A propaganda pró-guerra de Bush e seus acólitos tem atingido insuportáveis níveis de mentira e demagogia. Na verdade o governo dos EUA procura justificar a injustificável guerra e esconder o que comanda esta ofensiva americana: o controlo do petróleo do Iraque e o domínio daquela região do globo. De caminho Bush dá uma mãozinha a Sharon na sua política de terrorismo de Estado contra o povo palestiniano afastando cada vez mais qualquer possibilidade de paz no Médio Oriente.
O papel do governo português e do primeiro-ministro Durão Barroso é particularmente lamentável. O primeiro-ministro assinou o famoso manifesto em defesa da guerra, em que oito líderes europeus prestaram vassalagem política ao seu homólogo americano e reafirmaram o seu apoio aos seus propósitos belicistas imediatos.
O debate no parlamento sobre esta questão foi particularmente violento. Perante perguntas concretas de várias bancadas exigindo a clarificação da posição do governo, a reacção de Barroso foi de uma enorme desorientação. Nunca assumiu expressamente aquela que é verdadeiramente a posição do governo português, isto é, a de que apoiará qualquer intervenção militar, mesmo de carácter unilateral, escudando-se na incrível (mas esclarecedora) justificação de que não é vantajoso para Portugal anunciar já a posição que terá no futuro. Aliás o governo português já autorizou, para eventuais intervenções militares, a utilização da base das Lajes pelos EUA.
Numa clara demonstração de falta de polimento democrático, acabou por acusar as bancadas que lhe ripostaram, de serem “advogados de Saddam”, afirmando de forma maniqueísta que nesta matéria não havia lugar para equidistâncias, entre a ditadura iraquiana e a democracia americana.
Só que não estamos perante uma escolha entre Saddam e Bush; estamos perante a escolha entre a paz e a guerra; entre o respeito pelo povo iraquiano e o seu sacrifício no altar dos interesses petrolíferos; entre a defesa do espírito de igualdade entre estados da Carta das Nações Unidas e a imposição da lei americana a todo o planeta.
Soam aliás a hipocrisia as preocupações actuais com as liberdades e direitos humanos no Iraque. É que ninguém as ouviu de Bush, dos governos americanos ou mesmo de Durão Barroso, quando Saddam era um ditador amigo do ocidente, de onde recebia apoio militar, enquanto massacrava o povo curdo e assassinava milhares de elementos da oposição democrática, designadamente muitos comunistas.
Espantosa foi ainda a justificação de Martins da Cruz para a posição do primeiro-ministro no referido manifesto. Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros a declaração de Barroso pôs Portugal nos “spotlights” noticiosos. É a versão diplomática do popular “é preciso é que falem de nós, mesmo que seja mal”.
Mas a verdade é que Portugal se prestigiaria, não alinhando no coro belicista dos advogados de Bush, mas sim defendendo com voz própria o caminho da paz.