Alguns apontamentos a propósito das “comemorações” dos 20 anos da “queda do muro de Berlim”

1. A campanha institucional e mediática desenvolvida a pretexto do 20º Aniversário da abertura do Muro de Berlim torna claro que não estamos perante um mero assinalar de uma efeméride. Pelo seu conteúdo, forma, protagonistas e objectivos tal campanha não pode deixar de ser lida como uma “comemoração” de regime e revanchista dos processos contra-revolucionários que - faz agora 20 anos - interromperam a construção do socialismo no leste europeu.

2. A vitória da contra-revolução no leste da Europa traduziu-se numa enorme tragédia para os povos da região. O imperialismo triunfante impôs terríveis “terapias de choque” cujo efeito económico e social foi devastador. Em poucos meses, milhões de pessoas foram lançadas no desemprego; sectores inteiros da economia foram abatidos ou abocanhados pelo grande capital estrangeiro e por novas e rapaces classes dirigentes locais; destruíram-se importantes sistemas públicos de saúde, ensino e segurança social. O PIB dos países ex-socialistas caiu vertiginosamente, em vários casos para menos de metade dos níveis de 1989. A riqueza existente passou a ser distribuída de forma drasticamente desigual. A queda dramática dos níveis de vida de vastas camadas da população reflectiu-se no aumento em flecha da pobreza e mesmo miséria extrema, da emigração em massa, da prostituição, toxicodependência e outros flagelos – que, por sua vez, são fonte de chorudos lucros que alimentam o sistema financeiro internacional. A dimensão da catástrofe social que acompanhou a restauração do capitalismo reflectiu-se num facto inédito em tempos de paz: a quebra na população e na esperança de vida, nalguns desses países. É esta a realidade que é agora “comemorada” de forma tão efusiva pelo grande capital internacional – o principal obreiro e beneficiário da tragédia humana que acompanhou os 20 anos de restauração do capitalismo a Leste.

3. Os acontecimentos que são, mais uma vez, utilizados para difundir as teorias do “fim do comunismo” e do “triunfo do capitalismo” são inseparáveis do enorme ataque aos direitos e às condições de vida dos trabalhadores e povos, que está em curso a nível global. Na nova correlação de forças mundial criada após 1989, as “terapias de choque” do neoliberalismo foram generalizadas a todo o planeta. A globalização imperialista provocou um dramático retrocesso nas condições de vida de muitos milhões de seres humanos. Numa corrida para o abismo, a destruição das condições de vida imposta a uns é utilizada como chantagem para justificar a destruição das condições de vida de outros. Em nome da “competitividade” agravaram-se drasticamente as desigualdades entre pobres e ricos, a exploração e a opressão de grandes massas de trabalhadores. Países e regiões inteiras são submetidos a uma autêntica pilhagem. O desemprego - gigantesco flagelo social e ataque frontal à liberdade e à vida de milhões de homens e mulheres em todo o mundo - é a marca indelével de um sistema injusto que estas “comemorações” tentam glorificar.

4. A vitória da contra-revolução a Leste é também inseparável da outra face da moeda da globalização imperialista – a guerra e o militarismo. A palavra paz será mil vezes repetida nos discursos destas “comemorações”, mas ocultando os processos em curso na NATO para aprofundar o seu carácter agressivo com a aprovação do dum novo conceito estratégico, e  a acelerada militarização da União Europeia. O imperialismo aproveitou-se da nova correlação de forças mundial criada com o desaparecimento da URSS e outros países socialistas para lançar uma violentíssima ofensiva visando impor a sua hegemonia planetária. Centenas de milhar de mortos e milhões de feridos, desalojados e refugiados – do Iraque ao Líbano e aos Balcãs, do Afeganistão à Palestina e ao Paquistão – são o saldo da cruzada de guerra que ilustra bem a natureza agressiva e assassina do imperialismo. A guerra é acompanhada pelas limitações da liberdade, pela tortura, pelos campos de concentração e prisões secretas à margem de qualquer legalidade, pelos assassinatos selectivos ou indiscriminados. Esta é a verdadeira face do capitalismo, que as classes dominantes celebram hoje com entusiasmo.

5. A “queda do Muro” foi acompanhada pela queda das amarras que condicionavam o funcionamento do sistema capitalista. Mas 20 anos de “liberdade” para o grande capital trouxeram ao planeta a maior crise económica dos últimos 80 anos, com o seu cortejo de sofrimento e miséria. Uma crise que é enfrentada com uma clara marca de classe: milhares de milhões de subvenções estatais para os banqueiros e capitalistas responsáveis pela crise; desemprego e miséria para quem vive do seu trabalho. Uma crise da qual o grande capital vai procurar sair através de um novo e brutal agravamento das condições de vida da grande maioria da população e, com grande probabilidade, através de novas e maiores guerras. A angústia, incerteza e medo que a esmagadora maioria da população mundial sente hoje em relação ao seu futuro não pode ser separada dos acontecimentos de há 20 anos que hoje são comemorados por governos e por parlamentos e convenientemente ampliados pela comunicação social dominante.

6. Mas as “comemorações de regime” a que hoje assistimos dizem mais sobre o presente do que sobre o passado. A campanha mundial visa denegrir uma ideologia, os Partidos Comunistas e o seu papel insubstituível na luta dos trabalhadores e dos povos pela sua real emancipação e liberdade. Mas esta campanha revela, na realidade, as contradições, limites e profundas dificuldades do sistema que se quer apresentar como o ”fim da História”. Se hoje, 20 anos volvidos, recrudesce com tanta violência o anti-comunismo, a revisão e falsificação históricas, a intimidação e as perseguições e restrições à liberdade, os ataques à democracia - como na própria União Europeia com a imposição do Tratado de Lisboa – e a promoção de velhos e novos fascismos, é porque o grande capital não se sente seguro. É porque teme a resistência, luta e revolta dos povos. É porque, longe do triunfalismo e euforia de há 20 anos, percebeu já que é cada vez mais clara a sua natureza agressiva e exploradora. É porque sabe que cresce a resistência e luta de povos e trabalhadores, da América Latina ao Médio Oriente, na Ásia e na Europa. É porque sabe que os comunistas são os principais organizadores da resistência e luta e são os portadores da alternativa de sistema ao capitalismo.

7. O capitalismo quer intimidar e reprimir, para continuar a explorar e dominar. Mas, na sua corrida desenfreada pelo lucro, o capitalismo é não só incapaz de resolver os grandes problemas da Humanidade e do planeta, como é o principal factor do seu agravamento. A realidade demonstra hoje com particular evidência, que o futuro da Humanidade não está nas contra-revoluções que há 20 anos varreram o Leste europeu. O futuro pertence ao sistema que irá derrotar e substituir o capitalismo: o Socialismo, cujas portas foram abertas pela grande Revolução de Outubro, faz agora 93 anos.

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