Portugal: ao invés de travar a espiral de especulação, com o controlo de margens e a fixação de preços que nutrem os lucros milionários da EDP, da Endesa, da Iberdrola, da Galp e outras, o Governo mobiliza três mil milhões de euros, 1 500 milhões dos quais com origem no Orçamento do Estado, para financiar os ganhos das grandes companhias e beneficiar o grande capital que comanda a especulação.

Trata-se de um evidente e obediente alinhamento com as orientações da União Europeia, com comportamento idêntico por parte das grandes potências, com a diferença de que estas consignam às grandes companhias dotações ainda mais generosas, aprofundando, também por esta via, as desigualdades.

Da política de cortes nos banhos quentes em "matéria de redução da procura", preconizada para a União, serão os do costume a pagar a fatura.

São bem evidentes os sinais dos efeitos deletérios na economia da obsessão por favores às grandes energéticas, em matéria de aprovisionamento de gás e do agravamento das sanções, numa trajetória suicida para a União Europeia, já em processo de desindustrialização, com o encerramento de mais empresas, mais desemprego e mais pobreza.

Infelizmente, o Conselho Europeu não dará um único passo no sentido da desescalada do perigoso patamar de beligerância, quando a União, pelo contrário, deveria posicionar-se como protagonista, mediando o diálogo e a negociação e contribuindo para a promoção da paz.

Disse.
 

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