Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário Geral do PCP, Almoço-Comício regional comemorativo do 102.º aniversário do PCP

Crescem as injustiças e as desigualdades e a força dos que fazem das injustiças forças para lutar

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Uma saudação a todos os camaradas e amigos que organizaram e construíram esta iniciativa.

É esta a nossa prática, trabalho colectivo, esforço, solidariedade e é também daí que vem a nossa força.

Com força, entusiasmo, com confiança, ao serviço do povo, dos trabalhadores, do progresso social, é assim que estamos, é assim que somos.

E é por isso também que muitos, que não sendo do Partido, reconhecem o nosso papel, gente com quem estamos todos os dias, lado a lado, ombro a ombro em todas e em cada uma das justas lutas.

Pessoas de diferentes idades e profissões, sem filiação partidária, muitas que aqui estão hoje connosco e que sabem que são muito bem-vindas.
Neste Partido sabem com o que contam.

Neste Partido de 102 anos, e que ao longo da sua história esteve sempre ao lado de quem trabalha, de quem trabalhou, de quem sofre na pele, das mais variadas formas, a exploração.

A exploração que é a essência do sistema que combatemos.

O capitalismo, com uma natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora, é o problema, e não solução.

Tal como afirma a JCP, o capitalismo não é verde, a cor do capitalismo é a cor da exploração, da injustiça, da desigualdade, da miséria, a única cor do capitalismo é a cor da destruição e da guerra.

Guerra que trespassa a Ucrânia, mas também o Iémen, a Síria, o Afeganistão, e tantos outros, essa guerra que destrói a Palestina, essa guerra a que o Imperialismo não hesita em recorrer.

Essa guerra ao serviço dos grupos económicos, esses que lucram com ela, os únicos a quem interessa que a guerra e as sanções se prolonguem.
Os povos precisam, exigem e têm direito à Paz e o Governo Português está constitucionalmente obrigado a ir à procura desses caminhos da paz.

É esta a sua obrigação e não a de ser ventríloquo da NATO e da indústria do armamento.

A generalidade da população atravessa dificuldades e está justamente descontente.
Os salários e as pensões não acompanham o aumento do custo de vida.

O grau de injustiça e desigualdade em que vivemos é tal que enquanto 3 milhões de trabalhadores, 70% do total dos trabalhadores, ganham menos de mil euros brutos por mês, e 2 milhões de pessoas estão na pobreza, dos quais mais de 300 mil crianças, os 5% mais ricos concentram 42% de toda a riqueza criada no País.

Isto não pode continuar assim.

Os preços continuam a aumentar, a especulação é cada vez mais visível, há muito que o denunciamos.

Propusemos a fixação dos preços dos bens essenciais, em particular dos bens alimentares.

O que fizeram PS, PSD, Chega e IL? Votaram contra, todos unidos, uma e outra vez.

É vê-los agora todos aparentemente preocupados e de peito cheio.

Mas no momento de decidir, no momento em que se exige determinação para afrontar os interesses da especulação, lá estão eles, unidos na defesa dos grupos económicos e dos seus vergonhosos lucros.

Ainda na passada quinta-feira no debate na Assembleia da República, marcado por nós, ficou à vista a hipocrisia de uns, a cegueira liberal de outros, e a defesa dos que lucram com a especulação por parte de PS, PSD, Chega e IL.

Mas a passada quinta-feira também fica marcada por outras duas questões.

Por um lado as declarações de dirigentes do grupo Sonae, afirmando que a inflação não está a ser criada pela distribuição.

É verdade, na realidade o que a grande distribuição está a fazer é, à boleia do poder que tem no mercado, aumentar os preços de bens alimentares, sem qualquer controlo e bem acima da inflação.

O peso da inflação está a ser suportado pelos produtores que vendem os produtos à distribuição, e pelos consumidores que compram os produtos à distribuição.

Ou seja, come de um lado e come do outro.

Queixam-se, eles e a sua matilha liberal, dos impostos que pagam ao Estado, mas ninguém lhes ouve um queixume dos benefícios fiscais que vão sempre buscar. Ninguém lhes nota uma lágrima que seja quando pegam na riqueza aqui criada e a transferem para as suas sedes fiscais noutros países.

Dêem as voltas que quiserem dar, a única resposta ao problema que enfrentamos é o indispensável aumento dos salários e pensões e a fixação dos preços dos bens essenciais.

Esta é a medida que trava a especulação e que é um primeiro passo e uma importante melhoria na vida da ampla maioria da população.

Não vamos desistir desta luta e temos os trabalhadores e as populações connosco nesta exigência.

A outra questão que marcou a passada quinta-feira foi a decisão do BCE de voltar a aumentar as taxas de juro.

O BCE decide, a banca faz mais um belo negócio e o mais de 1 milhão de famílias com crédito à habitação, as micro, pequenas e médias empresas pagam.
A banca lucra quase 5 milhões de euros por dia enquanto os custos com a habitação não param de aumentar, crescem as dificuldades para quem procura uma casa, os inquilinos vivem com o coração nas mãos, um milhão de famílias volta a enfrentar um novo aumento das prestações.

O problema da habitação ganhou centralidade nos últimos tempos com direito a uma ministra da pasta, um pacote de medidas do Governo e até iniciativas do PSD sobre a matéria.

Para lá do ruído e ilusionismo político, no fundo, e sobre o osso da questão, lá estão PS, PSD, CDS, Chega e IL mais uma vez de acordo.

Todos acham que a banca, o negócio imobiliário e os seus vergonhosos lucros devem ficar de fora da resolução do problemas.

E todos, PS, PSD, CDS, Chega e IL, acham o mesmo, que o Estado, com o dinheiro de todos nós, deve amparar a banca e os seus lucros.

Por isso o pacote do Governo, para lá das intenções, o que propõe é mais benefícios fiscais, aos que já somam, e muito, lucros com a especulação e mais dinheiro público para continuar a alimentar a subida das rendas e das taxas de juro.

E é por isso que as propostas de PSD, IL e Chega, mantendo esta matriz, querem ir ainda mais longe. Ainda mais benefícios fiscais para os de sempre - os fundos imobiliários e os grandes proprietários e usar ainda mais recursos públicos para continuar a alimentar os de sempre.

De fora fica sempre a especulação, a revogação da lei dos despejos, os interesses da banca e do imobiliário.

Ora é exactamente isso que é preciso enfrentar, é exactamente a banca e o negócio imobiliário que é preciso pôr a pagar.

O que se impõe é travar a subida das prestações do crédito à habitação, proteger os inquilinos dos despejos e das subidas de rendas, é aumentar a oferta pública de habitação.
E perante estas propostas que apresentamos, PSD e IL votaram contra, PS, Chega e PAN abstiveram-se.

As nossas propostas foram chumbadas, mas não perderam validade nem importância, elas aí estão e assumem-se como objectivos de luta pelo direito à habitação, numa luta que é justa, se amplia e cresce.

No Serviço Nacional de Saúde a situação não é melhor.

Os profissionais aí estão, com dedicação e esforço, a servirem a causa pública, a lutarem pelos seus direitos, por melhores condições laborais, pela valorização e respeito que merecem, e sim, também estão a lutar pelo SNS.

A lutar contra a sangria de recursos, profissionais, equipamento e financiamento que saem do SNS para os grupos económicos do negócio da doença. O exemplo mais gritante, mas longe de ser único, são os 6 mil milhões de euros do Orçamento do Estado para a saúde, canalizados directamente para o negócio privado da saúde, e que tanta falta fazem ao SNS.

É de investimento que o SNS precisa, e não de encerramentos ou de propaganda como a que o Ministro da Saúde levou a cabo recentemente no Alentejo Litoral.

Na saúde como noutras esferas a desresponsabilização do Estado e a transferência de encargos para as autarquias, anda a par e passo com o adiamento da  regionalização.

Anda a par e passo com o processo de restituição de freguesias extintas, algo que é necessário denunciar e combater.

Esta região sente bem na pele as consequências da política de direita no que toca ao défice demográfico, à desertificação, ao despovoamento, ao encerramento de serviços públicos, ao desinvestimento.

O Alentejo não está condenado ao declínio. Possui recursos e forças que têm de ser bem aproveitados para o progresso e o desenvolvimento da região. 
Tem sobretudo um povo com forças, conhecimentos e muita experiência de luta pela sua região.

Impõe-se a criação de trabalho com direitos para todos os trabalhadores. Não admitimos, não aceitamos, não são toleráveis as situações de quase escravidão que afectam muitos trabalhadores, nomeadamente imigrantes.

Não fosse a acção e intervenção dos municípios CDU na região, indo muitas vezes além daquilo que são as suas responsabilidades, e a situação social e demográfica seria ainda pior.

É urgente a concretização da conclusão da modernização e electrificação da rede ferroviária nas várias linhas da região, bem como a rápida programação e concretização de muito investimentos, sempre adiados.

O aeroporto de Beja tem de ser um elemento de coesão territorial, gerador de riqueza e de emprego.

Com as suas características, condições e localização, pode e deve assumir uma importância estratégica para a região mas também para o País. Pode e deve ser uma alavanca para o seu desenvolvimento e também do Alentejo.

São muitos os desafios que temos pela frente, numa altura em que as desigualdades se acentuam e em que há alguém que sai a ganhar com todas as dificuldades da maioria.

A concentração de riqueza é cada vez maior. Já aqui referi: 5% mais ricos concentram 42% de toda a riqueza criada no País.
Vejam-se as telecomunicações.

Um verdadeiro negócio de cartel e até ver com a conivência do Governo. Por coincidência as principais operadoras decidiram aplicar 7,8% de aumentos, assim foi na MEO, NOS e Vodafone, as mesmas que no conjunto concentraram  3600 milhões de euros de lucros.

Mas o que dizer ainda da Galp, e dos seus  mais de mil milhões de euros de lucros? 

As empresas cotadas em bolsa, no PSI, fizeram em 2022 11 milhões de euros de lucros por dia.

São demasiados salários dos trabalhadores que cabem nestes lucros.

A situação continua a agravar-se.

Mas também se alarga a consciência e cada vez são mais aqueles que reconhecem que PS não é opção, PSD, CDS, Chega, IL não são opção, e que por detrás da gritaria, da hipocrisia, da ilusão e da demagogia há um fundo que os une e que os alimenta.

E o que os une e os alimenta é a razão das dificuldades porque passamos, a política direita e o seu serviço aos grupos económicos.
Falamos de factos.

Cada um que faça o exercício e veja por si mesmo.

Sempre que estão em causa os interesses dos grupos económicos, sejam eles quais forem, entra em jogo essa aparentemente estranha aliança.

Cada vez que que estão em causa os direitos e salários dos trabalhadores, vejam como se comporta essa aparentemente estranha aliança.

Crescem as injustiças e as desigualdades, mas também cresce a força daqueles que fazem das injustiças forças para lutar.

Cresce e alarga-se a consciência de que as coisas não podem continuar assim.

Alarga-se a consciência dos que percebem que são os trabalhadores que criam a riqueza, são eles que põem o País a funcionar, mas que não são reconhecidos nem valorizados.

São cada vez mais os que percebem que houve e haverá sempre novos pretextos para intensificar a exploração.

Depois da crise foi a troika, de seguida a epidemia, agora é a vez de todos, e de forma hipócrita, virem em coro afirmar que a culpa é da guerra.

Há sempre razões para que a maioria seja empurrada para o acelerado empobrecimento, ao mesmo tempo que os grupos económicos concentram milhões de euros de lucros.

Há cada vez mais gente a perceber que para lá dos folhetins e das encenações, PS, PSD, CDS, Chega, IL assumem as mesmas opções políticas de fundo e estão ao serviço do mesmo comando.

Cresce a alarga-se a luta.

Dos trabalhadores, nas fábricas, empresas e locais de trabalho; dos médicos, enfermeiros e enfermeiros dos hospitais privados, auxiliares, técnicos; dos professores e auxiliares da educação; dos estudantes e da juventude; dos reformados; dos trabalhadores judiciais; dos jornalistas e outros profissionais da comunicação social, dos agricultores, dos utentes de serviços públicos; mas também a luta das populações pelo direito à habitação e contra o custo de vida.

Uma luta que continuará e se vai intensificar e que teve ontem em Lisboa na manifestação da CGTP um momento extraordinário e de importância decisiva.

Ali estiveram, nas ruas da capital, as reivindicações dos trabalhadores dos sectores público e privado, os problemas das empresas, dos sectores, das populações, ali esteve o protesto contra o aumento do custo de vida.

Uma magnífica jornada de luta onde  também esteve bem presente a exigência de aumento de salários e direitos.

Uma enorme massa de trabalhadores determinada em construir o presente e o futuro a que tem direito.

É obrigatório que assim seja, isto não pode continuar como está.

É preciso romper com esta política de injustiça, é urgente abrir um novo rumo, uma política que se coloque ao serviço da maioria, dos trabalhadores, das populações, dos seus direitos e interesses.

Cresce a justa luta por objectivos justos, alarga-se junto de amplas camadas e sectores a compreensão do papel insubstituível do seu Partido, do nosso Partido, do Partido Comunista Português.Alarga-se a consciência e cada vez são mais aqueles que reconhecem a nossa razão.

Mas será errado achar que a actual situação por si só fará com que as pessoas venham ter connosco.

Não, temos de estar ao seu lado, a lutar, a reivindicar, a exigir melhores condições de vida, de trabalho, serviços públicos, a defender os seus, os nossos direitos.

E estamos lá porque lá é o nosso lugar, independentemente de tudo o resto. Assim é há 102 anos, assim será.

Lá estamos e estaremos esclarecendo e afirmando a importância do reforço do PCP para a alternativa política, patriótica e de esquerda, a alternativa cada vez mais necessária e urgente.

Todos os dias com e ao lado dos trabalhadores, das populações e das amplas camadas e sectores que sofrem as consequências da política de direita.

É desse esforço, dessa militância, dessa dedicação, é da razão que temos que o nosso poderoso inimigo de classe tem receio e é por isso que somos um alvo a abater.

Há mais de 100 anos que traçam esse objectivo e a cada ano que passa lá nos traçam novos e limitados horizontes de existência.

Ainda não perceberam que para acabar com o PCP era preciso acabar com os trabalhadores, era preciso acabar com o povo.

Porque um partido como o nosso, ligado e inserido nas massas, inseparável na sua formação e percurso da classe operária e dos trabalhadores, vivendo os seus anseios, os seus interesses, os seus problemas e com eles dinamizando a resposta e a luta, ainda não perceberam que um Partido assim, nunca vai desaparecer, pelo contrário, um partido assim está mesmo destinado é a reforçar-se e a crescer.

Cá estamos, cientes das nossas dificuldades mas com uma vontade revolucionária de as superar, com uma vontade e determinação em recrutar mais, enquadrar mais, responsabilizar mais, lutar, intervir e mobilizar mais.

Aqui estamos com esta alegria e com esta confiança porque é justa a nossa luta, porque ela é a luta do nosso povo, é a luta dos trabalhadores, é a luta pela sociedade e pelo país de Abril a que temos direito.

Sim, Liberdade, Democracia e Socialismo são futuro, e o futuro pelo qual vale a pena lutar.

Cá continuamos a transformar o sonho em vida.

Cá estamos, tal como em toda a história do nosso Partido de 102 anos, com o entusiasmo de quem não se verga perante as dificuldades e de quem sabe que é justa e invencível a causa por que lutamos.

Viva a luta pela Paz
Viva a luta dos trabalhadores
Viva a JCP
Viva o PCP

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