Intervenção de Bernardino Soares na Assembleia de República

A situação na Síria

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Lino Ramos,
Queria dizer, em primeiro lugar, que somos contra todo o tipo de violência na Síria, venha ela de quem vier, que tem vitimado civis em várias ocasiões.
Também é curioso que o CDS traga esta questão, mas sem nunca abordar quer outros gravíssimos problemas que há décadas existem no Médio Oriente, como é a questão da Palestina, da agressão e da ocupação por Israel, quer uma outra questão da própria Síria, que é o facto de, naquele país, estarem várias partes em presença e de a violência ter várias origens, existindo comprovadamente grupos armados ao serviço de potências regionais e de grandes potências internacionais que estão a intervir diretamente naquele território.
Aliás, o Sr. Deputado sabe bem, porque conhece estas questões, que, ainda há poucas semanas, houve um atentado contra uma manifestação que vitimou dezenas de pessoas, incluindo jornalistas ocidentais que lá se encontravam, manifestação, essa, que, por acaso, era a favor do governo. Portanto, quem fez o atentado há de ser alguém que não as forças que apoiam o governo.
Contudo, nesta matéria, o que interessa ao CDS e ao Governo português não é isso, mas, sim, legitimar mais uma intervenção militar, como aconteceu com a Líbia. É isso que está no vosso horizonte e, aliás, penso que o Sr. Deputado já falou um pouco demais, porque já assumiu aqui que, se isto não for lá com sanções económicas, vai lá com sanções militares, com intervenções militares.
Sr. Deputado, as bombas nunca trouxeram democracia a lado nenhum, nunca trouxeram progresso a lado nenhum!
E também não o fizeram na Líbia, que agora já foi esquecida. O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, na última reunião da comissão em que esteve, não respondeu a questões sobre a Líbia — a Líbia desapareceu! Mas sabem o que está a acontecer na Líbia, a tal que também justificou esta cavalgada militarista como estão a querer fazer na Síria? O que está a acontecer é que o país continua «a ferro e fogo», apesar de já não estar nas primeiras páginas dos jornais, e já lá estão 12 000 soldados norte-americanos a proteger a extração do petróleo, que era, afinal, a intenção democrática de intervenção naquele território!
O que os senhores fizeram na Líbia, os vossos governos e as vossas orientações, é o mesmo que querem fazer na Síria.
Sr. Deputado, não pode falar-se de comunidade internacional quando se aprovam intervenções militares à Líbia e, depois, quando a Rússia e a China não aprovam uma intervenção militar na Síria, falar-se de comunidade internacional sem a Rússia e a China. É um taticismo à medida da decisão, o que não lhe fica bem!
É preciso uma política que elimine, que resolva os conflitos no Médio Oriente, não uma política que agrave os conflitos no Médio Oriente, e esta escalada belicista só vai agravar os conflitos no Médio Oriente.
É isso que rejeitamos nesta política do nosso Governo e na política das principais potências ocidentais.

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