Assinala-se dia 12 de setembro o Centenário do nascimento de Amílcar Cabral.
Nascido na Guiné-Bissau, filho de cabo-verdianos, foi na terra de seus pais que iniciou a sua vida escolar, para concluir os seus estudos em Portugal, formando-se como Engenheiro Agrónomo no Instituto Superior de Agronomia.
Foi em Lisboa que, num ambiente de enérgica atividade do movimento da oposição democrática, o jovem Amílcar Cabral não só participa nas atividades do MUD e noutras frentes da luta antifascista, como ao mesmo tempo desenvolve uma intensa atividade cultural e política. Amílcar Cabral afirmaria: “Eu aprendi a lutar pela liberdade em Portugal”.
«Eu jurei a mim mesmo que tenho de dar toda a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho.»
Palavras de Amílcar Cabral que expressam o seu humanismo, o seu patriotismo, a sua estreita identificação com o sofrimento e as aspirações do seu povo, o seu conhecimento profundo da complexa realidade da Guiné e Cabo Verde do seu tempo.
Amílcar Cabral foi um estadista de mérito, autoridade e prestígio reconhecidos, como ficou expresso na Conferência de Chefes de Estado e de Governo em Rabat, onde o PAIGC foi escolhido como porta-voz de todo o movimento de libertação nacional de África. Cabral foi simultaneamente um patriota e um internacionalista convicto e consequente, com uma ação de estreita cooperação para com os restantes movimentos de libertação das colónias portuguesas.
Era a luta comum dos povos de Portugal e das ex-colónias que Amílcar Cabral sintetizava na afirmação de “que não lutamos contra os portugueses, mas contra o colonialismo português”. Cabral sublinhava: “consideramos a luta do povo português como a nossa própria luta”. A luta libertadora, que se recusa transformar em nacionalismo estreito e racial, é um ato transformador não apenas da realidade e da vida comum de todo o povo, mas do próprio homem. É um ato e fator de cultura.
Amílcar Cabral foi assassinado a 20 de janeiro de 1973, mas os ideais que abraçou na vida não morreram.
Em 24 de setembro de 1973 foi, de forma unilateral, proclamado o Estado da Guiné-Bissau, e um ano depois, na sequência da Revolução de Abril, Portugal finalmente reconheceria a sua independência. Meses depois, a 5 de julho de 1975, seria Cabo Verde a tornar-se independente.
Assinalar o centenário de Amílcar Cabral é cumprir um dever de memória, mas é também projetar o seu legado, na reafirmação de que Amílcar Cabral vive em cada luta contra a injustiça e contra a desigualdade, em cada luta pelos direitos e anseios dos povos, por um futuro melhor.
Assim, a Assembleia da República homenageia a figura de Amílcar Cabral na passagem do Centenário do seu nascimento, saúda a Guiné-Bissau e Cabo Verde e reafirma a expressão dos profundos laços de amizade que unem os nossos povos.