Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Almoço/Comício «Faz das injustiças força para lutar! - mais salários e pensões, saúde e habitação»

«Tomemos a iniciativa, façamos com os trabalhadores, com o Povo, com amplas camadas e sectores, das injustiças, força para lutar»

Começo por saudar todos aqueles que estiveram e estão envolvidos nesta iniciativa, nomeadamente na confecção e realização deste belo almoço. 

Uma grande iniciativa deste generoso colectivo partidário, da sua força, empenho, entrega e militância.

Uma iniciativa que não se fecha em si mesma, traz para junto de nós pessoas, familiares, amigos, vizinhos, conhecidos, que não sendo, ainda em alguns casos, membros do Partido, aqui estão hoje connosco. 

A todos vós, sejam bem vindos. 

Sabemos que reconhecem que não nos limitamos só a fazer bons almoços, ainda que isso não seja coisa pouca. Reconhecem que temos objectivos em comum. Reconhecem o nosso trabalho, nas mais variadas instâncias, lugares e tribunas. Reconhecem a nossa seriedade e a nossa importância.

É também convosco que vamos avançar na construção por uma vida melhor, a vida a que temos direito.

Sabemos que sabem que é assim, porque estamos ao vosso lado todos os dias, nas empresas, nos centros de saúde, nas localidades, estamos e estaremos onde for preciso.

Uma palavra aos nossos adversários que continuam a querer dar-nos lições sobre o que dizemos, a quem dizemos, como dizemos, quando dizemos.

Dizem que falamos sempre dos trabalhadores. E quem mais falaria, se não o próprio Partido dos trabalhadores? Seriam aqueles que nos querem cortar o salário e nos conduzem ao empobrecimento? Seriam aqueles que tudo fazem para nos roubar direitos e que nos desregulam os horários e a vida? Seriam aqueles que o que têm para oferecer é apenas a precariedade, a insegurança e a instabilidade? Seriam aqueles que se colocam nas mãos dos grandes interesses e os servem de mão beijada?

Não, camaradas. Nós falamos sempre sobre os trabalhadores e continuaremos a falar e não nos vai faltar a voz, nem a voz nem a vontade de com eles lutar pelos salários, pelos direitos, pela dignidade e respeito que merecem.

Dizem que estamos sempre a falar do povo. É verdade, falamos e continuaremos a falar, porque dele fazemos parte. Somos parte deste povo capaz de realizações extraordinárias, como a Revolução de Abril. Uma realização tão extraordinária que passados quase 50 anos continua sob sucessivos ataques, é pôr os olhos nas tentativas que estão em curso de desvirtuar a Constituição da República, em vez de empenhar todas as forças na sua concretização na vida de todos os dias. E o povo sabe que esse ataque é dirigido contra si, contra a maioria, para proveito de uma minoria.

Sim, falamos e falaremos do povo, dos seus direitos e anseios, por muito que custe a essa minoria.

Dizem que nos voltámos agora para a juventude. Sim, estamos hoje voltados para a juventude, da mesma forma como sempre estivemos, voltados e ao seu lado pelo direito a estudar, pelo direito à cultura, ao desporto, ao lazer, ao trabalho com direitos, à habitação, ao direito a constituir família. 

Ao seu lado na luta contra a precariedade e os baixos salários. Voltados para a juventude porque este País também é para jovens.

Dizem que falamos para dentro. É verdade, porque quando falamos para dentro falamos para fora, falamos aos trabalhadores, ao povo, à juventude e a tantas e tantas outras camadas e sectores, falamos dos seus problemas, das suas vivências, da injustiça de que são alvo.  

Este almoço é boa prova  disso mesmo, uma acção aberta a toda a gente que connosco queira estar. Com as nossas paredes de vidro, falaremos sempre para quem nos queira ouvir, com a honestidade e a verdade que nos caracteriza.

Dizem que agora a luta voltou, como se alguma vez tivesse parado. Em que mundo andaram e vivem estes escribas? A luta parou? Que o digam os trabalhadores nas empresas e locais de trabalho, que exigiram melhores condições de trabalho, por contratos efectivos, por mais salários. 

Que o digam os reformados e pensionistas que exigiram melhores pensões e reformas, e dignidade em vida. 

Que o digam os estudantes que exigiram o direito a estudar, contra as propinas e por uma Educação Pública, gratuita e de qualidade. 

Que o digam os utentes que exigiram o cumprimento de todos e de cada um dos serviços públicos a que têm direito. 

A luta não foi de férias, a luta avançou e avança porque é dela e do seu sucesso que dependem os salários, a dignidade, os direitos e uma vida melhor.

Dizem que voltámos a ser um Partido de protesto. Sim, é verdade, de nós não esperem outra coisa que não seja um firme e determinado combate à política de direita, à política de empobrecimento e de assalto à nossa soberania. Somos um Partido de luta, sim, mas um Partido de projecto, de construção da alternativa e de soluções para o País. Um combate que é travado onde é e for necessário, nas empresas, nas ruas, mas também nas instituições, um combate que não se esgota na luta contra isto ou aquilo, vai mais além, é uma luta por todos e cada um dos direitos que são nossos pela construção de um País soberano e desenvolvido.

Dizem que estamos parados no tempo. Mas de que tempo falam eles? 

Apontem uma linha do nosso projecto ou propostas – uma linha que seja – que esteja desfasada da realidade dos milhares que trabalham ou trabalharam uma vida inteira? Apontem uma linha que seja contrária aos interesses dos micro, pequenos e médios empresários e agricultores. Apontem uma linha, uma proposta que sejam que esteja desligada dos anseios, direitos e ambições da juventude.

Façam esse exercício e depois venham falar em paragens no tempo. O que está parado no tempo, o que está e há muito ultrapassado, é o caminho de empobrecimento e de exploração. Se o futuro que têm para apresentar é este, então obrigado, mas não queremos.

Quanto mais próximo das pessoas estivermos, quanto mais esclarecimento fizermos, quantas mais lutas travarmos pelos problemas concretos, menos estes preconceitos terão espaço para se manifestarem.

Cada passo adiante que damos, mais os que nos atacam ficam a falar sozinhos e mais serão aqueles que se juntarão a nós. 

Aliás como vocês aqui bem sabem, com as 120 pessoas que, desde o ano passado, decidiram aderir ao Partido. 

Novas forças, novas energias, novos militantes que precisam de assumir tarefas e responsabilidades e, juntamente com o restante colectivo partidário, tomar nas suas mãos a construção do seu Partido.

Demos as voltas que quisermos, a política é feita de opções e compromissos, e sobre isso não temos dúvidas, há mais de 100 anos que o nosso compromisso é claro, com os trabalhadores e o Povo, um compromisso que a cada dia que passa ganha mais actualidade.

Mas se é assim para nós, também assim é para outros. Veja-se o que cada um propõe e a forma como vota.

Que dizer do PS quando ataca salários e pensões, não admite a fixação de preços do cabaz alimentar dando gás à especulação, quando recusa à juventude o passe gratuito, mais acção social escolar, apoio ao alojamento no Ensino Superior, quando se opõe aos limites nas rendas da casa e nos despejos, numa altura em que o Banco de Portugal anuncia de forma vergonhosa que a prestação média do crédito à habitação aumente mais de 30% até ao final de 2023.

Que dizer destas opções num momento em que os grupos económicos anunciam 4 mil milhões de euros de lucros nos primeiros 9 meses do ano. Que crise tão estranha é esta? Isto não é crise, é injustiça.

Tudo isto, e muito mais, foi rejeitado agora mesmo no Orçamento do Estado. Ficaram pior os trabalhadores e as populações, ficaram satisfeitos os grandes grupos económicos.

É preciso continuar a responder e pôr termo às injustiças. Precisamos de nos mobilizar e mobilizar outros para as muitas lutas que aí estão e que também aqui no distrito de Santarém têm expressão.

Aqui no distrito, onde os agricultores com empenho e esforço continuam a produzir alimentos de qualidade mas se confrontam com as barreiras decorrentes da Política Agrícola Comum e com as opções do Governo do PS que agora anuncia, na prática, o desmantelamento do Ministério da Agricultura. Depois de terem eliminado milhares de postos de trabalho, depois de terem amputado o Ministério da área das florestas, querem agora ou extinguir serviços ou integrá-los nas CCDR, que é o primeiro passo para a sua desarticulação. 

O que faz falta é mais proximidade e meios e não mais afastamento dos serviços de apoio aos agricultores.

E o que dizer da opção de recusa da aquisição e distribuição a preços justos, pelo Estado, dos factores de produção, tornando-o cúmplice do brutal e especulativo aumento, entre outros, dos fertilizantes em 300% ou do gasóleo agrícola em mais 80%.

Opções políticas do PS, apadrinhadas pelo PSD, Chega e Iniciativa Liberal, que destinam os apoios públicos não aos que trabalham a terra e ocupam o território, a pequena e média agricultura, mas aos mesmos de sempre, ao grande agronegócio e à agricultura superintensiva.

Opções de tapar os olhos perante a chantagem da grande distribuição, que continua a esmagar os preços à produção para depois exibir os maiores lucros de sempre. Sabemos bem como se atingem estes lucros, basta ir às compras para perceber.

Veja-se, há dias o Governo decidiu, e bem, avançar com medidas de taxação extraordinária sobre os lucros. 

Já tivemos oportunidade de referir que as medidas desde logo deixavam, injustamente, de fora o sector eléctrico, a banca e outros sectores que todos os dias vão anunciando lucros atrás de lucros, e que a fórmula avançada era muito limitada, ao contrário da proposta do PCP, que antevíamos que a sua aplicação concreta fosse muito pouco expressiva e que a montanha poderia mais uma vez parir um rato. 

Ora, mesmo perante esta limitada proposta do Governo, que faz cócegas aos milhares de milhões de lucros das grandes empresas, a grande distribuição avança para os tribunais para a contestar. O processo vai arrastar, o Governo vai calar, cada um de nós vai continuar a pagar e a grande distribuição vai continuar a inchar os seus lucros. 

Já sabemos que, quando toca a beliscar os interesses e os lucros dos grupos económicos, há sempre dificuldades, problemas e, acima de tudo, a opção de nada fazer. Já quando toca aos trabalhadores aos seus salários e direitos, sabemos bem o que a casa gasta. 

Mas daqui também afirmamos com grande confiança, que não tem de ser nem vai ser sempre assim. Abriremos os caminhos necessários para pôr fim a mais esta injustiça. 

Aqui no distrito onde também os utentes se mobilizaram pelo direito à saúde, particularmente pela garantia de mais médicos de família, o que se faz sentir de forma muito significativa, como mostram as acções em Alcanena, Salvaterra de Magos, Benavente e aqui em Torres Novas, na freguesia de Alcorochel. 

Acções com grande participação e envolvimento, lutas mais que justas num distrito onde faltam mais de 50 médicos de família e há cerca de 70 mil utentes sem médicos de família. Dificuldades que se confrontam com as benesses dadas ao negócio da doença, como é exemplo o Orçamento do Estado agora aprovado, e a transferência de largos milhares de milhões para os grupos privados que vêem na doença oportunidade de lucro.

Aqui num distrito com história e importância no sector ferroviário, um sector onde se sucedem planos atrás de planos, prazos atrás de prazos. É mais que justificado por parte das populações e dos trabalhadores, um certo cansaço com estas sucessões de anúncios.

Agora aparece um novo plano com um novo prazo, desta vez até 2050. Inverter o caminho de destruição a que o sector foi e está sujeito, travar o processo de liberalização, concretizar o que há muito está prometido, são condições para responder às necessidades, às muitas necessidades e urgência que está colocada a este que é um sector fundamental. 

Aqui no distrito onde também se sentem bem os problemas ambientais, a poluição dos rios e onde cada vez se torna mais evidente a necessidade de, tal como propomos e nos batemos, salvaguardar os recursos hídricos, o seu controlo e gestão públicos e garantir o direito do acesso à água.

Problemas concretos, ligados naturalmente às opções e políticas nacionais em todos os planos. 

Uma situação que urge alterar, a bem do distrito, a bem do País, a bem de todos.

Camaradas, os desafios que temos pela frente são mais que muitos. Mas creio que nenhum dos presentes estranhará que diga que o ambiente que se vive no Partido é bom, de confiança, de grande vontade e de grande entrega. E isso acontece, não por causa da acção individual ou de favores de alguém, mas por nossa causa, por nossa responsabilidade, pelo nosso trabalho colectivo. O mesmo trabalho colectivo que ergueu e fez acontecer uma grande Conferência Nacional, e à qual é preciso dar seguimento. 

Às suas conclusões, às linhas de trabalho que traçou, para que o seu sucesso se reflicta na nossa acção, se concretize no dia a dia, se traduza em progresso.

Temos condições para avançar, os trabalhadores, as populações e o País precisam que avancemos.

Sem menosprezar as dificuldades, tomemos a iniciativa, façamos com os trabalhadores, com o Povo, com amplas camadas e sectores, das injustiças, força para lutar. 

Um caminho de luta, sim, e que saudamos, mas acima de tudo um caminho de esperança, de construção e de apelo à participação de todos os que aspiram a uma vida melhor.

Daqui deixamos um apelo.

Olhem para o PCP por aquilo que é e não por aquilo que dizem que é.

Olhem para o PCP como o elemento de esperança e de futuro que é. 

Olhem para o PCP pelo projecto que defende, que é o vosso projecto, e não por aquilo que dizem por aí que queremos ou deixamos de querer.

Olhem para o PCP como o vosso instrumento de luta e de construção do direito a uma vida digna, olhem para o PCP como o portador da alternativa que responde aos direitos e anseios da maioria do nosso povo e que se coloca ao seu serviço.

Uma alternativa que queremos construir com a mobilização, o empenho, a criatividade e a participação de todos quantos nela se revejam.

Uma alternativa de valorização de quem trabalha, de salários, reformas e pensões dignas; uma alternativa que coloque os direitos das crianças e dos pais como elemento central  da sua acção; uma alternativa de defesa e exigência de mais e melhores serviços públicos; uma alternativa de combate determinado à guerra e pela defesa da paz e cooperação entre os povos; uma alternativa pela soberania e pela produção nacional; uma alternativa que é nossa mas é acima de tudo de todos quantos ambicionam uma vida melhor.

Tomemos então a iniciativa pela construção dessa vida melhor, passo a passo, em cada empresa, em cada localidade, em cada realidade concreta. 

Há forças, há vontade, há confiança e potencialidades.

Avançar é possível