Intervenção de Paula Santos na Assembleia de República

Aprova os princípios e regras gerais relativas à organização dos procedimentos de concurso público para atribuição, por contrato, de concessões destinadas ao exercício em exclusivo da exploração das redes municip. de distrib. de eletricid. de baixa tensão

(proposta de lei n.º 29/XIII/2.ª)

Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados:
A privatização da EDP e a liberalização do setor da energia, nomeadamente a energia elétrica, trouxeram novos problemas no que respeita à concessão das redes de energia em baixa tensão no território nacional. Problemas que não se colocaram no passado quando os municípios estabeleceram os contratos de concessão e de distribuição de eletricidade em baixa tensão — a EDP ainda era uma empresa pública. Portanto, a prestação de serviço público era um dos seus objetivos. Aproximando-se agora o fim do prazo desses contratos de concessão, como já foi referido — um município em 2016, outro em 2017, 228 em 2021 e os restantes até 2027 —, verificaram-se muitas alterações no sistema elétrico nacional, o que exige que haja, de facto, uma intervenção. Perante este significativo, novo e diferente quadro de intervenção, há aspetos relacionados com a coesão territorial e o interesse público que devem ser devidamente salvaguardados, sob pena de se aprofundarem as desigualdades no nosso território, assim como condições de concessão diferenciadas, nomeadamente condições de natureza técnica e financeira, de que são exemplo as tarifas e as rendas.
Para as empresas privadas do setor, o que prevalece não é a prestação de serviço público; o que prevalece são os interesses económicos, e poderemos, de facto, correr o risco de determinado município ou território ser considerado rentável ou não do ponto de vista económico e alguns municípios poderem mesmo não ter nenhum interesse para estas empresas. Registamos o facto de o Governo trazer à discussão na Assembleia da República uma iniciativa legislativa que procura intervir sobre a concessão da rede elétrica em baixa tensão. A iniciativa em discussão propõe a convergência na realização destes concursos para 2019, a neutralidade económica ou o agrupamento de municípios para o lançamento do procedimento concursal, o que à partida, na nossa perspetiva, aponta num sentido positivo. No entanto, há questões que continuam a não estar clarificadas ou que nos suscitam dúvidas. Por exemplo, quanto ao agrupamento de municípios, entendemos ser necessário aprofundar qual a dimensão e a geografia mais adequada em relação a esta matéria. Perguntamos, também, qual a razão para que os agrupamentos de municípios para a realização do concurso público para atribuição da concessão tenham de ser por contrato administrativo. Consideramos, ainda, que em todo este processo é importante ter presente a necessidade de modernizar, de incorporar as inovações tecnológicas que nos permitam ter uma gestão mais eficiente dos recursos. Na nossa opinião, esta matéria exige uma intervenção a nível nacional, uma intervenção articulada, que contribua para a coesão territorial, que privilegie os interesses públicos para que nenhum território e nenhuma população sejam penalizados. Porém, há também questões que exigem um maior aprofundamento, análise e ponderação sobre qual a melhor solução.

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