Pela Cimeira Rio+20 desfilaram os mesmos bloqueios e as mesmas contradições a que assistimos já noutras cimeiras.
A mais profunda dessas contradições nem sempre tem sido a mais visível. Mas é seguramente a mais decisiva.
O sistema económico e social dominante à escala mundial revela-se incapaz de assegurar a satisfação das necessidades mais básicas de milhões e milhões de seres humanos. E apesar disso, consome e degrada os recursos do planeta a uma velocidade muito superior à sua capacidade de regeneração natural. As rupturas são inevitáveis.
Perante isto, alguns entenderam ser altura de tirar um coelho da cartola: chamaram-lhe "economia verde"!
A indefinição e a ambiguidade do conceito têm servido todos os oportunismos. Até o daqueles que dizem querer salvar o ambiente sem mexer no sistema que o degrada e ameaça; que dizem querer combater a fome e outras chagas sociais, sem ir às suas causas profundas.
Um desenvolvimento genuinamente sustentável, assente numa relação sustentável entre o homem e a Natureza, não será possível sem questionar as leis e os dogmas do capitalismo. Por muito que o pintem de verde...
É necessário romper com um crescimento que sacrifica os recursos naturais e a força de trabalho, a energia criativa e transformadora do homem, à crescente acumulação do lucro - à apropriação privada da riqueza produzida.
Há que salvaguardar os recursos naturais, mas também a sua fruição democrática.
Defender a produção local, reduzindo a amplitude dos ciclos de produção e consumo. Travar a liberalização do comércio mundial, factor de incentivo ao aumento do consumo energético e da emissão de gases de efeito de estufa, para além das suas graves consequências no plano económico e social.
Proteger os ecossistemas naturais, terrestres e marinhos, recuperar ecossistemas degradados, valorizando o seu papel no ciclo do carbono.
Reduzir emissões de gases de efeito de estufa e outros poluentes, através de uma abordagem normativa e não de mecanismos que deixam estes objectivos ao sabor dos humores do mercado.
A luta por um planeta saudável está inseparavelmente ligada à luta por um mundo mais justo, pela valorização de quem trabalha e por uma sociedade que eleve os princípios da democracia acima das leis da dita economia de mercado.