Realizamos estas Jornadas Parlamentares num momento em que já ninguém pode pôr em dúvida os efeitos desastrosos que a aplicação do pacto de agressão, assinado por PS, PSD e CDS com a troika, está a ter no país e na vida dos portugueses.
Mais uma vez não nos enganámos. Como dissemos desde o início, aplicar uma tal política restritiva dos salários e das reformas, do investimento e do funcionamento dos serviços públicos, só podia conduzir, não só a uma severa degradação das condições de vida da generalidade dos portugueses, mas também à recessão económica, ao desemprego e, no final, à incapacidade para pagar uma dívida em boa parte aliás ilegítima.
É hoje evidente que, a manter-se este caminho, será esse o fim que nos espera. Sem melhores salários e reformas não se recupera o indispensável mercado interno; sem mais investimento não se garante o aumento da produção nacional; sem mais produção nacional e mais poder de compra não se cria mais riqueza; sem mais riqueza não se paga a dívida nem se equilibram as contas públicas.
Para alguns a crise é de facto uma oportunidade. Não para os desempregados com quer fazer crer, insensivelmente, o primeiro-ministro. É uma oportunidade para os que vão beneficiando de vultuosos recursos públicos que são ao mesmo tempo negados aos serviços de saúde, de educação e às atividades produtivas. É uma oportunidade para o grande capital nacional e estrangeiro arrecadar a propriedade e os lucros de mais empresas públicas, que deixam de estar ao serviço de todos. É uma oportunidade para o grande patronato aumentar a exploração de quem trabalha com mais horário e menos salário. É este oportunismo dos que há muitos anos ganham com a política dos seus governos que está de facto a aproveitar a crise.
Mas se não nos enganámos na previsão dos desastrosos efeitos que a aplicação da dose cavalar de política neoliberal e antissocial com que se comprometeram PS, PSD e CDS e que o atual Governo prossegue com determinação acrescida, também não nos enganamos quando dizemos aos portugueses que este caminho nada tem de inevitável e de que é possível, com outra política, inverter o declínio acentuado do nosso país.
O distrito de Leiria, onde pela primeira vez realizamos estas Jornadas Parlamentares, reúne características importantes para avaliar a situação atual e demonstrar as condições necessárias para sair da grave crise em que nos encontramos.
Um distrito com forte peso das atividades produtivas: indústrias quer com caraterísticas mais tradicionais quer de setores de ponta fortemente inovadores e virados para a exportação; uma agricultura e agropecuária com peso relevante; atividade pesqueira que resiste ao descalabro da política de pescas e está associada a uma fileira industrial como no caso das conservas; outras atividades com elevado potencial, como o turismo, o desporto ou a cultura e património.
Um distrito onde se sentem também fortemente as políticas de fomento do desemprego, de redução de salários e direitos dos trabalhadores, de encerramento, concentração e degradação de serviços públicos, de privatização de recursos importantes do Estado e das comunidades locais.
É aqui que procuraremos as propostas e iniciativas para dar corpo à exigência de uma nova política, patriótica e de esquerda, que resgate o país do afundamento. Aqui, bem perto do castelo de Leiria para onde D. Afonso III convocou as primeiras Cortes em 1254, antepassado longínquo do parlamento; aqui bem perto da Praça Rodrigues Lobo onde a 7 de Outubro de 1910 foi proclamada a República, cuja notícia tinha chegado por automóvel na madrugada de 6, apesar de já funcionar a linha do Oeste, agora ameaçada; ou do consultório de Miguel Torga, nos anos que passou nesta cidade - e que incluíram uma prisão na sequência da publicação de “O quarto dia da criação”- consultório onde acabou por tratar mais tarde um dos oito filhos de um dos polícias que o prendeu; aqui a poucos quilómetros do Pinhal de Leiria, exemplo secular de produção nacional e riqueza natural; aqui a poucos quilómetros do campo onde se travou a Batalha de Aljubarrota e se defendeu a independência e a soberania nacional.
É nesta região portanto que, hoje e amanhã, daremos corpo às propostas de defesa da soberania, de incentivo à produção nacional, de defesa dos serviços públicos, seja de transportes, seja de saúde ou educação, de resposta às necessidades dos portugueses e do país.
Obrigado.