Encontro Extraordinário de partidos comunistas e operários de países do Sudeste do Mediterrâneo, da Região do Mar Vermelho e do Golfo - Atenas. Manuela Bernardino, Membro do Secretariado do Comité Central e Responsável do Departamento Internacional
Avante Edição N.º 1709, 31-08-2006
Reunidos em Atenas nos dias 19 e 20 de Agosto, partidos comunistas e operários condenaram a agressão imperialista no Médio Oriente, solidarizaram-se com os povos em luta e apelaram à mobilização contra a guerra.
Tal como noticiámos na última edição do Avante!, o PCP marcou presença na iniciativa tendo-se feito representar por Manuela Bernardino, membro do secretariado do Comité Central e responsável pelo Departamento Internacional do Partido. No final do Encontro, foi divulgado um comunicado de imprensa cujo conteúdo e objectivos fundamentais ficam expressos nos extractos que a seguir transcrevemos:
«A convite do Partido Comunista da Grécia, realizou-se um Encontro Extraordinário de partidos comunistas e operários de países do Sudeste do Mediterrâneo, da Região do Mar Vermelho e do Golfo, no qual participaram a Tribuna Progressista Democrática do Bahrain, Partido Tudeh do Irão, Partido Comunista de Israel, Partido Comunista Jordano, Partido Comunista Libanês, Partido do Povo da Palestina, Partido Comunista do Sudão e Partido Comunista Sírio. O Encontro contou também com o Partido Comunista de Cuba, AKEL-Chipre, Partido Comunista Unificado da Geórgia, Partido Comunista Português, Partido Comunista da Federação Russa e Partido Comunista da Turquia, enquanto outros que não puderam estar presentes enviaram mensagens de apoio no decurso dos trabalhos.
«Os participantes condenam os EUA e outras potências imperialistas cuja política se baseia na exploração, opressão e violação de direitos democráticos e cívicos fundamentais. Esta política constitui a verdadeira causa dos conflitos e da instabilidade na região. Os comunistas e outras forças anti-imperialistas opõem-se fortemente a esta situação, lutando contra a guerra imperialista e contra a exploração, pelos direitos do povo trabalhador, pela paz, pela democracia e pelo socialismo.
«O encontro nasceu da necessidade de se fazer o ponto da situação, trocar opiniões e adoptar medidas de solidariedade com os povos do Líbano, Palestina e de outros países da região que lutam contra as injustas e agressivas operações militares de Israel e as tentativas de impor o plano dos EUA-NATO de um «grande Médio Oriente». Os participantes apontaram e condenaram a agressão israelita e as violações do espaço aéreo do Líbano, factos esses que provam que a resolução 1701/2006 do Conselho de Segurança da ONU encoraja a agressividade israelita.
«Os participantes, tendo em conta os desenvolvimentos recentes, manifestaram a sua preocupação sobre a escalada da agressividade israelita contra os palestinianos e outros povos da região.
«Perante esta situação, os participantes consideraram que o movimento internacional de solidariedade com os povos do Líbano e da Palestina, e mesmo de toda a região, deve ser ainda mais fortalecido, bem como o apoio à luta das forças progressistas da região em prol da democracia, liberdade e justiça social.
«Neste contexto, os participantes exigem:
- O cessar-fogo e a retirada imediata de todas as tropas israelitas dos territórios libaneses, incluindo as Quintas de Sebaa, e a libertação imediata dos prisioneiros libaneses. Condenam também a violação do espaço aéreo, das fronteiras terrestres e marítimas do Líbano e exigem o levantamento do bloqueio de Israel ao Líbano por terra, mar e ar.
- A retirada do exército israelita de todos os territórios da palestina, Líbano e Síria, ocupados desde 1967, o desmantelamento total dos colonatos, a demolição do muro israelita, bem como a criação do Estado palestiniano com a sua capital em Jerusalém Leste, lado a lado com Israel. O regresso dos refugiados palestinianos baseado na resolução 194 da Assembleia Geral da ONU e em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança.
- A libertação imediata por Israel de todos os prisioneiros políticos libaneses, palestinianos e outros árabes, e o levantamento imediato do cerco e bloqueio aos territórios palestinianos.
- A libertação imediata do Presidente do Parlamento palestiniano e de todos os deputados e ministros que foram feitos reféns por Israel.
- Um Médio Oriente sem armas nucleares.»
As formações políticas presentes no Encontro, discutiram e consideraram ainda a realização de várias iniciativas de solidariedade comuns ou convergentes, nomeadamente o envio de uma delegação conjunta de representantes de partidos comunistas e operários aos territórios do Líbano, Palestina e Israel.
PCP por uma «paz justa»
Presente em Atenas em representação dos comunistas portugueses, Manuela Bernardino sublinhou o valor, oportunidade e importância que o Partido atribuiu à iniciativa promovida pelos camaradas gregos, aproveitou a sua realização para manifestar a solidariedade com os povos e os partidos comunistas da região, e, no quadro da preparação do próximo Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, que terá lugar em Lisboa, nos dias 10, 11 e 12 de Novembro, estabeleceu contactos com vista ao sucesso da reunião.
Na intervenção proferida no Encontro, e tendo em conta os mais recentes desenvolvimentos no Médio Oriente, ficou claro que o PCP considera que fica demonstrado que esta é «uma ampla região-alvo dos interesses de domínio estratégico do imperialismo norte-americano», e que «uma solução de paz justa e duradoura para o Médio Oriente passa obrigatoriamente pelo reconhecimento do direito de todos os povos à sua soberania e independência, livre de ingerências externas.»
«Ora a força multinacional que se estabelecerá no Sul do Líbano continuará a constituir uma factor de instabilidade e não garantirá a independência do Líbano nem a segurança da região. E não esquecemos que a “solução” agora proposta não considera a ocupação dos territórios palestinianos como a questão central do Médio Oriente, não se podendo nunca falar de paz sem que se reconheça o direito do povo palestiniano à edificação do seu Estado livre e independente com capital em Jerusalém Leste, o desmantelamento dos colonatos e do “muro”, a libertação dos presos políticos das cadeias israelitas e sem atender ao problema dos refugiados», continua.
O PCP ainda expressou junto dos restantes partidos comunistas e operários presentes que «a questão palestiniana tem, pois, uma importância decisiva para a paz e estabilidade na região e para conter as pressões e possíveis acções do imperialismo contra a Síria e o Irão, há muito anunciadas, sempre na mira do total controlo dos recursos naturais e do fluxo de matérias-primas na região e, simultaneamente, para desviar a atenção do pântano em que se encontram as tropas norte-americanas no Iraque em virtude da tenaz resistência do povo iraquiano contra a ocupação, que valorizamos, e para com a qual entendemos ser necessário reforçar a solidariedade dos comunistas portugueses prosseguindo nomeadamente com a luta em Portugal pela retirada das tropas ocupantes».
Cuba não foi esquecida
Numa altura em que se desenrolam intensas campanhas de desestabilização e ódio anti-cubanas por parte da administração Bush aproveitando-se do estado de saúde de Fidel Castro, os partidos presentes em Atenas subscreveram também uma declaração de solidariedade com o povo cubano, gesto repleto de actualidade e confiança na revolução e na capacidade dos povos em decidirem livremente sobre o seu destino