Intervenção de João Ramos na Assembleia de República

Ensino de português no estrangeiro

Petição solicitando a manutenção do ensino do Português nas comunidades portuguesas e insurgindo-se contra a propina de 120 euros
(petição n.º 266/XII/2.ª)
Revoga a propina do ensino de português no estrangeiro (Procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 165/2006, de 11 de agosto)
(projeto de lei n.º 675/XII/4.ª)
Sr.ª Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados:
O PCP saúda os subscritores desta petição contra a propina no ensino do Português no estrangeiro e, através deles, saúda todos os portugueses e lusodescendentes espalhados pelo mundo, tão valorizados pelo Governo no discurso mas tão atacados, ignorados e atraiçoados na ação política.
Este Governo do PSD/CDS, que tanto diz valorizar as comunidades portuguesas enquanto elemento de internacionalização da economia, encerra consulados, não cria as condições para que os serviços consulares funcionem adequadamente, não ausculta as comunidades para as políticas que lhes são dirigidas e ainda as obriga a pagar uma propina para que os seus filhos aprendam a nossa língua materna.
Ao impor um pagamento para que uma criança aprenda a língua materna dos seus ascendentes, o Governo está a distratar os portugueses e lusodescendentes, muitos deles obrigados a abandonar o nosso País para procurar vida melhor no estrangeiro mas que nunca cortaram o «cordão umbilical» e estão sempre empenhados em reforçá-lo.
Estes portugueses são os únicos que pagam propina para que os seus filhos aprendam a língua e cultura portuguesas. Essa é uma obrigação do Estado consagrada na Constituição da República Portuguesa.
Mas, infelizmente, o Governo está empenhado em destruir o sistema de ensino do Português no estrangeiro, através da aplicação de uma propina, através da redução do número de cursos e da concentração das turmas e através da diminuição do número de professores, que só nos últimos dois anos foi reduzido em 57 docentes. Enquanto aplica a propina, vai retirando condições para o funcionamento dos cursos.
O ataque à qualidade dos cursos, a cobrança de propina e o inqualificável ensino do Português enquanto língua estrangeira, vão afastando os portugueses da língua e cultura, em suma, vão afastando os emigrantes de Portugal. Quando cada vez mais portugueses são forçados a sair do País — e só entre 2010 e 2013 a emigração permanente aumentou mais de 200%, graças à ação do Governo —, o ensino do Português no estrangeiro perdeu 13% dos alunos, entre os dois últimos anos letivos.
Mas quais são os ganhos, para o País, com esta propina? A oferta de manuais escolares, que custariam muito menos e, ainda por cima, são para estrangeiros? Em troca, o Governo oferece um certificado de avaliação de aprendizagem de língua estrangeira sem qualquer compatibilidade com o sistema de avaliação do ensino regular em Portugal.
Todo este processo seria cómico se não fosse trágico. E o País ainda passou pela vergonha de ver a cobrança de propina recusada por países estrangeiros, que dão, eles próprios, o contributo para que os filhos dos emigrantes aprendam a sua língua materna. Face a esta vergonha, o Governo português está a cobrar propina apenas em três países e meio.
E é por isso e para salvaguardar a dignidade e o direito dos portugueses e lusodescendentes, que, vivendo no estrangeiro, mantêm o seu coração no nosso País, que o PCP propõe o fim desta injusta propina através do projeto de lei que quisemos associar a esta petição.
O Secretário de Estado das Comunidades, enquanto Deputado, em 2005, perante um Governo do PS, afirmava que 400 professores eram insuficientes. Agora, com turmas maiores, menos cursos e cerca de 350 professores apenas, o então Deputado não só considera suficiente como acha que se deve cobrar uma propina.
Em nome da coerência que se exige e cuja falta é que verdadeiramente afasta os cidadãos da política, é um dever do PSD e do seu coligado CDS revogar a propina do ensino do Português no estrangeiro.

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