Permitam-me iniciar esta intervenção saudando fraternalmente os amigos e camaradas aqui presentes e, particularmente, todos quantos com o seu empenho generoso e criativo contribuíram para que esta iniciativa assinale e celebre o 70º aniversário da Vitória de uma forma tão expressiva.
Culminando o imparável avanço do Exército Vermelho até Berlim, a Alemanha nazi assina a sua capitulação incondicional na noite de 8 para 9 de Maio de 1945. Pouco tempo depois, com a derrota do Japão, terminava a Segunda Guerra Mundial.
O dia 9 de Maio de 1945, cujo 70º aniversário agora comemoramos, passou à História como o Dia da Vitória, porque ele marca a derrota do nazi-fascismo e do seu hediondo projecto de exploração, opressão e domínio mundial e, desse modo, o fim da mais cruel e devastadora guerra imposta pelo imperialismo à Humanidade.
Ao assinalar o fim da Segunda Guerra Mundial não esquecemos os 60 milhões de mortos, na sua grande maioria civis, o horror dos campos de concentração e trabalho escravo, o massacre de populações inteiras, os cruéis sofrimentos e privações infligidos aos povos pelo nazi-fascismo.
Como não esquecemos que o nazi-fascismo foi a mais violenta e terrível forma de dominação de classe jamais gerada pelo capitalismo, que conduziu a Humanidade para uma das páginas mais negras e trágicas da sua História.
Evocar a Segunda Guerra Mundial é recordar que esta foi inseparável da maior crise do capitalismo até então conhecida e da ascensão do fascismo que foi promovida e apoiada pelo capital monopolista como resposta a essa mesma crise.
O fascismo constituiu a resposta dos círculos mais reaccionários e agressivos do grande capital ao ascenso da luta dos partidos comunistas e do movimento operário e às grandes movimentações de massas em prol de profundas conquistas sociais e transformações revolucionárias, inspiradas na Revolução de Outubro e nos êxitos, conquistas e realizações alcançados pela União Soviética que avançava na construção de uma sociedade nova.
Por detrás do nazismo, a mais brutal expressão do fascismo, estava o grande capital financeiro alemão que via no anti-comunismo e nacionalismo xenófobo nazi e no seu programa – de liquidação de liberdades e direitos democráticos, de militarismo e de expansão e domínio mundial –, o instrumento para concretizar a sua agenda de exploração e opressão. Cumplicidade e apoio do grande capital alemão à ascensão do nazismo ao poder, que foi acompanhada pela conivência das grandes potências capitalistas para com a Alemanha nazi, alimentando e sendo co-responsáveis pela criação das condições que levariam à guerra.
Mas se não esquecemos os crimes e o horror do nazi-fascismo e as causas da sua ascensão, temos igualmente presente o heróico e generoso exemplo de todos quantos resistiram e lutaram, entregando se necessário as suas vidas, para libertar o mundo da barbárie nazi-fascista – milhões de homens e mulheres, de jovens, a quem expressamos a nossa mais reconhecida e sentida homenagem.
E se evocamos os que resistiram e lutaram, é da mais elementar justiça, recordar e enaltecer o papel decisivo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, do seu povo, do seu Exército Vermelho e do seu Partido Comunista que, à custa de enormes sacrifícios e de mais de 20 milhões de mortos, suportaram o esforço fundamental da guerra dando o contributo determinante para a Vitória.
Não é demais recordar que foi na Frente Leste que tiveram lugar as maiores e mais decisivas batalhas da Segunda Guerra Mundial – como as de Moscovo, Leninegrado, Estalinegrado, Kursk ou Berlim – onde foi derrotada a esmagadora maioria das hordas nazi-fascistas.
Nada poderá apagar o facto de que foram a União Soviética, e o seu heróico povo, o principal obreiro da Vitória. Valorizando a importância e contributo da Coligação dos Países Aliados que veio a formar-se no decurso da Guerra, quando o Exército Vermelho passou à ofensiva, a verdade é que foram sistematicamente ignorados os esforços da União Soviética para isolar a Alemanha nazi e estabelecer acordos e alianças que impedissem o desencadeamento da guerra e, posteriormente, sucessivamente adiada a abertura de uma segunda frente.
Do mesmo modo, nada poderá apagar a luta heróica da resistência anti-fascista – como em França, em Itália, na Jugoslávia, na Grécia ou na China contra o militarismo japonês – que, enfrentando a mais cruel repressão e as retaliações mais brutais, resistiram corajosamente às forças de ocupação. Resistência onde foi valoroso e determinante o contributo dos comunistas que, com o movimento operário, num dos mais exaltantes exemplos de entrega à causa da liberdade, desde o primeiro momento e na primeira linha, impulsionaram a unidade das forças anti-fascistas para a resistência armada contra o nazi-fascismo, na qual milhares e milhares de comunistas entregaram as suas vidas.
A Vitória sobre o nazi-fascismo constitui um feito de uma extraordinária dimensão e alcance histórico, que determinou a evolução da situação mundial na segunda metade do século XX e que continua, 70 anos depois, a marcar profundamente a actualidade.
A derrota do nazi-fascismo e o grande prestígio alcançado pela União Soviética e pelos ideais do socialismo criaram uma nova situação no plano mundial.
Com o fim da Guerra irrompe, imensa e impetuosamente, a convicção e o anseio de que se abriria, a todos os povos do mundo, um novo tempo de paz e de liberdade. Milhões de seres humanos, outrora excluídos e despojados de qualquer intervenção política e social, tinham despertado para a luta, agarrando o futuro nas suas mãos.
À Vitória sobre o nazi-fascismo corresponde uma vibrante afirmação das forças anti-fascistas, da paz, da libertação nacional, da democracia, do progresso social e do socialismo, possibilitando um amplo e vasto avanço na luta pela emancipação dos povos ao nível mundial.
É com a nova correlação de forças resultante da Segunda Guerra Mundial, que se forma o campo socialista na Europa e na Ásia; que em África e na Ásia inúmeros povos se libertam da secular exploração e opressão colonial, levando à derrocada dos impérios coloniais; que o movimento operário alcança enormes conquistas sociais, económicas e políticas nos países capitalistas; que com a Carta e a Organização das Nações Unidas é instaurada uma nova ordem mundial fundamentalmente democrática, pacífica e anti-fascista – o que abre caminho a progressos e avanços libertadores nunca antes alcançados na História da Humanidade, que ainda hoje marcam a vida de milhões de homens e mulheres.
Avanço na luta de emancipação que se confrontou de imediato com a contra-ofensiva do imperialismo, de que os criminosos lançamentos pelos Estados Unidos das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki são terrível expressão.
Ao assinalar o 70º aniversário da Vitória sobre o horror nazi-fascista, impõe-se recordar o apoio da ditadura de Salazar às hordas franquistas na Guerra de Espanha e a sua colaboração com o fascismo italiano e o nazismo alemão durante a Segunda Guerra Mundial, colaboração encapotada sob a máscara de uma falsa «neutralidade».
Enquanto Salazar decretava luto nacional pela morte de Hitler, o povo português festejava a Vitória com grandes manifestações de alegria que expressavam a esperança de que a derrota do nazi-fascismo arrastasse consigo a ditadura fascista em Portugal.
Embora fortemente abalado pelas grandes lutas operárias que nessa altura tiveram lugar – como as greves de 1942 e de 1943 e a grande jornada pelo pão e pelos géneros em 1944 –, debilitado pela amplitude das manifestação do fim da guerra e da Vitória sobre o nazi-fascismo, o regime fascista português sobreviveu graças ao apoio das grandes potências capitalistas, ao ponto de Portugal se tornar, em 1949, membro fundador da NATO, aliança agressiva, expressão maior da denominada política de «contenção do comunismo» desencadeada pelo imperialismo com a «guerra fria».
Porém isso não impediu o desenvolvimento do movimento popular de massas, as grandes lutas operárias e dos trabalhadores e as grandes acções unitárias anti-fascistas em defesa da paz em que, no pós-guerra, se destacam as acções dos Partidários da Paz, o apoio ao Apelo de Estocolmo contra a bomba atómica e a luta contra a realização em Portugal da cimeira da NATO, num processo que se desenvolveu até ao derrubamento do fascismo, tendo na luta contra as guerras coloniais a sua principal expressão.
Com a Revolução de Abril, o fim das guerras coloniais e o reconhecimento do direito à imediata independência dos povos sujeitos ao jugo colonial português, o povo português deu uma contribuição inestimável para a causa da paz.
A Revolução de Abril foi, em si mesma, uma corajosa afirmação de soberania. Porém, as amarras com o imperialismo, embora fortemente golpeadas, não foram cortadas. 38 anos de política de direita amarraram o País à NATO e à União Europeia, fazendo de Portugal um País dependente submetido à estratégia do imperialismo. A luta em defesa da soberania e independência nacionais, pela ruptura com a estratégia de guerra e agressão do imperialismo, por uma alternativa patriótica e de esquerda que retome os caminhos de Abril, é a melhor contribuição que o PCP pode dar à causa da paz e da liberdade dos povos.
Comemorar o 70º Aniversário da Vitória é defender a verdade sobre o que representou a Segunda Guerra Mundial, combatendo as tentativas de reescrita e de falsificação da História e tirando ensinamentos para que jamais uma tal tragédia aconteça.
Como o PCP tem firmemente denunciado, com a insultuosa equiparação do fascismo com o comunismo – que equipara o opressor com o resistente ou o carrasco com a vítima – o que se pretende é esconder e, se possível, mesmo condenar o papel da União Soviética e dos comunistas na libertação dos povos da barbárie nazi-fascista; é ocultar uma forma de organização do Estado a que o capitalismo recorreu para assegurar a exploração e a opressão dos trabalhadores e dos povos; é escamotear as vergonhosas conivências e complacências dos círculos dirigentes das potências capitalistas perante os terríveis propósitos e ambições do nazi-fascismo; o que se pretende é reprimir, criminalizar, ilegalizar, não apenas os ideais e a acção dos comunistas mas de todos os democratas que se oponham à opressão e à exploração.
Como a realidade comprova, esta perigosa e despudorada falsificação da História está eivada de anti-comunismo. Anti-comunismo que, como a História mostra e alerta, é sempre anti-democrático. A defesa da verdade histórica confirma-se assim como um elemento integrante da luta não só dos comunistas, mas de todos os democratas e anti-fascistas.
Aliás, é por terem plena consciência do que significa e representa a Vitória sobre o nazi-fascismo para a emancipação dos trabalhadores e dos povos, que os círculos mais reaccionários e agressivos do imperialismo se lançam na monumental falsificação deste tão importante período histórico. Tentativas de falsificação que, tal como no passado, contam com silêncios cúmplices e activas conivências das classes dominantes e dos poderes que as representam.
Podemos mesmo constatar que quanto maior e mais vergonhosa é a falsificação dos acontecimentos em torno da Segunda Guerra Mundial, maior é a ânsia de esconder a capitulação do grande capital e dos seus governos perante o nazi-fascismo; de esconder que foram estes que promoveram o militarismo e a ascensão ao poder do nazi-fascismo; que foram estes que ficaram passivos perante as agressões fascistas à Etiópia, à Espanha republicana, à Áustria ou à Checoslováquia – com a sua política de capitulação em Munique –, assim como à Polónia, que abandonaram à sua sorte na expectativa de que a guerra se dirigisse contra a União Soviética, então, o único Estado socialista no mundo.
As sistemáticas e premeditadas tentativas de falsificação dos acontecimentos em torno da Segunda Guerra Mundial inserem-se no intento do imperialismo de fazer retroceder a roda da História.
70 anos após a Vitória, a situação mundial, distinguindo-se por importantes diferenças resultantes de novas realidades e das profundas transformações entretanto ocorridas, apresenta , no entanto, alguns traços semelhantes com a situação mundial que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.
Perante o avanço de forças fascistas, o crescimento do militarismo, a multiplicação de guerras de agressão imperialistas; perante os crescentes ataques a direitos, liberdades e garantias fundamentais a pretexto do «combate ao terrorismo»; perante a institucionalização de sistemas de poder supranacional ao serviço do grande capital e das grandes potências que, como na União Europeia, colocam em causa a soberania nacional e a democracia; perante o domínio imperialista dos fluxos de informação e o controlo dos grandes meios de comunicação social pelo grande capital, mais necessário se torna conhecer a verdade histórica e aprender com as lições do passado.
Na complexa e instável situação internacional dos nossos dias, o perigo de um conflito militar de grandes proporções, de uma nova guerra mundial, não deve ser subestimado.
Os sectores mais reaccionários e agressivos do grande capital apostam de novo no fascismo e na guerra como resposta para a crise do capitalismo e como forma de prevenir e enfrentar explosões de revolta social e de transformação revolucionária que inevitavelmente irromperão.
É por isso necessário prosseguir com determinação a luta para que tragédia semelhante àquela que há 70 anos terminou jamais aconteça – pois a guerra não é inevitável. Como sublinhamos, a par de grandes perigos para a paz e a liberdade existem também grandes possibilidades de desenvolvimentos progressistas e revolucionários, existindo forças que, se unidas e mobilizadas, podem forçar o imperialismo a recuar e abrir caminho a uma nova era de paz e progresso social, apontando o socialismo e o comunismo.
A realidade está aliás a comprovar que a resposta de força do imperialismo à crise do capitalismo se confronta com a resistência dos trabalhadores e os povos. Em vários pontos do mundo os povos resistem às ingerências do imperialismo e tomam nas suas mãos a defesa dos seus direitos e soberania, impondo das mais variadas formas revezes e recuos à estratégia de dominação imperialista.
70 anos depois da Vitória sobre o nazi-fascismo, a luta pela paz, contra o fascismo e a guerra, é de uma premente actualidade, exigindo que as forças da paz, da democracia e do progresso social se unam para travar o avanço de forças xenófobas, racistas, fascistas e impedir um conflito de grandes proporções.
Partido patriótico e internacionalista, o PCP continuará empenhado, em Portugal e no plano internacional, pela sua acção própria e no quadro do movimento comunista e revolucionário internacional e da frente anti-imperialista, em contribuir para a unidade na acção das forças da paz e do progresso social, nomeadamente, na luta em prol da dissolução da NATO; contra a militarização da União Europeia; pelo fim das bases militares estrangeiras; pelo desarmamento e, em particular, pela abolição das armas nucleares e outras armas de destruição massiva; pelo respeito da Carta das Nações Unidas e, em particular, da soberania dos Estados, assegurando o direito de cada povo a determinar, sem ingerências externas, o seu próprio caminho de desenvolvimento; e pela solidariedade com todos os povos vítimas da opressão e das ingerências e agressões do imperialismo, como com o povo ucraniano e o povo palestiniano.
Em Portugal, o reforço da luta contra a política agressiva do imperialismo, pelo desarmamento e a paz passa pelo combate e derrota da política de direita de submissão ao imperialismo, pela defesa e concretização de uma política alternativa patriótica e de esquerda, pela defesa intransigente da soberania e independência nacionais, por uma política externa e de defesa nacional que, no respeito pela Constituição da República Portuguesa, rompa com os constrangimentos externos que impedem a livre determinação da vontade do povo português e que promova a paz, a amizade e a cooperação com todos os povos do mundo.
É com esta convicção e profunda confiança que o PCP apela aos trabalhadores e ao povo português para que desenvolvam a sua luta emancipadora e para que façam da celebração 70º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo uma poderosa afirmação de unidade em defesa da Paz, contra a ameaça do fascismo e da guerra.