Em nome do PCP queria saudar todos os presentes e saudar muito especialmente todos os que connosco dão corpo a este espaço provado de liberdade e democracia que é de facto a CDU – o Partido Ecologista "Os Verdes", a Intervenção Democrática e os inúmeros independentes que nesta coligação, lutam e participam com a sua voz própria enriquecendo com as suas experiências, os seus pontos de vista e as suas energias a nossa luta comum para uma viragem à esquerda na política nacional.
Os portugueses e as portuguesas não estão limitados entre terem de escolher entre duas políticas, que nas suas questões fundamentais e mais essenciais não só não se distinguem como assentam nos dogmas neoliberais.
Há outra opção. A de uma força que honra os seus compromissos e que apresenta uma política alternativa assente nos valores da esquerda.
É por isso que apresentando propostas e soluções concretas também daremos combate a todas as mistificações, encenações e jogos de espelhos com que se pretende escamotear o que está em causa nas duas eleições deste ano.
Daremos combate à politiquice e procuraremos que os problemas que afectam a nossa sociedade estejam no primeiro plano das nossas preocupações e da nossa intervenção.
Contra esta má opereta todos os dias montada pelo PS, PSD e PP e que desqualifica a acção política e entorpece a cidadania, contra essa zoada de palavras vazias e sem contacto com a realidade, impõe-se o regresso aos problemas reais e fundamentais do nosso país, uma forte sensibilidade e atenção ao que mais toca e afecta a vida dos portugueses, uma acrescida capacidade de indignação face ao que está mal e é injusto ou intolerável. Impõem-se propostas sérias para uma nova política que, como é mais necessário do que nunca, respeite e valorize quem trabalha, enfrente as causas e raízes dos problemas vários em vez de se limitar a distribuir umas aspirinas e esmolas e combata as desigualdades na distribuição da riqueza nacional.
Contra o culto exacerbado das diferenças de estilo como forma de esconder as semelhanças de política, impõe-se a reafirmação clara e persistente de que mudanças de estilo pode ter havido, mas não tantas como se diz, como bem se vê em tantas e tantas ressurreições dos tiques e truques do cavaquismo, seja na propaganda da chamada "estabilidade" e nas ambições de maiorias absolutas, seja nas orquestrações e encenações propagandísticas, seja no inauguracionismo e na política de cheque do Estado numa mão e apelo ao voto noutra, seja numa ocupação tão tentacular do aparelho de Estado que bem já pode proclamar-se no Congresso do PS que a frase "jobs for the boys" deve ser enterrada, uma vez que aquilo que já foi garantido não mais precisa de ser reclamado.
Contra as manobras anestesiantes e a rasura da memória, impõe-se a lembrança forte e activa desse dado fundamental, testemunhado em tantas decisões, acordos, convergências, de uma legislatura marcada pelo grande consenso entre o PS, PSD e PP nas opções fundamentais da política de direita.
Contra as operações de cosmética discursiva tendentes a dar à política do governo PS um verniz social, impõe-se a recapitulação firme e corajosa de que é na vigência de um governo do PS e debaixo da protecção da etiqueta "socialista" que o capital financeiro colhe das maiores vantagens e benefícios desta década e em que o supremo negocismo e a mais escandalosa satisfação de restritos interesses privados à custa de dinheiros públicos igualam ou superam as do período de 91 a 95.
Contra a valsa ensaiada de um falso conflito e de uma imaginária batalha de vida ou de morte entre a AD e o PS, impõe-se insistência forte e clara de que os portugueses e as portuguesas não se devem deixar aprisionar no falso dilema de escolher entre estes "adversários" que, quando não há eleições, logo regressam à sua amizade de sempre; de que os portugueses e as portuguesas só têm a ganhar em dar força e mais apoio aos que, como nós, lutam por uma alternativa a esta triste alternância ou sucessão entre partidos patrocinadores da mesma política de que os portugueses só têm a ganhar dando mais votos à CDU, dando mais votos à esquerda que resiste, constrói e propõe, à esquerda que diz o que faz e faz o que diz, à esquerda que tem a base de apoio social, a intervenção real na sociedade e nas instituições, a presença nas lutas do dia a dia de que podem pesar para a viragem à esquerda que faz falta na vida nacional.
Sabemos as dificuldades que vamos ter de enfrentar como castigo por não estarmos dispostos a entrar no redil da política de direita, por prezarmos a diferença que representamos na vida política nacional, por não nos vendermos à ditadura das falsas "inevitabilidades", aos dogmas dos "mercados" todos poderosos e do neoliberalismo, por não mercadejarmos convicções e valores, por continuarmos a acreditar e a ter esperança na capacidade criadora dos povos para forjarem novos caminhos e rasgarem novos horizontes para a emancipação humana.
Sabemos e estamos preparados. E por isso partimos para as eleições deste ano, com três grandes convicções:
– a convicção de que depende muito do nosso trabalho, da nossa determinação e do nosso esforço a conquista de um êxito eleitoral para a CDU;
– a convicção de que um maior número de portugueses e portuguesas, se quiserem ser justos, terão sólidas razões para dar o seu apoio à CDU, seja como protesto útil contra a política que lhe causa desgosto ou insatisfação, seja como apoio eficaz à construção de uma nova política;
– a convicção, melhor dizendo, neste caso a certeza, de que nenhum resultado eleitoral está antecipadamente decidido, que está nas mãos dos portugueses e das portuguesas darem, com o reforço da CDU, um sinal forte de uma opinião, de uma vontade e de uma reclamação para uma efectiva viragem à esquerda.
Neste acto de formalização da CDU queremos também apresentar os cinco primeiros nomes da lista ao Parlamento Europeu que terá na sua composição uma muito elevada participação feminina.
O PCP comprometeu-se publicamente a dar esse sinal inequívoco para o qual vem desde há muito preparando trabalho e como tem vindo a dar testemunho com uma presença crescente de mulheres nas suas listas eleitorais. Queremos nestas eleições que essa marca seja ainda mais visível e estamos a desenvolver esforços nesse sentido.
Mas antes de anunciar publicamente os cinco primeiros candidatos gostaria ainda de deixar dois sublinhados.
O primeiro, é que sem deixar de dar relevo a cada candidato individualmente considerado e nomeadamente, ao cabeça de lista, a CDU continua a considerar como valor primeiro, o trabalho de equipe, mutuamente enriquecedor, o que só é possível entre quem comunga dos mesmos ideais, entre quem entende esta candidatura não como uma disputa de lugares, mas como um colectivo fraterno que se entreajuda para melhor defender os interesses nacionais e um novo rumo para a construção europeia.
O segundo, é que a composição desta lista assenta numa grande experiência, com candidatos como os actuais deputados ao Parlamento Europeu, que têm atrás de si uma valorizada intervenção, que gozam de um justo prestígio e que são uma garantia de um trabalho sério empenhado e qualificado e em que o primeiro nome da lista é uma cidadã que ao longo da sua vida tem tido uma grande intervenção sindical, cívica e política, com uma experiência muito diversificada e com inúmeras provas dadas e que há muito acompanha as questões europeias.
Foi tendo por referência o quadro destes valores e estas preocupações que a CDU apresenta hoje Ilda Figueiredo, Joaquim Miranda, Sérgio Ribeiro, Manuela Cunha (pelo PEV) e Honório Novo como os cinco primeiros candidatos da sua lista ao Parlamento Europeu.
E é também com grande orgulho e contentamento que anunciamos que o nosso camarada José Saramago figurará no décimo lugar desta lista.
A estes nomes seguir-se-ão outros profundamente ligados ao mundo sindical e do trabalho, às actividades produtivas e grandes vultos da vida cultural do país.
É uma lista que constitui uma garantia segura de um trabalho qualificado e profundamente empenhado no Parlamento Europeu, uma garantia segura de que no Parlamento Europeu a CDU conjuntamente com outras forças comunistas, progressistas e ecologistas, que assinaram o "Apelo Comum por um novo rumo da construção europeia" continuará a ser a que melhor defende um Portugal de progresso e justiça numa Europa de diálogo de culturas, de "coesão económica e social", paz e cooperação.