No quadro das suas relações de amizade, uma delegação do PCP, dirigida pelo seu Secretário-geral, Jerónimo de Sousa, e integrando José Capucho e Pedro Guerreiro, membros do Secretariado do Comité Central do PCP, visitou a República Popular da China, de 19 a 25 de Fevereiro, a República Popular Democrática do Laos, de 25 de Fevereiro a 1 de Março, e a República Socialista do Vietname, de 1 a 4 de Março.
Para um breve balanço sobre esta visita, o Avante! publica uma entrevista ao camarada Jerónimo de Sousa.
Tendo sido concluída a viagem à China, ao Laos e ao Vietname, qual a tua impressão sobre a forma como foi recebida a delegação do Partido?
De forma muito afectuosa e fraternal, seja pelo Partido Comunista da China (PCC), pelo Partido Popular Revolucionário do Laos (PPRL) ou pelo Partido Comunista do Vietname (PCV). Em todos os países e locais que visitámos, nas várias conversações, encontros e visitas realizadas, pudemos constatar o prestígio, o respeito e a amizade para com o PCP.
Que objectivos foram apontados para a deslocação da delegação do Partido a estes três países?
Esta deslocação assumiu uma particular importância porque possibilitou a visita a três dos cinco países que, como caracterizámos no nosso XIX Congresso, afirmam como orientação e objectivo a construção de uma sociedade socialista.
O nosso melhor conhecimento e compreensão da sua realidade, dos seus avanços económicos e sociais, dos desafios, das contradições e problemas com que se confrontam na actualidade, são de uma grande utilidade para a nossa própria reflexão e intervenção políticas. Deste modo, esta visita visava permitir a recolha de informação e a realização de uma troca de opiniões sobre a experiência, a reflexão e a intervenção do PCC, do PPRL e do PCV.
Mas igualmente dar a conhecer a nossa realidade e análise…
Sem dúvida. Um outro objectivo foi o possibilitar ao nosso Partido dar uma informação sobre a sua análise da situação internacional, sobre a situação nacional e na Europa – nomeadamente na União Europeia –, sobre as conclusões do XIX Congresso do PCP, sobre o nosso Programa «Uma Democracia Avançada – Os Valores de Abril no Futuro de Portugal», possibilitar a abordagem mútua de aspectos da situação internacional e do movimento comunista e revolucionário mundial, assim como valorizar os objectivos das comemorações do centenário do nascimento do camarada Álvaro Cunhal.
As diferentes visitas foram do conhecimento e articuladas com os três partidos?
A visita visava ainda reforçar e desenvolver as relações bilaterais do PCP, seja com o PCC, o PPRL ou o PCV. Uma visita que foi do conhecimento prévio e articulada com os três partidos, colocando a exigência de encontrar soluções que fossem ao encontro das variadas disponibilidades.
Como apontámos no XIX Congresso, temos um profundo interesse em conhecer e acompanhar a evolução da realidade dos países que afirmam como orientação e objectivo a construção de uma sociedade socialista, seja pela importância das suas experiências e realizações, seja pelas interrogações e, mesmo, preocupações, que suscitem certas orientações, como pelas contradições não apenas inerentes aos seus próprios processos, mas agravadas pela pressão do capitalismo e da sua crise e por campanhas de desestabilização e ofensiva ideológica.
A viagem iniciou-se com a visita à República Popular da China, um país com uma imensa população e um extraordinário desenvolvimento económico. Como decorreu a visita e que aspectos poderias sublinhar?
Será muito difícil conseguir sintetizar nesta entrevista toda a riqueza e complexidade das visitas realizadas à China, ao Laos e ao Vietname, embora seja possível sublinhar alguns dos seus aspectos.
Na China, a delegação do PCP foi recebida por Liu Qibao, membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do Partido Comunista da China. A delegação realizou igualmente importantes encontros de trabalho com responsáveis do Departamento Internacional do PCC e do Instituto de Estudos Marxistas da Academia Chinesa de Ciências Sociais, para além de se deslocar às Províncias de Shandong e Yunnan, onde teve oportunidade de visitar empresas e aldeias, tendo contactado com responsáveis sindicais, eleitos locais e organizações do PCC.
As conversações realizadas com o PCC decorreram com franqueza e abertura, tendo sido assinalados pontos de vista comuns, assim como diferenças, entre os dois partidos.
Os camaradas reafirmaram-nos a determinação do PCC em persistir com firmeza no caminho da construção do socialismo com características chinesas, que apontam como a via de construção do socialismo na China.
Durante a nossa visita a este país, pudemos constatar o impressionante desenvolvimento económico e as profundas mudanças que caracterizam a realidade da China. Apenas como exemplo, os camaradas referiram a redução de 250 milhões de pobres ou a necessidade de criação de 10 milhões de postos de trabalho por ano.
Os camaradas transmitiram-nos as importantes decisões do XVIII Congresso do PCC, assim como a importância de as levar à prática, num quadro que é complexo, exigente e onde se avolumam grandes contradições. Os camaradas informaram sobre o início de uma nova etapa que aponta como objectivo a construção integral de uma sociedade moderadamente abastada até 2020, que integra, entre os seus eixos, a aceleração do novo modelo de desenvolvimento económico (não só crescimento, mas também qualidade e eficiência), uma democracia popular mais ampla e mais avançada, o reforço dos valores do socialismo, uma melhor resposta aos problemas sociais, a promoção da dimensão ecológica, o assegurar de relações de paz com os demais países do mundo e o reforço e melhoria do PCC (que engloba, entre outros aspectos, o seu reforço – num quadro de luta ideológica muito forte – e o combate à corrupção) – procurando dar resposta a importantes contradições, problemas e resistências.
Após a China, a delegação deslocou-se ao Laos, país que desde há muitos anos não recebia uma delegação do Partido. Qual foi a impressão sobre o Laos, um país de seis milhões de habitantes junto à China, ao Vietname, ao Kampuchea, à Tailândia e a Myamar?
No Laos, a delegação do PCP foi recebida por Choummaly Sayasone, Secretário-geral do Partido Popular Revolucionário do Laos, tendo tido a oportunidade de realizar um encontro de trabalho com uma delegação dirigida pelo camarada Bounpone Bouttanavong, membro da Comissão Política e Chefe de Gabinete do Comité Central do PPRL.
A delegação do Partido visitou o Museu Kaysone Phomvihane – sobre a história da luta de libertação nacional do Laos –, assim como diversos locais históricos e culturais de Vientiane, a capital, e de Louang Prabang, classificada como património mundial pela UNESCO, onde a delegação realizou um encontro com os responsáveis do PPRL.
O Laos, como o Vietname, protagonizou uma luta heróica contra o colonialismo francês e o imperialismo norte-americano, conquistando a independência em 1975. Uma guerra que deixou o país devastado.
Retirando lições das experiências iniciadas em 1975, o Laos iniciou um processo de renovação em 1986, promovendo o desenvolvimento económico baseado numa economia mista, onde o Estado assume um papel preponderante, tendo alcançado neste quadro a soberania alimentar e a melhoria do nível médio de vida do povo.
Os camaradas deram uma informação sobre a actual situação no Laos e sobre as tarefas do PPRL na sequência do seu 9.º Congresso, realizado em 2011. Afirmando o socialismo como objectivo, os camaradas apontaram como tarefas da etapa actual: o desenvolvimento económico, o combate à pobreza e a melhoria das condições de vida do povo, a salvaguarda e firme defesa da soberania e independência nacional, num quadro de cooperação regional. O Laos definiu como objectivo deixar de ser considerado como «país menos desenvolvido» até 2020.
O Laos empenha-se na batalha pelo desenvolvimento social e económico, pela concretização de importantes infraestruturas, pela garantia do acesso a bens e serviços essenciais, melhorando o acesso à educação, à saúde, à cultura e mobilizando recursos para as zonas rurais com mais dificuldades – mais de 80% da sua população são camponeses.
Para concretizar com êxito estes objectivos, o PPRL afirma-se como um partido «do povo, pelo povo e para o povo». O PPRL procura fortalecer as suas organizações de base e preparar melhor os seus membros, nomeadamente da juventude.
A última visita realizou-se ao Vietname, onde interrompeste a tua visita em 2005. Oito anos depois o que gostarias de sublinhar?
Como referiste, a ida ao Vietname assumiu um particular significado, pois em 2005, a visita da delegação do Partido, a qual também integrei, foi interrompida devido ao falecimento do camarada Álvaro Cunhal, a 13 de Junho desse ano. Desde então que assumimos o compromisso de voltar.
É grande o nosso interesse em aprofundar o conhecimento da experiência, reflexão e intervenção do PCV em prol do desenvolvimento social e económico do Vietname, no caminho do socialismo.
No Vietname, a delegação do partido foi recebida por Le Hong Anh, membro da Comissão Política e membro permanente do Secretariado do Comité Central do PCV. No Vietname, a delegação realizou ainda encontros de trabalho com o Presidente da Comissão das Relações Exteriores do Comité Central do PCV, com responsáveis do Ministério do Plano e Investimento, com responsáveis do Ministério do Trabalho, Combatentes Inválidos e Assuntos Sociais e com o vice-presidente do Conselho de Teoria Política do Comité Central do PCV.
A delegação teve ainda a oportunidade de prestar uma homenagem a Ho Chi Minh – líder histórico do PCV e da luta de libertação nacional –, tendo visitado a sua casa em Hanói, e realizado ainda uma interessante visita a uma aldeia.
O Vietname, como o Laos, protagonizou uma heróica luta de libertação nacional, tendo alcançado a vitória contra o imperialismo norte-americano, e reunificado o país em 1975. Uma longa guerra que deixou trágicas consequências e grandes dificuldades.
Sob a liderança do PCV, o Vietname iniciou a reconstrução do país, enfrentando sanções e bloqueios por mais de 20 anos. Resistiu ao desaparecimento da URSS e, actualmente, às consequências da crise do capitalismo. Aprendendo com a experiência e os erros, dando resposta às novas exigências, o Vietname iniciou um processo de renovação em 1986, que aumentou a produção e permitiu conquistar a soberania alimentar. Por exemplo, é o maior exportador mundial de arroz e café.
Depois de ultrapassar muitas dificuldades e desafios e de alcançar importantes avanços sociais, numa situação que coloca igualmente grandes exigências, os camaradas informaram que o seu 11.º Congresso do PCV, realizado em 2011, definiu como objectivos centrais da actual etapa de transição ao socialismo: o desenvolvimento económico e a melhoria das condições de vida do povo, a defesa da soberania, da independência nacional e da sua integridade territorial, no quadro de relações de cooperação com outros países. O Vietname procura assegurar um desenvolvimento económico com progresso social e cultural, intensificando a luta pela erradicação da pobreza e das desigualdades sociais. Afirmando que as regras de mercado são concebidas numa perspectiva socialista e não capitalista.
Se os camaradas apontam o desenvolvimento sócio-económico como tarefa central, o reforço do PCV e da sua ligação ao povo é considerado a tarefa chave para garantir o sucesso dos objectivos definidos. Reforço da sua intervenção junto da classe operária, da juventude, das mulheres, dos sindicatos e de outros sectores sociais, da sua capacidade de intervir na luta ideológica e combater fenómenos de degradação moral e a corrupção.
E quanto às relações bilaterais com o PCC, o PPRL e o PCV e ao reforço do movimento comunista internacional?
Penso que esta visita deu um importante contributo para o reforço dos laços de amizade recíproca entre o PCP e o PCC, o PPRL ou o PCV. Uma visita que, estou confiante, abriu importantes perspectivas para o reforço das relações de cooperação do PCP, que iremos aprofundar e que não deixarão de contribuir para o reforço das relações de amizade entre o povo português e os povos da China, do Laos e do Vietname.
A visita permitiu reafirmar a solidariedade do PCP, partido patriótico e internacionalista, contra a acção do imperialismo, que aponta estes países como alvo da sua política, pelo direito dos seus povos a decidir, sem pressões ou ingerências externas, a sua própria via de desenvolvimento, tendo como objectivo o socialismo.
Nas conversações realizadas, foi ainda apontada a necessidade do reforço e desenvolvimento da cooperação e acção comum e convergente no plano multilateral do movimento comunista internacional, nomeadamente no quadro do processo dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários. Tendo sido sublinhado que, dando particular atenção ao desenvolvimento das suas relações de amizade no plano bilateral, o PCP procura contribuir para o desenvolvimento da cooperação e solidariedade internacionalista – respeitando a identidade, autonomia, independência e história de cada partido –, procurando valorizar o que une o conjunto das forças que se opõe ao capitalismo e à ofensiva do imperialismo, promovendo a sua unidade na acção.
Que balanço geral fazes desta visita?
Considero de grande importância a visita da delegação o PCP à China, ao Laos e ao Vietname, uma visita que, como já salientámos, possibilitou aprofundar o conhecimento sobre a actual situação nestes países. Conhecer melhor as suas diferentes realidades e os seus enormes e significativos avanços económicos e sociais. Compreender melhor as importantes contradições que se geraram e os perigos que representam, se não forem encontradas e efectivamente implementadas as necessárias e adequadas respostas. Entender melhor os imensos e complexos desafios que cada um destes países enfrenta, assim como as importantes orientações e exigentes medidas para lhes dar resposta.
As experiências que nos foram transmitidas nestes países evidenciam a necessidade da existência de etapas intermédias na luta do socialismo. De igual modo, evidenciam a inexistência de modelos de socialismo, comprovando que, no quadro das leis gerais do processo revolucionário, os caminhos para a edificação da nova sociedade não se exportam nem se copiam. Sai assim reforçada a tese de que, aprendendo com as experiências positivas e negativas dos processos de construção do socialismo, cada país, cada povo e cada partido percorrerá o seu próprio caminho, de acordo com as condições concretas de cada país, a sua história, tradições, cultura, nível de desenvolvimento, correlação de forças e contexto internacional.
E como último comentário?
Se foi possível confirmar a justeza de interrogações e preocupações que levávamos, foi-nos igualmente afirmado, seja por parte do PCC, do PPRL ou do PCV, existir plena consciência dos problemas que se colocam e a firme determinação em os resolver, prosseguindo – tendo por base as diferentes realidades, experiências e condições concretas, –, para dar resposta a questões imediatas, a médio e a longo prazo, com o objectivo da construção de sociedades socialistas. É pois com confiança que continuaremos a acompanhar a evolução da situação nestes três países, sabendo que os êxitos que estes alcançarem na melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo e na promoção de um mundo de amizade, de cooperação e de paz, serão igualmente os nossos êxitos.
Consideramos que perante a crise do capitalismo e a agressividade imperialista, adquire na actualidade uma grande importância a existência de países que, liderados por partidos comunistas e revolucionários, ligados aos trabalhadores e ao povo, às suas realidades nacionais, com a sua ideologia e independência de classe, a sua cooperação e solidariedade internacionalistas, avancem e conquistem significativos progressos sociais, económicos, democráticos e culturais, apontando o caminho do socialismo. Avanços e conquistas que significarão um grande contributo para a maturação das condições subjectivas, para o alcance de importantes transformações antimonopolistas e anti-imperialistas por parte dos trabalhadores e dos povos.
Com esta visita, reforçámos a convicção de que, embora ainda não tenha sido superado o imenso salto atrás que representaram as derrotas do socialismo no final do século XX, nada pode inverter a marcha da História no sentido da emancipação social, da justa causa de uma sociedade sem exploradores nem explorados – o socialismo.