Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares,
Quando o Sr. Ministro anunciou ontem que viria falar sobre o reformismo do Governo, logo pressentimos que o que vinha fazer era uma intervenção justificativa da submissão deste Governo às orientações mais neoliberais, do liberalismo económico, que têm pautado a actuação do Governo nos últimos quatro meses. É verdade — justiça lhe seja feita — que o Partido Socialista e o Governo já se vão coibindo de utilizar aexpressão «esquerda», já vão esquecendo, mesmo no discurso, a afirmação, tão peremptória na campanha eleitoral e no iníciodo mandato deste Governo, de que eram um Governo e um partido que defendiam uma política de esquerda.E fazem bem!A afirmação de uma política de esquerda na vossa propaganda e campanha eleitoral, afinal, veio traduzir-se numa prática de continuação das políticas de direita, como vemos em vários exemplos. Se olharmos para o problema grave do desemprego, agora também acrescido dos saláriosem atraso, que só no primeiro semestre do ano totalizam já 3 milhões de euros, o que vemos?Um Governo preocupado com o combate ao desemprego e com a dinamização da criação de novospostos de trabalho? Não! Parece que o Governo está preocupado, sim, em mexer no subsídio dedesemprego para limitar o acesso a ele, conforme notícias que vão surgindo, repetidamente, nessa matéria. Perante a situação de enorme fragilidade em que o Código do Trabalho colocou os trabalhadoresportugueses, especialmente em relação à questão da contratação colectiva, com a iminente caducidadede alguns contratos colectivos de trabalho, o que vemos da parte do Governo do Partido Socialista?O cumprimento da sua promessa de manter as propostas que apresentou aquando do debate do Código doTrabalho nesta Assembleia? Não! O que vemos é a cedência perante os interesses do grande patronato,pondo em causa estes contratos colectivos de trabalho, alguns muito importantes e que continuam a estarameaçados.Quanto às privatizações, o que vemos? Não há melhor exemplo de continuidade política. Aí está o«novo velho» programa de privatizações, com a continuação da privatização de empresas fundamentais para a intervençãoestratégica do Estado na economia e na sociedade. Não se trata apenas de saber onde está o sectorprivado e onde está o sector público; trata-se, sim, da opção entre ter algum instrumento para intervir emsectores fundamentais da economia e da sociedade e abdicar de todo e qualquer instrumento para que oEstado e o Governo possam ter um papel interventivo e activo na definição das principais orientaçõespolíticas. Finalmente, o que vemos em relação à matéria do sistema fiscal? Parece que a orientaçãodo novo Ministro das Finanças, segundo a imprensa, é a de que é preciso uma alteração, na fiscalidade,mais amigável para o mercado de capitais, que, «pobrezinho», tem tido poucos incentivos nestes últimos anos! Este é, pois, o calendário reformista do Governo. Atrever-me-ia a dizer, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, que os senhores nem reformistas são.Quanto muito, têm uma acção transformista: transformaram um discurso de esquerda numa política quecontinua a política de direita.