Como se lembra no relatório, de 1975 a 2000, o mundo conheceu cerca de 120 crises monetárias, que o FMI define como a depreciação de uma moeda em mais de 25%, durante um ano. Mas, lamentavelmente, mesmo sabendo que cada crise tem custos muito elevados para os países envolvidos, como ainda aconteceu com a crise asiática no verão de 1998, o relatório não apresenta medidas de fundo capazes de prevenir, com alguma eficácia, novas crises.
Dados do Banco de Pagamentos Internacionais mostram uma enorme aceleração da actividade financeira internacional, que quase duplica nos anos 90, aparecendo a especulação bolsista cada vez mais desligada da economia real, o que, aliado à aceleração da velocidade de circulação financeira, agrava a instabilidade, contribuindo para o agravamento do fosso entre países mais ricos e os países em vias de desenvolvimento.
Ora, o relatório, apesar das considerações e críticas que faz , designadamente relativamente à falta de democraticidade do FMI e à sua utilização pelos EUA e pelo G7, não adianta grande coisa quanto às alternativas. Pelo contrário, à partida considera ilusório esperar a criação, num futuro previsível, de uma organização das Nações Unidas que exerça plenos poderes universais de regulação e supervisão, quando devia ser esse exactamente o caminho fundamental a incentivar e prosseguir para conseguir relações internacionais justas, solidárias e democráticas, tendo em conta o desenvolvimento e o combate à pobreza.
Embora seja positivo que o relator reconheça que recomeçar do zero no sentido do crescimento e de luta contra a pobreza passa pela anulação da dívida dos países mais pobres, lamentável é que não avance com outras propostas concretas, designadamente uma taxa do tipo Tobin ou o combate aos paraísos fiscais, e a maioria no plenário tenha rejeitado tudo o que ia neste sentido.