Intervenção de Ângelo Alves, membro da Comissão Política do Comité Central, XXI Congresso do PCP

A crise do capitalismo, a ofensiva imperialista, a União Europeia e a luta dos trabalhadores e dos povos

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Camaradas:
Nos últimos anos a situação internacional conheceu um sério agravamento. Acentuou-se a tensão internacional, aprofundaram-se injustiças e desigualdades, verificou-se o avanço de forças reaccionárias e mesmo fascistas, e o militarismo e a guerra continuam a ser o maior perigo com que a Humanidade se confronta.

Tal evolução tem fundas raízes na natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora do capitalismo, e emerge do incessante aprofundamento das suas insanáveis contradições que confluem no aprofundamento de uma crise estrutural que se manifesta em variados planos - desde o social ao económico, do ambiental ao político e cultural.

Vivemos um período de pandemia, e tudo está absolutizado nesse acontecimento. Mas os graves problemas que estamos a viver não nasceram com a Covid.

Não foi com a pandemia que nasceu o desemprego que afecta centenas de milhões de trabalhadores. É a exploração capitalista que dele necessita como exército de reserva.

Não foi a Covid que fez com que um punhado de multimilionários detenha a mesma riqueza que quase 4 mil milhões de pessoas. É a acumulação capitalista que gera a pauperização das massas.

Não foi a Covid que criou os quase mil milhões de pessoas com fome no Mundo. É o capitalismo que é incapaz de compatibilizar a gestão dos recursos e o desenvolvimento das forças produtivas, com as necessidades humanas.

Não, camaradas! As contradições do capitalismo não nasceram há meses. A Covid apenas as veio ampliar, impactar na realidade como um catalisador de tendências e expor a decadência e a natureza desumana do capitalismo - demonstrando mais uma vez a evidente incapacidade do capitalismo em dar resposta a problemas, necessidades e direitos básicos dos trabalhadores e dos povos.

Incapacidade essa ainda mais gritante quando os notáveis avanços da ciência e da técnica, que encerram enormes potencialidades, são usados não para o progresso social mas para intensificar a exploração, a concentração de capital e o ataque a liberdades e direitos fundamentais; ou quando o capitalismo, o responsável pelo agravamento dos problemas ambientais, os utiliza para novas fileiras de negócio que acentuarão ainda mais a crise ambiental.

A verdade, camaradas, é que a crise do capitalismo vem muito de trás, é quase tão velha como o próprio sistema. E ela aí está, a aprofundar-se, como é bem patente nas insuportáveis injustiças e discriminações; nas crises cíclicas da economia capitalista cada vez mais frequentes; na dificuldade em relançar significativos ciclos de acumulação e na cada vez maior financeirização da economia que amplifica as crises económicas e acentua o carácter parasitário e criminoso do sistema e fenómenos como a corrupção.

Uma crise que no plano político se manifesta com o cada vez maior descontentamento das massas, o descrédito do sistema político liberal burguês, a regressão cultural, o alastramento do obscurantismo, a crescente repressão, e a promoção das forças reaccionárias.

Uma crise que é cada vez mais palpável nos próprios centros do capitalismo e nas contradições que se agudizam no campo imperialista. Desde logo no continente europeu, com a profunda crise na e da União Europeia, bem expressa com a saída do Reino Unido, a multiplicação de crises, tensões e rivalidades, a crescente contestação popular e com a confirmação, pela prática, de que a União Europeia não constitui um espaço de solidariedade e cooperação, mas antes uma estrutura irreformável de imposições supranacionais e domínio imperialista, que alimenta assimetrias de desenvolvimento e forças reaccionárias, e que se articula, mesmo em tempos de arrufe temporário, com o imperialismo norte-americano e a NATO.

Relação essa cujas profissões de fé são agora repetidas após as eleições nos EUA, em que a nova Administração norte-americana se prepara para olear a máquina transatlântica e retomar (como não têm pejo de afirmar) a liderança mundial. Nada que nos deva surpreender. Se a não reeleição de Trump foi um elemento positivo para o povo dos EUA que deseja uma mudança, seria, no entanto, uma ilusão pensar que se iriam operar alterações de fundo, sobretudo na área da política externa. Pelo contrário, aquilo que está em cima da mesa pode ser a intensificação, com novas roupagens, da ofensiva imperialista.

Camaradas,

Os tempos que vivemos são de grande instabilidade, encerram grandes perigos, mas também reais potencialidades para o desenvolvimento da luta por transformações progressistas e revolucionárias.

Na sua ânsia de lucro e domínio as classes dominantes revelam insegurança. Estão inquietos com a insustentabilidade da situação social, com a instabilidade económica, com a contestação popular. Estão preocupados e inquietos com o complexo processo de rearrumação de forças no plano internacional que retira campo de manobra às principais potências imperialistas e abre perspectivas de alterações significativas nas relações económicas, comerciais e geopolíticas - nomeadamente com os avanços económicos, sociais e tecnológicos da China e a sua afirmação no plano internacional.

É neste contexto que o grande capital se desdobra em manobras para tentar conter a luta dos povos e impedir o desenvolvimento de países soberanos. Desde a promoção do fascismo, ao avanço do militarismo, à multiplicação de conflitos, ao ataque à democracia, à soberania dos Estados e à Carta das Nações Unidas, passando pela manipulação ideológica à escala de massas por via da comunicação social ou das redes sociais, o imperialismo desenvolve uma multifacetada e violenta ofensiva que tem como objectivos centrais manter o seu poder e retirar da perspectiva dos povos a necessidade e a possibilidade da superação revolucionária do capitalismo.

Uma ofensiva que no contexto da pandemia é acompanhada de uma barragem ideológica em torno de conceitos como o do “novo normal”, que as classes dominantes utilizam como cobertura para tentar acentuar a exploração e atacar direitos laborais, sociais e democráticos, e simultaneamente apresentar essa tentativa como um renascimento do capitalismo, limpo da sua história de crimes, injustiças, desigualdades e opressão.

Mas camaradas, isso é uma impossibilidade histórica. Por mais poderosa e perigosa que seja, e mesmo numa correlação de forças desfavorável às forças revolucionárias e progressistas, a ofensiva do imperialismo não é um sinal de força e vigor do capitalismo. Pelo contrário, é sinal da sua fraqueza, insegurança, decadência e do estreitamento da sua base social de apoio.

Eles bem podem tentar esconder, e têm meios para o fazer, mas o facto é que das mais diversas formas, em todos os continentes, adquirindo inúmeras expressões, o descontentamento e a luta dão o sinal de que a luta de classes se está a aprofundar de forma muito significativa. Eles bem podem tentar esconder, mas sabem que por todo o Mundo, desde Cuba à Palestina, da Síria à Venezuela, do Chile à Bielorrússia, da Bolívia ao Sahara Ocidental, da Índia à Colômbia ou Chipre, e em tantos outros países, os povos resistem, lutam, e muitas vezes impõem pesadas derrotas ao imperialismo.

A verdade, que eles temem, é que as condições objectivas para transformações progressistas e revolucionárias aí estão. E é por isso que acentuam o anticomunismo, atacam a democracia, restringem liberdades, recorrem ao fascismo e desferem ataques contra o nosso Partido e contra todas as forças e países que enfrentam o imperialismo.

A verdade camaradas, é que o capitalismo nunca foi, não é, e não será, o fim da História - por mais “humanizado” ou “verde” que o pintem.

A verdade, que aqui está presente neste congresso, é que o futuro dos povos, pertence ao Socialismo!

Um futuro que é construído com a luta de todos os dias, com o reforço do movimento comunista, e com projecto, audácia, determinação e confiança!

E de luta, determinação, audácia e confiança sabem bem este grande e corajoso Partido Comunista Português!

Viva o XXI Congresso
Viva a Juventude Comunista Português
Viva o Partido Comunista Português

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