Camaradas e amigos,
O Partido Comunista Português dá hoje início às comemorações do centenário da Revolução Socialista de Outubro sob o lema «centenário da Revolução de Outubro – socialismo, exigência da actualidade e do futuro».
As comemorações desenvolver-se-ão, a partir de agora, ao longo do ano de 2017, com um programa diversificado com destaque para o comício do centenário, a 7 de Novembro, no Coliseu dos Recreios em Lisboa, com a participação do Secretário-Geral do PCP.
E dirigem-se aos trabalhadores e ao povo, aos militantes do PCP, mas também a outros democratas e patriotas, a todos os que defendem a paz, a justiça e o progresso social e lutam por uma sociedade de liberdade e abundância em que o Estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem-estar e da felicidade do ser humano.
As comemorações do Centenário da Revolução de Outubro iniciam-se hoje, 28 de Janeiro, quando assinalamos o septuagésimo segundo aniversário da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz pelo Exército Vermelho, que pôs fim a um dos mais odiosos símbolos da barbárie nazi-fascista.
Ali foram assassinadas mais de um milhão e trezentas mil pessoas – militantes comunistas, sindicalistas, antifascistas, judeus, entre muitos outros – nas câmaras de gás, nos fornos crematórios, no trabalho escravo até à exaustão e à morte (de que foram beneficiários os grandes grupos monopolistas sustentáculos do regime), nas torturas cruéis, nas experiências médicas desumanas em que serviram de cobaias; pelo frio, pela desnutrição, ou simplesmente abatidos e esmagados pela ditadura terrorista do nazismo.
Por isso mesmo, ficou conhecido como «fábrica da morte», onde a esperança média de vida não chegava aos três meses e onde chegaram a ser assassinadas por dia mais de 6000 pessoas.
A 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertava o Campo de Concentração de Aushwitz e marchava vitorioso levando de vencida o maior exército da história da humanidade até então conhecido – o exército hitleriano – rumo à vitória, consumada em Berlim, com considerável influência sobre a marcha posterior da humanidade.
Um acontecimento cuja importância não desaparece com o tempo e cujo significado não é apagável por maiores que sejam as tentativas – e são! - de reescrever a história.
Também em Portugal, tentam negar esse papel libertador, alguns daqueles que gostariam de ver apagada da nossa memória colectiva a cumplicidade activa com tais crimes e horrores por parte do fascismo português, de que foram, aliás, indefectíveis apoiantes.
Desenganem-se, porém! Ao comemorarmos a Revolução de Outubro, afirmaremos que o futuro não pertence ao capitalismo, mas sim ao socialismo e ao comunismo.
Comemoramos por isso este centenário exaltando a experiência, os valores e as realizações do proletariado russo, do povo russo, dirigidos pelo Partido Bolchevique, com o notável contributo de Lénine.
A Revolução de Outubro e a subsequente experiência histórica de construção do socialismo não serão por nós comemorados como acontecimentos meramente datados, fixos, parados na história, mas antes como fonte de importantes ensinamentos, e exemplo de transformações e conquistas que se reflectem e actualizam na prática revolucionária do presente e se projectam no futuro.
Reafirmaremos a validade das bases e princípios do marxismo-leninismo e o seu desenvolvimento criativo em dialéctica relação com uma realidade que, mesmo que mil vezes proclamem o contrário, se continua a mover.
Combateremos a ofensiva ideológica contra o socialismo e o comunismo, evidenciando as raízes e o papel do anticomunismo e anti-sovietismo como instrumentos do capital na luta de classes.
Camaradas e amigos,
Comemoramos o centenário da Revolução de Outubro num tempo marcado pela profunda crise estrutural que o capitalismo está a viver. Um capitalismo causador de enormes desigualdades e injustiças sociais, explorador, predador e agressor, que representa enormes perigos e ameaças à própria sobrevivência da humanidade.
Assistimos, por outro lado, ao desenvolvimento e intensificação da luta organizada dos trabalhadores e dos povos em defesa de interesses de classe, de soberania, de desenvolvimento, pela justiça, pelo progresso e pela paz.
É nesta situação, 100 anos depois da Revolução de Outubro, que estas comemorações adquirem um particular significado com previsível impacto na vida dos trabalhadores e dos povos.
E é também por isso que as comemorações deste centenário serão conduzidas em dois sentidos divergentes e opostos.
Uns, vão usá-las (já estão fazê-lo) para reescrever a história, descaracterizando, falsificando ou caricaturando a sua natureza, objectivos e projecto – o grande capital e a sua ideologia dominante – e outros, como nós, vão comemorar este centenário afirmando o socialismo como exigência da actualidade e do futuro.
De facto, camaradas,
Não poderão contar connosco para entrar no coro daqueles que falsificando a realidade, caricaturam os seus obreiros para negar o seu ideal e projecto libertador.
Falsificam os acontecimentos e distorcem o seu significado e a partir da falsificação (chegando por vezes ao grotesco) simulam a «crítica» e procuram, de forma directa ou subliminar, alimentar atitudes irracionais e sentimentos de medo e rejeição. Por força dos currículos escolares, da diversidade de instrumentos multimédia, da internet, das redes sociais e dos centros de diversão, as jovens gerações estão mais expostas aos efeitos perniciosos desta ofensiva, a quem prioritariamente se dirige.
Não apagaremos da Revolução de Outubro o papel determinante e decisivo que nela tiveram o proletariado russo, o seu Partido de classe – o Partido Bolchevique. Não apresentaremos a Revolução de Outubro como obra de heróis individuais movidos por idílicas ou românticas visões da realidade e do futuro. Nem lançaremos anátemas sobre os seus intervenientes confundindo a crítica (a que cada um está sujeito) com a diabolização ou a criminalização para atingir a própria essência da revolução.
Não lhe retiraremos a central e decisiva dinâmica de massas, o papel de vanguarda do Partido Bolchevique e o valor e importância da teoria revolucionária do marxismo-leninismo, no seu desenvolvimento criativo, como instrumento insubstituível para interpretar e sobretudo para transformar o mundo.
Não negaremos a sua natureza humanista e o carácter profundamente democrático das suas profundas transformações revolucionárias;
Não apresentaremos uma visão simplista, idílica ou romântica de fenómenos por natureza complexos. Analisaremos criticamente as extraordinárias realizações e avanços, que erros, recuos e derrotas não apagam. Retiraremos deles, isso sim, ensinamentos e valores para a luta que continuamos no presente pelo mesmo ideal.
Não apagaremos as conquistas, os avanços e o enorme e decisivo contributo da União Soviética para a derrota do nazi-fascismo e para a paz;
Não negaremos o papel do sistema socialista nos países de leste europeu como grande travão ao avanço e contenção do imperialismo e do seu projecto hegemónico, agressivo e predador.
Não afirmaremos o capitalismo como «fim da história». Mas antes afirmaremos o socialismo como exigência da actualidade e do futuro.
Camaradas e Amigos,
Ao agir de outro modo, o imperialismo e a sua ideologia dominante tudo fazem para a «santa caça» ao «espectro do comunismo» que, cento e sessenta e nove anos depois da publicação do Manifesto do Partido Comunista, continua a andar pela Europa e pelo mundo e a meter medo ao grande capital.
Num quadro em que se acentua a crise estrutural do capitalismo, o desenvolvimento da luta organizada dos trabalhadores e dos povos, a formação e reforço de partidos comunistas e operários, a elevação progressiva da consciência de classe, política e ideológica de grandes massas, a propagação das ideias do marxismo-leninismo, o alargamento da unidade e convergência de democratas e patriotas, o alargamento da luta anti-imperialista, a luta contra o racismo, a xenofobia e o fascismo, a luta pela paz são realidades, necessidades e objectivos que a classe dominante teme. E, em tal situação de medo e desespero recorre à repressão, à desestabilização, à agressão e à guerra de que é parte a actual ofensiva ideológica. E na impossibilidade de atingir os seus fins pela via da verdade – que não é da sua natureza – agita o espantalho da mentira, em particular junto das jovens gerações.
Vale a pena reter a afirmação de Lénine: «Fomos nós que começámos esta obra. Quando, em que prazo, os proletários de tal nação a farão triunfar não importa. O que importa é que o gelo se quebrou, a via está aberta, o caminho está traçado»
Aprendendo com a Revolução de Outubro e com os caminhos que abriu, o Partido Comunista Português prosseguirá a sua acção, com os trabalhadores e com o povo, pela reposição, defesa e conquista de direitos, pela concretização duma política patriótica e de esquerda componente da democracia avançada vinculada aos valores de Abril que defendemos e indissociável da luta pelo socialismo e o comunismo.
Dizia Brecht, referindo-se a Hitler e ao nazi-fascismo, perante a euforia que acompanhou o fim da guerra: «isso que aí está esteve quase a governar o mundo/mas os povos dominaram-no./Não gostaria no entanto de ouvir o vosso canto triunfante/ porque o ventre donde isso saiu ainda é fecundo.»
Brecht tinha razão. Do ventre do grande capital emergem hoje, sob novas roupagens ideológicas, forças pró-fascistas, neo-nazis, de extrema direita, racistas e xenófobas. E manifestam-se igualmente sectores do capital que, demarcando-se do populismo, do protecionismo e da extrema-direita, tudo fazem para branquear a imagem do capitalismo e esconder as consequências brutais da sua natureza exploradora, opressora, agressora e predadora.
Uns e outros, por diferentes vias, anunciam que o futuro lhes pertence.
Por diferentes vias, como em Outubro, a luta organizada dos trabalhadores e dos povos anuncia o seu fim.
Viva a Revolução Socialista de Outubro!
Viva o Partido Comunista Português!