Pergunta ao Governo N.º 444/XII/2

Asfixia financeira da Universidade do Algarve resultante dos cortes nas verbas do Orçamento do Estado

Asfixia financeira da Universidade do Algarve resultante dos cortes nas verbas do Orçamento do Estado

Em declarações à comunicação social, o Reitor da Universidade do Algarve denunciou há dias que se prevê um corte médio na transferência de verbas do Orçamento de Estado para a Universidade do Algarve acima dos 12%, inclusive acima da média prevista para as universidades portuguesas, na ordem dos 10%. Nas suas palavras, trata-se de cortes "insustentáveis", que se acrescentam a perdas de 20% dos seus recursos financeiros, nos últimos cinco anos; à semelhança de outras universidades, com estes cortes estão em causa o normal funcionamento da instituição e o pagamento de salários, obrigando-a a cair numa situação de incumprimento generalizado.
Numa estratégia de desresponsabilização do Estado no Ensino Superior e na Ciência, assim como de privatização e elitização do ensino superior, o Governo PSD/CDS despreza o papel vital destas áreas para o progresso do país: faz das instituições de ensino superior caixas de elástico ou caixas de borracha que podem ser comprimidas a bel-prazer. Escolhe proceder deste modo sem as ouvir na elaboração do Orçamento do Estado para 2013 e adoptando critérios muito penalizadores na atribuição de verbas: tal é o caso do critério da capacidade de captação de alunos que, em vez de ser factor de discriminação positiva, castiga ainda mais a Universidade do Algarve, inserida que está num contexto demográfico e económico
particularmente depressivo.
Ao garrote cada vez mais apertado na transferência de verbas do Estado para a Universidade do Algarve, o Ministério da Educação e Ciência soma o incumprimento total, desde 2011, do Contrato-Programa da Medicina, o emaranhado burocrático da Lei dos Compromissos ou a obrigatoriedade de aquisição de bens e serviços na Agência Nacional de Compras Públicas. É assim ainda mais árdua a captação de receitas próprias e mais morosas as aquisições de bens e serviços, impossibilitando até que estas sejam feitas junto do tecido económico regional.
Chegada ao limite a racionalização de despesas de funcionamento, estrangulada nos seus recursos, resta à Universidade do Algarve, como está já a suceder em 2012, despedir funcionários docentes e não docentes, comprometer os objectivos de formação avançada econsequente qualificação do corpo docente e inclusive reduzir a sua actividade da oferta formativa e de serviços.
Perante os factos acima expostos e ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, vimos por este meio perguntar ao Governo, através do Ministério da Educação e Ciência, o seguinte:
1.Revê-se o Ministério da Educação e Ciência nas declarações do Presidente do BPI e Presidente do Conselho Geral da Universidade do Algarve, quando este defende que os cortes na educação têm de ser cegos porque é a única maneira de estes serem feitos e de se reduzirem os respetivos encargos públicos?
2.Mediu o Ministério da Educação e Ciência o impacto do Orçamento do Estado para 2013 na vida da Universidade do Algarve, submetendo-a a uma asfixia financeira devastadora?
3.Reconhece o Ministério da Educação e Ciência que o estrangulamento financeiro a que se encontra sujeita a Universidade do Algarve coloca em causa a qualidade pedagógica, a garantia dos serviços a assegurar e a própria missão específica desta instituição?
4.Reconhece o Ministério da Educação e Ciência que os cortes orçamentais impostos às instituições de ensino superior contribuem para o agravamento do desemprego?
5.De acordo com o Relatório do Orçamento de Estado para 2013, o Governo assume o objectivo de “racionalização dos catálogos de formações, sobretudo ao nível dos primeiros ciclos” e de “medidas de racionalização da rede pública de instituições”. Assim, não sendo caso isolado no contexto do ensino superior público, há alguma agenda oculta na contínua asfixia imposta a instituições mais jovens e periféricas?
6.Considera o Ministério da Educação e Ciência que o Algarve não tem direito a ter uma universidade pública que permita o acesso à educação superior e constitua um importante pólo de desenvolvimento para a região e para o país?

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