As notícias sobre o Iraque mudam-se para a perversa e implacável contabilidade das mortes quotidianas. Os comentadores que partiram em guerra à busca das tais armas de destruição maciça («armas de persuasão maciça», chama-lhes o recente e devastador livro de Paul Rutherford!) emigraram agora para os comentários sobre as perspectivas eleitorais além-Atlântico. A segurança de há uns meses sobre a vitória do néscio residente na Casa Branca temperam-se com alguns receios - e justifica-se.
Os títulos em Washington ou Los Angeles não são tão voláteis como os de Lisboa e o atoleiro da tortura em Bagdad, Afeganistão ou Guantanamo ganha todos os dias mais uma lamacenta história. Foram as fotografias e os vídeos e a piedosa explicação de que se tratava de casos isolados. Depois, verificou-se que não só de isolados nada tinham como correspondiam mesmo à pura utilização torcionária dos cuidados de trato humano recomendados quando imbecilmente se propagandeava que os iraquianos receberiam a invasão de braços abertos.
Mas agora sucedem-se os «relatórios jurídicos» encomendados pela Administração Bush, do Pentágono à Casa Branca. E, como escreve Anthony Lewis, tais documentos «parecem as advertências de um advogado mafioso ao "padrinho" sobre como tornear a lei e evitar a cadeia».
O que Bush, Rumsfeld, Ashcroft queriam saber era como torturar impunemente. Quem pediu conselho a juristas não foi o carcereiro de Abu Ghraib, mas Bush e Rumsfeld.