O Conselho Europeu de ontem confirma, no essencial, a ausência de respostas aos problemas resultantes do surto Covid-19. A ausência de solidariedade da União Europeia é gritante. Desde logo, no mais básico: proteger a saúde das pessoas; salvar vidas; concertar esforços para adquirir, de acordo com as necessidades, equipamentos e material médico.
O pedido feito à Comissão Europeia para reunir informação sobre a situação nos vários países, e para dinamizar a contratação conjunta de material necessário, esconde situações lamentáveis, que se têm verificado nas últimas semanas: com violentos atropelos na corrida ao material disponível no mercado internacional; com a retenção arbitrária de equipamentos nas alfândegas de alguns países (material adquirido e destinado a outros países); bloqueios às exportações de material que alguns necessitam urgentemente. É nada menos do que a lei da selva, aquilo a que se assiste. É o cada um por si.
No plano das consequências económicas, o guião que agora é seguido parece decalcado da resposta à crise de 2008. Aí temos novamente os bloqueios, as contradições, os impasses no Conselho Europeu, as manifestações de intolerância e de arrogância, o empurrar com a barriga o que poderão ser reais soluções para ajudar os Estados-membros, o que contrasta com a agilidade das medidas de assistência ao capital financeiro, como as que foram de imediato desencadeadas pelo BCE.
Portugal e o povo português não podem correr o risco de ficarem novamente presos nestas contradições, de serem manietados por estes impasses. A factura, como muito bem sabemos, será pesada. Um país desprovido de soberania económica e monetária, com uma dívida colossal às costas e que é novamente empurrado para o endividamento, presa fácil dos especuladores, não terá condições para responder às suas necessidades, para proteger as pessoas, o emprego, os salários, a actividade produtiva, se ficar eternamente dependente de acções que outros não estão dispostos a tomar.
O que se impõe neste contexto é que, independentemente da resposta da União Europeia ou apesar dela, o país tome as medidas necessárias que se impõem para responder às suas necessidades, defender os seus interesses - os interesses dos trabalhadores e do povo.