&quot;Urgência&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Por causa da questão da Casa Pia, nada se tem falado de um número indeterminado de cidadãos que se encontra detido há mais de um ano em Guantanamo, sobre os quais nada se sabe, que de nada estão acusados. Quase se ignora que o desemprego em Portugal não pára de crescer e aproxima-se (se não tiver já ultrapassado) o perigoso limiar dos 7%. Nada se diz sobre o facto de que, após a vergonhosa palhaçada das «provas» sobre as «armas de destruição» iraquianas, as tropas invasoras americanas ainda não conseguiram encontrar sequer uma seringa. Atribuem-se escassas linhas aos anúncios mais sombrios sobre o futuro que todas as semanas os responsáveis político-económicos da direita no Governo traçam e que são, de resto, a única coisa que fazem: perspectivas, nem uma. A Casa Pia ocupa por completo, na comunicação e nas consciências, o espaço de realidades tão determinantes para o nosso futuro colectivo como as leis dos partidos, o pacote laboral, as mudanças na segurança social, a privatização dos hospitais, o estrangulamento do ensino universitário. A política, a economia, a vida tornaram-se subsidiárias do escândalo.

Há razões humanas para que se espere uma justiça justa, mas também célere. E há também razões de interesse nacional.