Senhor Presidente, Senhores deputados,
O voto pelo centenário de José Saramago celebra a sua obra literária, profundamente marcada por um humanismo de intervenção, e o pensamento e a acção do intelectual empenhado na emancipação dos trabalhadores, numa visão universal e progressista da História e fiel, como militante do Partido Comunista Português, ao projecto de transformação socialista da sociedade.
Esses elementos não são estranhos à criação romanesca, nem à riqueza e profundidade da galaria saramaguiana de personagens – dos trabalhadores rurais do Alentejo de Levantado do Chão, à Blimunda Sete Luas de Memorial do Convento, da Joana Carda de A Jangada de Pedra à família de oleiros de A Caverna, para referir algumas de natureza ficcional, mas que são produto de uma aguda observação do real.
Esse ideal não esmoreceu com o prestígio global a que foi definitivamente alçado com o Prémio Nobel. Porque era de aço de boa têmpera, comprovado desde os tempos em que enfrentou o tenebroso aparelho repressivo fascista, como militante comunista e com as suas crónicas em A Capital, no Jornal do Fundão e no Diário de Lisboa (veja-se os volumes Deste Mundo e do Outro, A Bagagem do Viajante e As Opiniões que o DL Teve), ao subscrever o corajoso abaixo-assinado contra o projecto de Lei de Imprensa de 1971 e ao apresentar, no III Congresso da Oposição Democrática (Aveiro, 1973) a tese “Para o estudo da cultura e da informação em Portugal”.
As crónicas – género maior do jornalismo – foram a sua trincheira também em democracia, praticamente até ao fim da vida, em inúmeros jornais e revistas (recolhidas em Apontamentos e Folhas Políticas), destacando-se na defesa denodada da Constituição da República e das conquistas de Abril, assim como na denúncia da exploração e das desigualdades, em Portugal e no Mundo, e da opressão dos povos nomeadamente na América Latina.
Disse.