Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Carlos Peixoto,
Antes de lhe colocar uma questão, não podemos deixar de registar que o Sr. Deputado abandonou uma expressão que utilizou há tempos, a de a nossa Pátria ter sido contaminada com a já conhecida «peste grisalha», para se referir aos idosos.
O PCP valoriza o papel de todas estas pessoas que se encontram em situação de reforma, que estão já em determinada fase da sua vida, mas que muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso País, e consideramos que todas as pessoas, todos os portugueses têm direito à dignidade, independentemente da fase da sua vida em que se encontrem.
A segunda nota é para referir que não acompanhamos, rejeitamos até, a conceção utilitária da natalidade e das camadas populares, que esteve subjacente em toda a sua intervenção.
Na nossa perspetiva, a constituição de família, assim como o número de filhos que cada família pretende ter, deve ser uma opção livre, planeada, ponderada da família. Mas não é isso que nós temos.
O Sr. Deputado, na sua intervenção, falou das questões da emigração mas não falou em nenhum momento dos problemas que hoje condicionam os jovens casais na decisão de terem filhos e que levam muitas vezes ao seu adiamento ou limitam a própria família na decisão de ter mais do que um filho, acabando por ter mesmo só um.
Onde é que está, na sua intervenção, a questão dos baixos salários? Onde é que está, na sua intervenção, a questão dos vínculos laborais e da precariedade que hoje é imposta aos jovens trabalhadores?
Onde é que esteve, na sua intervenção, a questão dos cortes nas prestações sociais, nomeadamente no abono de família e no subsídio de maternidade e de paternidade aos portugueses?
Onde é que esteve, na sua intervenção, a questão do aumento dos horários de trabalho e da desregulamentação horários de trabalhos?
Sr. Deputado, como é que hoje uma família, um jovem casal pode tomar esta opção de forma ponderada, planeada e de livre vontade, que é um desejo de muitas famílias do nosso País, quando, hoje, por exemplo, uma trabalhadora, uma auxiliar operacional, num hospital do Serviço Nacional de Saúde, muitas das vezes, após o seu turno, é-lhe imposta a realização de mais um turno? Quando é que isto é conciliável com a vida familiar, tema também aqui abordado pelo Sr. Deputado Raúl de Almeida?
Há que referir o seguinte: o Sr. Deputado diz que existem outras razões mas não tempo para as abordar. Pois bem, não lhe interessa abordá-las, porque elas têm o vosso cunho, são os senhores os responsáveis pelo facto de, hoje, os casais não poderem tomar uma opção livre quanto à família que querem constituir.
Sr. Deputado, gostaria de dizer que interessa, sim, responsabilizar os culpados por esta questão, porque desta forma os Srs. Deputados, quer do PSD quer do CDS, «sacodem a água do capote».
Sr. Deputado, diga aqui se estas são ou não questões determinantes na decisão da constituição de família e às quais o Sr. Deputado fugiu em toda a sua intervenção, não tendo querido assumir essa sua responsabilidade.