Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República, Reunião Plenária

Degradação dos Correios: O Chega não quer saber – não se quer chatear com a família Champalimaud

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Desde a privatização dos CTT que o povo português sofre com a degradação dos Correios. As cartas demoram dias a fio para chegar ao destinatário. Os carteiros andam sempre com pressa, e sem tempo para entregar vales, avisos, registos. A comunicação social regional desespera com os atrasos na entrega das publicações. E o Chega? O Chega não quer saber – não se quer chatear com a família Champalimaud, financiadora do Chega.

Os CTT aumentam os preços dos correios em quase 10% no início deste ano. Correspondências, correio editorial e encomendas, tudo mais caro, já a partir de 1 de fevereiro de 2024. Da informação dos CTT sobre o convénio de preços, assinado a 27 de julho de 2022, apontam «a definição para cada preço de uma variação anual máxima de 15% e uma variação global máxima de 30% para os 3 anos de vigência do Convénio.» 

Desde a privatização os preços mais que duplicaram. Baixou a qualidade, subiram os preços. Mas o Chega não quer saber. O povo que pague, que os Champalimaud recebem – e assim têm dinheiro para ajudar a financiar o Chega!

A última operação imobiliária dos CTT (e será a última porque nada mais resta) são 398 ativos imobiliários, com 239 mil metros quadrados, vendidos por 137,7 milhões de euros, 32,5 milhões pagos já em 2023. Estes «ativos» são a estrutura central da rede postal, e todo o património que resta. Sem estes «ativos» não há serviço público postal

O PCP há um ano e meio questionou o Governo sobre este processo, e do então Ministro das Infraestruturas e Habitação veio a resposta, e citamos: «o património imobiliário desta empresa constitui património privado da mesma – e não património público – não cabendo ao Estado interferir na sua gestão»! O património, acumulado ao longo de 500 anos de Correios públicos, e sem o qual não é possível realizar o serviço postal, não é assunto público!

Mas o Chega sobre isto não tem nada a dizer! Pois claro, desde que não toquem na família Champalimaud.

Os trabalhadores dos CTT são mal pagos têm vindo a ser sistematicamente prejudicados nos salários e direitos, com a perda de poder de compra, têm agora o seu patrão a tentar roubar-lhes 36 milhões de euros através das alterações à IOS, há uma falta gritante de trabalhadores no serviço postal – mas o Chega quer lá saber! Quanto menos gastar com os trabalhadores, mais tem a família Champalimaud para financiar o Chega!

É este o resultado do acordo entre o Governo PS e a Administração dos CTT. É este o resultado da alteração à lei postal. É este o resultado de manter a gestão privada deste serviço público. Os preços disparam, a qualidade degrada-se, e os lucros são empregues na construção de um Banco, que é a única coisa que de facto interessa aos donos dos CTT. 

A financeirização da empresa continua, o roubo ao Estado continua, continua o saque de lucros e os dividendos para a família Champalimaud e os outros acionistas. Claro que, sobre isto, o Chega dirá como dizia o outro: “está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira”.

O Governo PS fez um acordo secreto com a Administração dos CTT, renovou a concessão por ajuste direto, alterou a Lei Postal por Decreto-Lei nas costas da Assembleia da República, retirou poderes à ANACOM que andava a criticar a desastrosa gestão privada, e que fez o Chega? Nada. Nem um suspiro! 

Tem deputados suficientes para chamar o Decreto-Lei à apreciação parlamentar. Mas não. Desde que os acordos do Governo sejam com a família Champalimaud, desde que sejam para beneficiar a família Champalimaud, está tudo bem, podem ser secretos. E o que é preciso é não fazer ondas, que o respeitinho é muito bonito!

E agora vem para aqui inventar um acordo secreto entre o PCP e o PS para comprar 0,24% dos CTT? 

Zero vírgula vinte e quatro por cento?! 

Para ir aumentando até… 13 por cento?

Nós dissemos na altura ao PS, dissemos na altura aos trabalhadores dos CTT, e dissemo-lo publicamente – porque só temos uma cara –, e dizemos agora: isso não serve para nada! É como discutir a falta de transportes públicos e dizer que se mandou comprar uma roda de um autocarro! Não resolve nenhum problema! Não dá nenhuma capacidade ao Estado para acabar com o escândalo desta gestão privada!

Não contem connosco para andar a ajudar à exploração do nosso povo. De nada serve o Estado comprar 0,24 ou 1,95 ou 13% dos CTT. Se a gestão continuar a ser privada, o problema mantém-se. 

O que os utentes dos CTT merecem e exigem, o que os trabalhadores dos CTT merecem e exigem, o que o país precisa é de uma nacionalização dos CTT, é de colocar as empresas estratégicas e os serviços públicos essenciais ao serviço do povo e do país, e não da acumulação privada em meia dúzia de famílias.

Os moços de recados dos grupos económicos fazem de conta que são contra o sistema, mas são o que de mais sujo e de mais podre tem o sistema – o sistema corrupto de subordinação pelo poder económico sobre o poder político democrático! 

Fazem a propaganda de que “dizem as verdades”, mas enchem a boca de mentiras! E desde logo a mentira mais ridícula, de que “isto” que temos, este regabofe aos “donos disto tudo” … é socialismo! Socialismo?! Ao que isto chegou!

Portugal não precisa de 0,24% de socialismo! Para isso não contam com o PCP. O que o País precisa é de socialismo a sério, não é de mentira, manipulação e submissão ao poder económico. E precisa de se libertar dos exploradores e dos que estão ao seu serviço.

 

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