A propósito do relatório hoje votado pela maioria do Parlamento Europeu
- elaborado por Elmar Brok (PPE) e Barón Crespo (PSE) - sobre o
denominado "roteiro para o processo constitucional da União", os
deputados do PCP ao Parlamento Europeu consideram importante
divulgar as seguintes considerações:
- A votação deste relatório insere-se numa inaceitável tentativa
para a recuperação do conteúdo essencial do "Tratado que estabelece uma
Constituição para a Europa", que foi rejeitado pelos povos da França e
da Holanda, o que, segundo as regras do actual Tratado, torna
impossível a entrada em vigor desta proposta; - A aprovação deste relatório configura um total desrespeito pela
decisão soberana dos povos daqueles dois países e pressupõe que o
conceito de democracia do PE não inclui o respeito pelas decisões
soberanas dos povos, expressa através do resultado dos referendos. - Esta situação demonstra que o chamado "período de reflexão"
serviu, afinal, para evitar a realização de mais referendos, por
recearem mais rejeições à dita "constituição europeia", e para procurar
encontrar a melhor forma de voltar à carga com o Tratado
Constitucional. Mas, ao contrário do que refere o relatório, a rejeição
do Tratado pelos povos da França e da Holanda não esteve relacionada
com o "contexto" da decisão, mas, sim, com a rejeição do aprofundamento
da actual integração capitalista da União Europeia, das suas políticas
neoliberais, da sua acelerada militarização e da centralização do poder
em instituições supranacionais, cada vez mais afastadas dos cidadãos, e
dominadas pelas grandes potências. - É inaceitável que o Parlamento Europeu procure chamar a si uma
legitimidade que não possui, procurando interferir sobre o calendário e
conteúdo do processo, tentando ingerir-se na decisão soberana dos
diferentes países, ao instá-los a coordenarem os seus processos de
ratificação, para que os mesmos sejam concluídos em simultâneo.
Os deputados do PCP ao PE reafirmam que:
- mantêm a mesma posição e disposição de luta, tendo em conta que,
mantendo o texto rejeitado - em versão "mini" ou "maxi" - se mantêm os
caminhos negativos para o futuro dos povos da UE, nomeadamente ao
impor-se o neoliberalismo como solução única, ao estabelecer o primado
da concorrência como orientação básica - promovendo as liberalizações e
privatizações, a redução de direitos dos trabalhadores e das
populações, no interesse das grandes potências e dos seus grupos
económico-financeiros - incluindo o seu inadmissível primado sobre a
legislação nacional, aprofundando o federalismo e o militarismo; - continuam a defender e a propor um novo rumo, que rompa com o
neoliberalismo, para responder aos interesses dos trabalhadores e dos
povos e não aos interesses do grande capital económico-financeiro, que
parta da cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos para a
concretização de objectivos comuns, na base da solidariedade e do
interesse mútuo, para resolver as desigualdades sociais, económicas e
regionais, que torne real a cooperação e a complementaridade das
economias e a sua convergência real, que promova o diálogo de culturas
e a paz. - qualquer proposta de Tratado deve ser submetida aos povos, em
referendos a realizar em cada um dos Estados-Membros, nas datas que as
respectivas instituições nacionais decidirem.