O declínio acentuado das condições de vida da população grega leva alguns especialistas a falar numa autêntica "tragédia". A expressão consta de um estudo divulgado no passado mês de Outubro, da responsabilidade de uma equipa de médicos britânicos liderada por Alexander Kentikelenis e David Stuckler, da Universidade de Cambridge, e Martin McKee, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Num artigo publicado na revista Lancet medical journal, citado pelo diário The Guardian (09/10/2011), o grupo de cientistas salienta que o corte de 40 por cento no orçamento dos hospitais, a par do empobrecimento de amplas camadas da população, está a traduzir-se numa preocupante deterioração dos índices de saúde pública. A penúria de recursos é agravada por um afluxo crescente aos hospitais, devido ao facto de que muitos perderam direito a esquemas privados de Saúde. Assim, entre 2009 e 2010, o número de atendimentos hospitalares aumentou 24 por cento e no primeiro semestre deste ano registou-se novo aumento de oito por cento, em comparação com o período homólogo. As longas filas de espera são desmotivadoras e muitos optam por não ir ao médico mesmo quando tal seria aconselhável. Assim, só entre 2007 e 2009, refere o estudo, aumentou em 14 por cento o número de gregos que qualifica o seu estado de Saúde como "mau" ou "muito mau".
Os cortes no sistema público de saúde levaram também a evoluções francamente negativas nos casos de HIV (com os cortes nos programas de trocas de seringas e cuidados primários). O disparo dos suicídios é igualmente alarmante. Nos primeiros seis meses do ano, segundo informou o ministro grego da Saúde, os suicídios aumentaram em 40 por cento face ao mesmo período de 2010.
Em face da gravidade do exposto, pergunto à Comissão Europeia:
1. Sendo evidente a relação entre a situação descrita e os programas de intervenção FMI-UE, pelos cortes que determinaram no sistema público de saúde e pela deterioração da situação económica e social que provocaram, irá a Comissão ignorar as consequências sociais deste programa por muito mais tempo?
2. Não considera necessário evitar evoluções idênticas noutros países, como Portugal, também sujeitos a programas de intervenção FMI-UE que prevêem cortes substanciais na área da saúde?