Os desenvolvimentos recentes na vida nacional confirmam o prosseguimento e a intensificação da política de direita pelo Governo PSD/CDS, presente nas suas opções de política económica e social e no ataque aos direitos e liberdades democráticas. É igualmente grave o envolvimento do Primeiro-Ministro e diversos membros do Governo em factos, que revelam a promiscuidade entre o exercício de cargos políticos e interesses particulares.
O Governo PSD/CDS optou pela concretização de uma política ao serviço dos interesses dos grupos económicos e das multinacionais, que promove o agravamento da exploração, das injustiças e desigualdades e submete os interesses nacionais às imposições da União Europeia.
É assim com o prosseguimento do ataque aos direitos e condições de vida dos trabalhadores, dos reformados, dos jovens, das mulheres; com os baixos salários e pensões; com o aumento dos preços de bens e serviços essenciais, nomeadamente dos alimentos e da energia; com o aprofundamento das dificuldades no acesso à saúde; com a falta de recursos materiais e humanos na Escola Pública; ou com as crescentes dificuldades no acesso à habitação.
E é assim com o aumento da injustiça fiscal, incluindo com a descida do IRC para as grandes empresas; a aceleração do processo de privatização da TAP, inserido num plano mais vasto de privatizações; a renovação e a preparação de novas Parcerias Público Privadas, na saúde, rodovia, ferrovia; um novo assalto aos recursos públicos pela multinacional Vinci a pretexto do Novo Aeroporto de Lisboa; a aceleração do processo de privatização dos cuidados de saúde e a entrega às Misericórdias da gestão de vários hospitais; a intenção de aumentar as propinas no ensino superior; o incentivo à especulação imobiliária com as alterações em matéria de política de solos; a transferência de mais recursos para o grande capital a pretexto de dificuldades na execução do PRR; um vasto programa de ataque à Segurança Social e ao seu carácter público, universal e solidário, com opções que visam a sua fragilização; novas ameaças aos direitos dos trabalhadores, incluindo no plano da legislação laboral; ou a mobilização de enormes recursos públicos, não para a defesa e concretização da missão constitucional das Forças Armadas de salvaguarda da soberania e independência nacional, mas sim para a escalada armamentista e a promoção da guerra.
O desenvolvimento da ação do Governo e a sucessão de factos que se acumulam envolvendo membros do governo e o próprio Primeiro-Ministro – sem novos elementos que dissipem ou sanem factos que continuam por esclarecer - não são obra do acaso. Traduzem e dão expressão a uma mistura entre exercício de funções públicas e interesses particulares, e à promiscuidade entre poder político e económico.
Para lá da gravidade de factos e acontecimentos deploráveis, importa não esquecer a questão essencial: a da política do Governo, que ao invés de resolver os problemas do País, é em si o principal e primeiro problema, e está na origem do agravamento da exploração, das injustiças e da crescente situação de vulnerabilidade dos trabalhadores, das famílias, da juventude e dos reformados e pensionistas.
A política e a prática do Governo revelam que este não pretende, nem está em condições de responder aos problemas nacionais e que em si é um fator de descredibilização da vida política.
As opções políticas prosseguidas e o Governo que as concretiza merecem e requerem uma clara censura. Emerge como questão essencial a necessidade de uma política alternativa, indissociável da defesa do regime democrático e do cumprimento da Constituição da República Portuguesa.
Assim o PCP apresenta esta moção de censura.
A Assembleia da República delibera, nos termos do artigo 194º da Constituição da República Portuguesa, censurar o XXIV Governo Constitucional.