Declaração de Jorge Pires, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, Declaração à imprensa

Sobre a mensagem de Natal do Primeiro-Ministro

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Nesta curta declaração o Primeiro-Ministro procurou pintar uma imagem do país que dificilmente os se portugueses reconhecerão nela.

Falou em confiança. Foi uma expressão que utilizou muitas vezes. Confiança no presente e confiança no futuro, mas a confiança passa por resolver o problema dos salários, passa por resolver o problema da inflação e do aumento dos preços no dia-a-dia que leva a uma diminuição sistemática do poder de compra por parte dos trabalhadores, dos pensionistas, dos reformados. Passa por resolver os problemas das injustiças sociais e, portanto, dificilmente os portugueses se reconhecem neste país que o Primeiro-Ministro pintou.

Confiança no futuro passa, por um conjunto de medidas que o PCP tem, há muito, vindo a reclamar e que sistematicamente o governo do PS recusa.

Nós temos vindo a exigir que se tome um conjunto de medidas para conter o aumento dos preços. Isso não se verifica. Enquanto os portugueses vão pagando essa essa especulação em torno dos preços, os grupos económicos vão ganhando cada vez mais dinheiro. Nós temos denunciado a situação que acontece no sector energético, no sector da distribuição, no sector da banca e dos seguros. Nós temos esta situação escandalosa que é a Galp, nestes primeiros nove meses do ano, ter lucrado mais de 600 milhões de euros e ter anunciado já que vai distribuir 900 milhões de euros pelos accionistas da empresa. Temos na banca, os cinco maiores bancos, que nos primeiros nove meses lucraram mais de 1300 milhões de euros, tal como as duas grandes empresas da distribuição tiveram mais de 500 milhões de euros de lucros nestes primeiros nove meses do ano.

Não se pode falar em confiança no futuro, olhando para esta situação e não tomando as medidas que são necessárias e a medida fundamental é o aumento dos salários e o aumento das pensões e das reformas e relativamente a isso, o Governo não tem feito aquilo que é necessário, o Primeiro-Ministro não falou nessa situação, mas é esta situação que preocupa os portugueses.

O país real, aquele que nós estamos a viver no dia-a-dia é com estas coisas que se preocupa.

Veja-se o aumento do salário mínimo para 760€. O PCP tinha proposto que agora, a partir do dia 1 de Janeiro, o salário mínimo pudesse passar por 850 €. Era uma medida de justiça social fundamental.

Veja-se o que se está a passar com as pensões e as reformas. Pela primeira vez, os os reformados e os pensionistas poderiam ter um aumento interessante das suas pensões e das reformas, aplicando a lei. Mas porque era assim, o Governo decidiu congelar a aplicação da fórmula e os pensionistas e os reformados vão ter um aumento inferior a cerca de 50% daquilo que deveriam ter, se a lei fosse aplicada.

Esta confiança no futuro e esta garantia de que "estamos a trabalhar para que os jovens tenham um futuro mais risonho". Mas como é que os jovens podem ter um futuro mais risonho? É com a contínua estratificação, por exemplo, no acesso ao conhecimento, levando a cada vez mais jovens, tenham dificuldades em chegar a níveis a patamares superiores do conhecimento? É a precariedade no trabalho que garante a estes jovens o futuro que eles necessitam? É a impossibilidade de constituírem família porque não têm possibilidades de pagar uma renda de casa e e poderem, a partir daí constituir família, terem filhos, etc.? Não, não é por aí.

O Primeiro-Ministro fez um esforço grande para dar uma imagem da situação que não corresponde à realidade que os portugueses sentem no dia-a-dia.