A Assembleia da República aprovou recentemente por unanimidade, sob proposta de S. Ex.ª o PAR, um voto que assinalou o centenário do nascimento de Bernardo Santareno.
Desse voto consta o seguinte:
“Nascido em Santarém, a 19 de novembro de 1920, Bernardo Santareno – pseudónimo do psiquiatra António Martinho do Rosário – foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-se pela vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.
O seu primeiro livro de poesia, Morte na raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao Santo Padroeiro do lugar de Espinheiro, onde nasceram Pai e Avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.
Seguem-se Romances do Mar, em 1955, e, em 1957, Os Olhos da Víbora. É desse ano o livro Teatro, com as peças A Promessa, O Bailarino e A Excomungada – obra que o encenador e crítico António Pedro anuncia no Diário de Notícias digna de qualquer país moderno do mundo, profetizando que «(…) o maior dramaturgo de todos os tempos é um jovem médico embarcado na frota bacalhoeira portuguesa que usa o pseudónimo de Bernardo Santareno».
Levando à cena A Promessa no Teatro Experimental do Porto, pela mão do seu diretor, António Pedro, logo a censura a retira de palco, sob pressão dos setores mais conservadores da Igreja Católica. Inicia o percurso de dramaturgo sob o signo de forte polémica, tendo Bernardo Santareno sido perseguido pelos seus valores e ideias e o seu teatro alvo da censura.
Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958, embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo, profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.
No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão – causas do intelectual de esquerda que sempre foi, tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.
Personalidade de profunda cultura, acompanha a obra de Federico Garcia Lorca, contactando com o existencialismo de Sartre, com Ionesco, ou com Jean Genet, de quem foi tradutor e cujo teatro representou pela primeira vez em Portugal.
A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo nascimento se celebra, em 2020, o centenário – reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do mundo, abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade, nas instituições e no casamento.”
No ano de 2020 tiveram lugar diversas iniciativas destinadas a assinalar o centenário do nascimento de Bernardo Santareno, a que a Assembleia da República conferiu o seu patrocínio.
Recentemente, na cidade de Santarém, no lançamento de uma biografia da sua autoria com o título “Bernardo Santareno – da Nascente até ao Mar” o Doutor José Miguel Noras sugeriu publicamente a atribuição do nome de Bernardo Santareno ao Hospital Distrital de Santarém.
O PCP considera que essa proposta tem toda a pertinência e oportunidade e nesse sentido, nos termos da alínea b) do artigo 156.º da Constituição e da alínea b) do n.º 1 do artigo 4.º do Regimento, os Deputados do Grupo Parlamentar do PCP propõem que a Assembleia da República adote a seguinte resolução:
Resolução
A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição da República, recomendar ao Governo que seja atribuído ao Hospital Distrital de Santarém o nome de “Hospital Bernardo Santareno”.