Diz o povo: “casa roubada, trancas à porta”! Durante décadas, a UE aplicou as suas receitas neoliberais, contribuindo para a degradação dos serviços públicos, dos sistemas produtivos, das infraestruturas, do repositório de direitos, dos fundamentos de progresso presentes em parte dos seus Estados-Membros, em nome dos interesses do grande capital europeu. Não deixa, portanto, de ser irónico ver a produção das instituições da UE, sem assumir responsabilidades, focar-se na resolução dos problemas sociais, laborais, territoriais e económicos que assolam as suas sociedades. Irónico também porque a solução - a chamada transição digital, socialmente justa e ambientalmente sustentável - assenta paradoxalmente nos mesmos instrumentos de dominação, com mais ou menos maquilhagem social e ambiental. É isso que poderemos esperar da Cimeira Social que, em maio de 2021, se vai realizar no Porto e de onde sairá a Agenda Porto 2030.
Este relatório, que pretende enquadrar essa Agenda, tem elementos bastante positivos e progressistas, que devemos valorizar. Esperamos que as propostas assentes na promoção de direitos laborais e sociais, na solidariedade e na justiça, que os tempos que vivemos tornam essenciais, não se materializem depois em esquemas de redução de direitos dos trabalhadores e de soberania.